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quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

CURIOSO DIÁLOGO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Tiptologia é uma forma de comunicação obtida pela sucessão de pancadas ou batidas curtas feitas em algum material rígido, usualmente madeira, produzindo ruídos. Os fenômenos que abriram caminho para o desenvolvimento das pesquisas encetadas por aquele que conhecemos como Allan Kardec, evoluíram dela para uma forma mais elaborada chamada tiptologia alfabética, na qual certo número de pancadas significava determinada letra do alfabeto ou determinado algarismo, de acordo com acerto prévio entre as duas partes comunicantes. No número de maio de 1868 da REVISTA ESPÍRITA, Kardec incluiu interessante material resultante dessa modalidade de intercâmbio entre duas Dimensões, que, como é obvio, dificulta sobremaneira fraudes ou charlatanismo. A matéria intitulada Impressões de Um Médico Materialista no Mundo dos Espíritos, contém oportunas e interessantes revelações, visto que, a todo momento desencarnam milhares de pessoas em nosso Plano Existencial, deparando-se com realidade inimaginada ou intencionalmente ignorada enquanto por aqui permanecem .No introito da sua abordagem, o editor explica: -“Numa reunião íntima de família, em que se ocupavam de comunicações pela tiptologia, dois Espíritos conversavam, manifestando-se espontaneamente, sem nenhuma evocação prévia, e sem que pensassem neles: um era um médico, que designaremos pelo nome Phillippeau, morto recentemente e que, em vida tinha se declarado abertamente o mais absoluto materialista; o outro era o de uma mulher que assinou Saint Victoire. É esse diálogo que reproduziremos a seguir. É preciso destacar que as pessoas que obtiveram essa manifestação não conheciam o médico senão por sua reputação, mas não tinham qualquer ideia de seu caráter, de seus hábitos, nem de suas opiniões; desse modo a comunicação, de maneira nenhuma, poderia ser o reflexo do pensamento delas, e isto tanto menos quanto, obtida pela tiptologia, era inteiramente inconsciente. Vamos ao diálogo entre os dois Espíritos: Perguntas do médico: -“O Espiritismo me ensina que é preciso esperar, amar, perdoar; eu faria tudo isso se soubesse como me haver para começar. É preciso esperar o que? Perdoar o que e a quem? Amar a quem? Respondei-me”. Resposta de Saint Victoire: -“Há que esperar na Misericórdia de Deus, que é infinita; há que perdoar aos que vos ofenderam; há que amar ao próximo como a si mesmo; há que amar a Deus, a fim de que Deus vos ame e vos perdoe; há que orar e lhe render graças por todas as suas bondades, por todas as vossas misérias, porque miséria e bondade tudo nos vem dele, isto é, tudo nos vem dele conforme o que tenhamos merecido. Aquele que expiou, mais tarde terá a sua recompensa: cada coisa tem a sua razão de ser, e Deus, que é soberanamente bom e justo, dá a cada um segundo as suas obras”. O médico: -“Eu queria, de toda minha alma, vos satisfazer, senhora, mas temo muito não o poder inteiramente; contudo, vou tenta-lo. Uma vez morto, materialmente falando, pensava que tudo estivesse acabado; então, quando minha matéria ficou inerte, fui tomado de espanto, ao me sentir ainda vivo. Vi homens a me carregar e disse de mim para comigo: Mas, entretanto, eu não estou morto! Então esses médicos imbecis não veem que eu vivo, respiro, ando, olho-os, sigo-os, a eles que vem ao meu enterro!...Que é então que enterram?...Então não sou eu...Escutava uns e outros: Esse Phillipeau, diziam eles, fez muitas curas; matou alguns; hoje é a sua vez; quando a morte chega nós ignoramos o tempo”. Por mais que eu gritasse: -“Mas Phillipeau não morre assim; não estou morto!”; não me escutavam, não me viam. Assim se passaram três dias; eu estava desaparecido do mundo, e me sentia mais vivo que nunca. Seja acaso, seja Providência, meus olhos caíram sobre uma brochura de Allan Kardec; li suas descrições sobre o Espiritismo, e me disse: Seria eu, por acaso, um Espírito? Li, reli e então compreendi a transformação de meu Ser; eu não era mais um homem, mas um Espírito!. Sim, mas então que tinha que fazer nesse mundo novo? Nessa nova Esfera? Eu vagava, procurava: encontrei o vazio, o sombrio, enfim o abismo. Então que tinha feito eu, ao deixar o mundo, para vir habitar essas trevas? Então o inferno é negro e foi nesse negro que caí? Porque? Porque trabalhei toda a vida? Por que empreguei minha vida a cuidar de uns e outros, a salvá-los quando minha ciência o permitia? Não! Não! Porque, então? Por que? Procura! Procura!.. Nada; não encontro nada”. Mergulhando em mais profundas reflexões, o médico, reconhece-se em “meio a longos combates em sua mente”. Admite que, no exercício de sua profissão, “a ambição era seu único propósito” Conclui, por fim, ter feito “ tudo ao contrário do que devia. Aprendeu, cursou a ciência, não por amor à ciência, mas por ambição, para ser mais que os outros, para que falassem de mim. Tratei do próximo, não para o aliviar, mas para me enriquecer. Numa palavra, fui todo para a matéria, quando se deve ser todo para o Espírito. Quais são hoje as minhas obras? A riqueza, a ciência; nada! Nada!. Tudo está para refazer”.


No Espiritismo diz que Jesus é filho e Deus é Pai. do mesmo modo que nós somos filhos de Deus. Logo, Jesus não é Deus, é nosso irmão: o dogma da Santissima Trindade, que aprendemos na Igreja, não existe no Espiritismo. Como é, então, que podemos entender quando Jesus afirmou “Eu e o Pai somos um”? (Leonilde Maciel da Silva)

De fato, Leonilde, o Espiritismo não tem dogmas. Dogmas – para esclarecimento dos ouvintes - são verdades ou afirmações que não podem ser contestadas pela razão; portanto, não podem ser discutidas. Apenas devem ser aceitas passivamente. Em Doutrina Espírita, porém, todas as idéias e concepções devem estar às claras ou, pelo menos, se for algo que ainda não podemos compreender de pronto, pelo menos, deve se basear em algum princípio lógico ou no bom senso. Do contrário, não podemos aceitar. Logo, não existe no Espiritismo a noção de trindade e muito menos de mistério.

Essa afirmação, atribuída a Jesus, de que “eu e o Pai somos um”, nós encontramos no evangelho de João, o último dos quatro evangelhos que, segundo os historiadores, foi escrito num período de transição entre o 1º e o 2º séculos de nossa era: ou seja, mais de 50 anos depois da morte de Jesus. João foi discípulo de Jesus e, na época, muito jovem; mas, também, foi o que teve vida mais longa, que lhe permitiu fazer um evangelho mais elaborado do que os anteriores. Consta que ultrapassou um século de vida. João sofreu muita influência da filosofia grega, sobretudo de Platão, de modo que seu evangelho, diferente dos demais, está impregnado de raciocínio e elocubrações filosóficas.

Ora, no capítulo 10 desse evangelho, vemos João se referindo ao episódio, que teria ocorrido durante a chamada Festa da Dedicação, diante do Pórtico de Salomão no Templo de Jerusalém. Jesus falava com judeus e encontrava dificuldades em convencê-los de que ele era portador de uma mensagem renovadora, a Boa Nova e que essa mensagem vinha de Deus. Naquela ocasião, ele pretendia que o povo entendesse o significado sublime de suas obras, que representavam a vontade do Pai. Foi quando disse, pela primeira vez, que “eu e o Pai somos um”.

Muita gente toma essa afirmação ao pé da letra, querendo dizer que Jesus estava dizendo que ele era o próprio Deus encarnado. A idéia não era nova. Alguns povos da antiguidade, muito antes de Jesus, já haviam concebido que, em determinados momentos de crise, seus deuses encarnavam na Terra para missões especiais. Tivemos os casos dos persas e dos egípcios, por exemplo. Agora, com a presença de Jesus, repetia-se a velha crença, mas esta interpretação, na verdade, não traduzia o verdadeiro sentido da fala de Jesus. Ao dizer que ele o Pai eram “um”, Jesus queria dar a entender que havia entre ele e Deus uma união espiritual de vontade e, portanto, o que ele fazia era a vontade de Deus.

No capítulo 17 do mesmo evangelho de João, Jesus prevendo a morte próxima, pedia ao Pai que perdoasse seus inimigos, mas que também aparasse seus amigos e seguidores, que se mostravam fiéis aos seus ensinos, dizendo: “Eu não rogo somente por eles (referindo-se aos inimigos), mas também por aqueles que crerão em mim por meio de sua palavra; para que sejam todos um, como tu, Pai, o és em mim, e eu em ti, para que também eles sejam um em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste.”

É oportuno notar com clareza a linguagem figurada de Jesus nesta oração. Portanto, fica muito claro que Jesus está falando não da identidade de pessoa (ele com Deus), mas da identidade de propósito, ou seja, “ele cumprindo a vontade de Deus”. Repare que ao dizer: “para que sejam todos um – como tu, Pai, o és em mim e eu em ti – para que também eles (referindo-se aos seus seguidores) sejam um em nós” - ou seja, Jesus está falando da união ou da comunhão com Deus, que todos nós, seus filhos, podemos vivenciar, a partir do momento em que nos dispomos a seguir, de fato, seus ensinos.

Logo, não é difícil perceber que Jesus falava dessa busca de Deus, não só através da fé, mas principalmente através da conduta de cada um em relação ao próximo, a quem precisa amar. Essa busca é o caminho da união com Deus, é o caminho da felicidade, e é também o que Jesus costumava chamar de “vida eterna”. Aliás neste mesmo capítulo, versículo 3, é ele mesmo quem diz o que é vida eterna. Preste atenção: “Ora a vida eterna é esta: que te conheçam como um só Deus verdadeiro e a Jesus Cristo a quem enviaste”.

É bom que se diga que o verbo “conhecer”, neste caso, não quer apenas ‘saber”, ‘tomar ciência’ ou ‘acreditar’, mas é sobretudo agir na vida diária conforme a santa vontade de Deus. E qual é a vontade de Deus? Que nos amemos uns aos outros, tanto quanto Jesus fez e faz em relação a todos os seus irmãos de humanidade, sacrificando-nos, se necessário, pelo bem de todos.









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