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domingo, 26 de fevereiro de 2023

O ESPIRITISMO NAS PRISÕES; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Na pauta de fevereiro de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui um artigo motivado por uma carta por ele recebida de um condenado detido numa penitenciária francesa, exaltando as mudanças nele provocadas depois do conhecimento do Espiritismo. Em numero anterior ele já havia incluído a de outro segregado de outra instituição penal revelando reação semelhante. Alertando tê-la corrigido apenas quanto aos erros ortográficos, reproduziu-a integralmente. Diz a missiva: -“Senhor, há poucos dias, quando me falaram pela primeira vez de Espiritismo e de revelação de Além-Túmulo, ri, e disse que isto não era possível. Falava como ignorante, que sou. Alguns dias depois tiveram a bondade de me confiar, em minha horrível posição em que me acho agora, vosso bom e excelente LIVRO DOS ESPÍRITOS. A princípio li algumas páginas com incredulidade, não querendo, ou melhor, não crendo nessa ciência. Enfim, pouco a pouco e sem me aperceber, por ele tomei gosto; depois levei a coisa a sério; depois reli pela segunda vez o vosso livro mas, então com um outro espírito, isto é, com calma e com toda a pouca inteligência que Deus me deu. Senti então despertar essa velha fé que minha mãe me tinha posto no coração e que dormitava há longo tempo. Senti o desejo de me esclarecer sobre o Espiritismo. A partir deste momento tive um pensamento muito decidido, o de me dar conta, aprender, ver e depois julgar. Pus-me à obra com toda crença que se pode ter e que é preciso ter em Deus e seu poder; desejava ver a verdade; orei com fervor e comecei as experiências. As primeiras foram nulas, sem resultado algum. Não me desencorajei, perseverei em minhas experiências e, palavra, redobrei minhas preces, que talvez não fossem bastante fervorosas e me remeti ao trabalho com toda a convicção de uma alma crente e que espera. Ao cabo de algumas noites, pois só posso fazer as experiências à noite, senti, por cerca de dez minutos, frêmitos nas pontas dos dedos e uma leve sensação no braço, como se tivesse sentido correr um riachinho de água morna, que parava no punho. Eu estava então bem recolhido, todo atenção e cheio de fé. Meu lápis traçou algumas linhas perfeitamente legíveis, mas não bastante corretas para não crer que estivesse sob o peso de uma alucinação. Esperei então com paciência a noite seguinte para recomeçar as experiências e, desta vez agradeci a Deus, de todo o coração, pois tinha obtido mais do que ousava esperar. Desde então, de duas ou duas noites entretenho-me com os Espíritos, que são bastante bons para responder ao meu apelo e, em menos de dez minutos, respondem sempre com caridade. Escrevo meias-páginas e páginas inteiras, que minha inteligência não poderia fazer sozinha, porque, às vezes, são tratados filosófico-religiosos em que jamais pensei nem pus em prática. Porque, dizia-me aos primeiros resultados: Não será joguete de uma alucinação ou da tua vontade? E a reflexão e o exame me provavam que eu estava bem longe dessa inteligência que havia traçado aquelas linhas. Baixei a cabeça, cria e não podia ir contra a evidência, a menos que estivesse inteiramente louco. Remeti duas ou três mensagens à pessoa que tinha feito a caridade de me confiar o vosso bom livro, para que ela sancione se estou certo. Venho perdir-vos, senhor, vós que sois a alma do Espiritismo, de ter a bondade de me permitir vos envie o que obtiver de sério em minhas palestras de além-túmulo, se, todavia, achardes bom”. Adicionando alguns apontamentos ao teor da carta, comenta Kardec: -“As consequências morais deste fato se deduzem por si mesmas. Eis um homem que tinha abjurado toda crença e que ferido pela Lei, se acha confundido com o rebotalho da sociedade; e este homem, no meio do pântano moral, voltou à fé; vê o abismo em que caiu, arrepende-se, ora e, digamo-lo, ora com mais fervor que muita gente que exibe devoção. Para isto bastou a leitura de um livro onde encontrou elementos de fé que a sua razão pode admitir, que reanimaram as suas esperanças e lhe fizeram compreender o futuro. Além disso, o que é para notar, é que a princípio leu com prevenção e sua incredulidade foi vencida pelo ascendente da lógica. Se tais resultados são produzidos por uma simples leitura, feita, por assim dizer, às ocultas, o que seria se a ela se pudesse juntar a influência das exortações verbais! (...) Uma outra consequência a tirar do fato referido é que os Espíritos não são detidos pelos ferrolhos e que vão até o fundo das prisões levar suas consolações. Assim, não está no poder de ninguém impedir que eles se manifestem de uma ou de outra maneira. Se não for pela escrita, será pela audição; eles enfrentam todas as proibições, riem-se de todas as interdições, transpõem todos os cordões. Que barreira podem, então, lhes opor os inimigos do Espiritismo?


Pergunta formulada pela Maria do Socorro Sobral Marques, de Vila Araceli: “O que acontece com a pessoa que se mata?”


Cada caso é um caso, Maria do Socorro. Há situações em que essa decisão é pensada e planejada; há outras em que a pessoa é instigada ao suicídio e há outras, ainda, em que ela se encontra completamente perturbada. Entretanto, aquele que tira a própria vida, pensando apenas em se livrar de um problema, sofrerá uma grande decepção, além do arrependimento. A vida não acaba com a morte; acaba, sim, a vida do corpo, mas o Espírito sobrevive. É, então, que a pessoa vai perceber que não consegue fugir de si mesma.


Muitas vezes, não querendo enfrentar um problema, pensamos em desaparecer da vida, mas não levamos em conta que sempre carregamos os problemas conosco. Se, em vida, não temos coragem de enfrentá-lo, depois da morte a situação vai se complicar mais. Haverá um problema maior: a dor da decepção (que sofremos logo depois do ato), e o fato de termos comprometido o perispírito, que vai nos causar sofrimento.


Expliquemos melhor. Perispírito é o nosso corpo espiritual. Além do corpo de carne e osso, que presentemente ocupamos, todos temos o corpo espiritual – assim chamado pelo apóstolo Paulo e que, no Espiritismo, damos o nome de perispírito. Ao contrário do corpo físico, que é constituído de matéria, o perispírito é constituído de uma matéria tão sutil, tão delicada, que nossos sentidos não podem percebê-lo. Ela está fora dos padrões normais da matéria que conhecemos. O perispírito nos acompanha a vida toda, mesmo quando estamos encarnados, mas quando o corpo morre, ele se desprende e vai ter a forma pela qual o Espírito se identifica.


O perispírito ou corpo espiritual é muito sensível ao nosso pensamento. Se alimentamos um pensamento de destruição do corpo, ele se ressente disso; e, se matamos o corpo, ele sofre o impacto destrutivo da ação que lhe causamos, dependendo do tipo de morte que impingimos ao corpo. O suicida, geralmente, entra no mundo espiritual com o perispírito lesionado pela agressão que causou a si mesmo. Mais tarde, tende a sofrer as conseqüências do arrependimento, também em função do sofrimento que causou aos familiares e entes queridos, por causa de seu ato impensado.


Entretanto, a Lei de Deus é magnânima. Ninguém fica abandonado, nem mesmo o suicida. Embora, ele colha os efeitos nefastos de sua atitude impensada, ele terá outras oportunidades de se refazer, principalmente através de outras encarnações. É assim que funciona a misericórdia divina, pois vai nos colocar em condições de nos reerguer, levando-nos a novas experiências de vida, em que possamos desenvolver a coragem e a fé em Deus, no enfrentamento de qualquer problema.


Por isso, a ideia do suicídio nunca deve passar pela nossa cabeça. Devemos orar pelos que tiraram a própria vida, pois a nossa prece, embora não resolva o seu problema, pode ajudá-los muito. Ao mesmo tempo, devemos pensar no sofrimento e nas angustias das pessoas que chegam perto do suicídio, procurando ajudá-las com a nossa presença e o nosso apoio, a fim de que evitem se envolver num problema tão grave e difícil para o Espírito.



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