Absorvida nas preocupações do dia a dia, a criatura humana somente mergulha em reflexões mais transcendentes ante o impacto da dor física ou moral. A morte de alguém muito próximo é uma das mais perturbadoras. Seja para quem fica, seja para quem vai. O problema está presente em todas as épocas e Civilizações. No número de julho de 1862, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec reproduz uma mensagem assinada pelo Espírito de Verdade, cujo conteúdo é muito pertinente à essas considerações iniciais. Diz ele: -“Um homem passa pela rua. Uma telha lhe cai aos pés. Ele diz: -“Que sorte ! Um passo mais e eu estaria morto”. Em geral é o único agradecimento que envia a Deus. Entretanto, esse mesmo homem, pouco tempo depois, adoece e morre na cama. Porque foi preservado da telha, para morrer alguns dias após, como toda gente? Foi o acaso, dirá o incrédulo, como ele próprio disse: Que sorte!. Para que, então lhe serviu escapar ao primeiro acidente, se sucumbiu ao segundo? Em todo o caso, se a sorte o favoreceu, o favor não durou muito. A essa pergunta o Espírita responde: A cada instante escapamos de acidentes que, como se costuma dizer, nos deixam a dois dedos da morte. Não vedes nisso um aviso do céu, para vos provar que a vida está por um fio, que jamais temos certeza de viver amanhã e que, assim devemos estar sempre preparados para partir? Mas, que fazeis quando ides empreender uma longa viagem? Tomais disposições, arranjais os negócios, muni-vos de provisões e de coisas necessárias para o caminho; desembaraçai-vos de tudo quanto pudesse atrapalhar e retardar a marcha. Se conheceis a terra para onde ides, se lá tendes amigos e conhecidos, partis sem receio, certos de serdes bem recebidos. Caso contrário, estudais o mapa da região, e arranjais cartas de recomendação. Suponde que sejais obrigados a empreender essa viagem no dia seguinte, que não tendes tempo de fazer preparativos, ao passo que se estivésseis prevenidos com bastante antecedência, teríeis disposto todas as coisas para vossa utilidade e vossa conveniência. Então! Todos os dias, estais expostos a empreender a maior, a mais importante das viagens, a que deveis fazer inevitavelmente; e, contudo, não pensais nisto mais do que se tivésseis de viver perpetuamente na Terra!. Em sua bondade, Deus cuida de vós, advertindo-vos por numerosos acidentes, aos quais escapais, e só lhe tendes esta expressão: Que sorte! Espíritas, sabeis quais os preparativos a fazer para essa grande viagem, que tem para vós consequências muito mais importantes que todas as que empreendeis aqui na Terra, porque da maneira por que ela se realizar depende a vossa felicidade futura. O mapa que vos dará a conhecer o País onde ides entrar é a iniciação nos mistérios da Vida Futura. Por ela o País não será desconhecido para vós; vossas provisões são as boas ações que tiverdes realizado e que vos servirão de passaporte e de cartas de recomendação. Quanto aos amigos que lá encontrareis, vós os conheceis. É dos maus sentimentos que vos devereis desembaraçar, pois infeliz é aquele a quem a morte surpreende com ódio no coração como alguém que caísse na água com uma pedra atada ao pescoço, e que o arrastaria para o fundo. Os negócios que deveis por em ordem é o perdão àqueles que vos ofenderam; são os erros cometidos para com o próximo e que urge reparar, a fim de conquistardes o perdão, pois os erros são dívidas, de que o perdão é a quitação. Apressai-vos, pois, que a hora da partida pode soar de um momento para outro e não vos dar tempo para reflexão. Em verdade, vos digo: a telha que cai aos vossos pés, é o sinal a vos advertir, para estardes sempre prontos a partir ao primeiro sinal, a fim de não serdes tomados de surpresa”.
“ Quando Jesus diz para não julgar ninguém, ele quer dizer que nunca devemos criticar e, por isso, devemos aceitar tudo como está para ver como é que fica?
Nada disso. Quando Jesus recomenda “não julgar”, ele está se referindo ao hábito que temos de nos imiscuir na vida dos outros, sem sermos chamadas.
Por exemplo, falo mal do vizinho, porque o vizinho praticou um ato que eu desaprovo ou considerado errado. É claro que eu posso até estar certo quanto ao julgamento do ato em si, mas não me compete julgar o vizinho, se eu não tenho nada com isso e também não posso ajudá-lo.
O “não julgar” é, portanto, uma forma de condenar as fofocas e os comentários inconseqüentes, que se espalham com muita facilidade e só servem para denegrir a imagem das pessoas.
Esse costume de “falar dos outros” é o que conhecemos por maledicência. Tem um grave componente de irresponsabilidade da parte de quem fala, pois, pode ter conseqüências graves.
Todos sabemos que as más notícias se propagam muito depressa e, às vezes, um comentário desse tipo pode acarretar graves problemas.
Além do mais, nenhum de nós fica satisfeito quando recebe esse tipo de crítica. E, é claro, o que não queremos para nós, não devemos querer para os outros.
Chama-se indulgência a virtude de compreender as limitações e as fraquezas dos outros, sem divulgá-las.
Quanto à crítica em si, com certeza, ela não pode deixar de existir. Mas somente se obedecer a dois requisitos.
Primeiro, se é verdade; segunda, se é útil, ou seja, se vai beneficiar alguém ou a sociedade.
N’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, lemos que não devemos criticar apenas pelo prazer de criticar.
Devemos criticar quando a crítica servir para alguma coisa útil, quando uma providência se torne necessária e, às vezes, urgente.
Se o erro só prejudica quem errou, não há por que se comentar esse erro com os outros.
Mas, se o erro compromete outros, a nossa intervenção torna-se um dever, pois não podemos permitir que muitos se tornem suas vítimas.
Jesus é o maior exemplo de crítica construtiva. Ele não ficou calado, quando teve de falar, mas calou quando não percebeu que não devia falar.
Criticou, principalmente, os fariseus, em razão dos males que causavam ao povo. Mas jamais ele criticou em defesa de si próprio, nem mesmo na hora da condenação.
Sempre falou pelo seu ideal e pelo bem dos outros, principalmente dos fracos e abandonados, dos pobres e das vítimas de preconceitos.
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