Fechando a edição de julho de 1863 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec apresenta mensagem obtida em Grupo Espírita da cidade de Sétif, na Argélia, em que o Benfeitor Espiritual identificado como Santo Agostinho esclarece dúvida acalentada por muitos sobre porque mensagens de conteúdos elevados ou reveladores são recebidas por médiuns que pessoalmente não demonstram nem cultura, nem conhecimentos, nem conduta que os credencie a ser porta-vozes de Espíritos Superiores? O Espiritismo, por sinal, ao definir a mediunidade como meio inerente a qualquer criatura humana, revela-a tão neutra como a inteligência, como os olhos que podem contemplar o belo e o feio, o certo e o errado. O conceito de moral, como se sabe, é extremamente relativo. Afirma o Instrutor Espiritual:-“Muitas vezes vos admirais ao ver faculdades mediúnicas, físicas ou morais e que, em vossa opinião deveriam ser prova de mérito pessoal, em criaturas que, pelo caráter moral, estão colocadas abaixo de semelhante condição. Isso se deve à falsa ideia que fazeis das leis que regem tais coisas, e que quereis considerar como invariáveis. O que é invariável é o objetivo. Os meios variam ao infinito, para que seja respeitada a vossa liberdade. Este possui uma faculdade; aquele, outra; um é levado pelo orgulho, outro pela cupidez e um terceiro pela fraternidade. Deus emprega as faculdades e as paixões de cada um, e as utiliza em suas esferas respectivas; e do próprio mal sabe fazer sair o Bem. Os atos dos homens, que vos parecem tão importantes, para ele nada são; é a intenção que, aos seus olhos, faz o mérito ou demérito. Feliz, pois, aquele que é guiado pelo amor fraterno. A Providência não criou o mal: tudo foi feito em vista do Bem. O mal só existe pela ignorância do homem e pelo mau uso que faz das paixões, das tendências, dos instintos adquiridos em contato com a matéria. Grande Deus! Quando lhe tiverdes inspirado a sabedoria para ter em mãos a direção desse poderoso móvel – a paixão – quantos males desaparecerão!. Quanto Bem resultará dessa força, da qual hoje não conhece senão o lado mau, que é sua obra. Continuai ardentemente a vossa obra, meus amigos; que, enfim, a Humanidade entreveja a rota na qual deve por o pé, a fim de atingir a felicidade que lhe é dado adquirir nesta Terra! Não vos admireis se as comunicações que vos dão os Espíritos elevados, inteiramente apoiadas na moral do Salvador, vô-la confirmando e a desenvolvendo, vos oferecem tantos pontos de contato e de similitude com os mistérios dos Antigos. É que os Antigos tinham a intuição das coisas do Mundo Invisível e do que deveria acontecer e que diversos tinham por missão preparar os caminhos. Observai e estudai com cuidado as comunicações que recebei; aceitai o que a razão não recusar; repeli o que a choca; pedi esclarecimentos sobre as que vos deixam na dúvida. Tendes aqui a marcha a seguir para transmitir às gerações futuras, sem medo de as ver desnaturadas, as verdades que separáveis sem esforço de seu cortejo inevitável de erros. Trabalhai, tornai-vos úteis aos vossos irmãos e a vós próprios. Nem podeis prever a felicidade que o futuro vos reserva pela contemplação de vossa obra”. Em comentário posterior, Allan Kardec observa: -“Esta comunicação foi obtida por um jovem, médium sonâmbulo iletrado. Foi-nos enviada por membro da Sociedade Espírita de Paris, residente em Sétif, informando que o sensitivo ignora o sentido da maioria das palavras e relacionando o nome de dez pessoas notáveis, presentes à reunião. Os médiuns iletrados que recebem comunicações acima do seu alcance intelectual são muito numerosos. Mostraram-nos há pouco uma página verdadeiramente notável, recebida em Lyon, por uma senhora que não sabe ler nem escrever, não conhecendo uma palavra do que escreve; seu marido, que é quase como ela, o decifra por intuição, no correr da sessão, o que lhe é impossível no dia seguinte. Outras pessoas a leem sem muita dificuldade. Não está aí a aplicação das palavras do Cristo: -“Vossas mulheres e vossas filhas profetizarão e farão prodígios?”. Não é um prodígio escrever, pintar, desenhar, fazer música e poesia que não se o sabe? Pedis sinais materiais? Ei-los. Dirão os incrédulos que é efeito da imaginação? Se o fosse, haveria que convir que tais pessoas tem a imaginação na mão e não no cérebro. Ainda uma vez, uma teoria só é boa com a condição de explicar todos os fatos. Se um só a contradisser, é que é falsa ou incompleta”.
Gostaria de saber o que são crianças índigo. (Adriana, Paineiras)
A expressão “criança índigo” nada tem a ver com o Espiritismo, Adriana. Ela foi criada pela americana Nancy Ann Tappe, quando publicou um livro intitulado “Entendendo sua vida através da cor” , no ano de 1982. A autora estava se referindo a aura ou campo energético que cada pessoa emite. Foi ela mesma que deu essa denominação “criança índigo”, referindo-se a crianças das novas gerações, cujas auras – segundo ela - emitem a cor índigo ou azul anil, que ela mesma disse observar. Essas crianças demonstram habilidades que vão além do mental e do emocional das pessoas comuns.
Mas a expressão “criança índigo” se propagou mesmo com uma obra mais recente, lançada em 1999, e escrita por Lee Carroll e Jan Tober. O título original do livro é “As Crianças Índigo: os Novos Garotos Estão Chegando”. A obra, na verdade, reúne artigos de diversos autores, todos eles se referindo ao nascimento de crianças notáveis, que apresentam um conjunto de características psicológicas incomuns e um padrão de comportamento ainda não classificado pela ciência. Esses autores acham que essas crianças são Espíritos, que chegaram para revolucionar o mundo. O livro apresenta orientações sobre a educação dessas crianças.
Cremos que ainda é muito cedo para avaliar essa teoria. Pelo menos, do ponto de vista da Doutrina Espírita, se não devemos rechaçar de vez as idéias novas, devemos ter muita cautela para não abraçar de imediato toda novidade que se apresenta, principalmente se ela vem envolvida por um halo de misticismo ou mistério. No entanto, a teoria a respeito do comportamento das crianças da nova geração é cativante e já ganhou muitos adeptos.
Os espíritas sabem, todavia, pela lei da evolução, que cada geração que nasce no planeta vem sempre para dar um passo adiante. Não fosse assim, a humanidade não teria progredido: se ela vem progredindo a cada geração é porque as novas reencarnações são de Espíritos mais preparados – e nem poderia ser diferente. Carroll e Tober, no entanto, descrevem essas crianças – que eles classificam como índigo - com características nobreza, extremamente seguras e, ao mesmo tempo, rebeldes, pois não aceitam facilmente as decisões dos adultos e não têm medo de dizer o que pensam.
Para esses autores, são Espíritos que vieram para transformar o mundo. Eles não são maus, como à primeira vista se poderia pensar, mas são firmes e seguros em suas decisões. Por isso, facilmente se confrontam com as posições e opiniões dos adultos, pois são portadores de uma visão nova do mundo. Como dissemos, não nos parece nada surpreendente que os Espíritos, que estão reencarnando agora, demonstrem ser mais avançados os que os de gerações anteriores. Mas devemos tomar cuidado para não exagerar e cair no misticismo. O Espiritismo, na verdade, nada tem a ver com a teoria das crianças índigo.
Você, com certeza, prezada ouvinte, está perguntando: por que as crianças de hoje são mais ativas do que as das gerações passadas? – do que as da nossa geração, por exemplo? . Por causa da lei do progresso, que é bem visível aos olhos de todos. Não é só o progresso material, mas o progresso da inteligência. Quanto mais o Espírito reencarna, mais ele se desenvolve Não é preciso buscar a origem desses Espíritos em outros planetas para explicar o comportamento das novas gerações, pois temos certeza de que a humanidade está progredindo moral e intelectualmente, como Allan Kardec deixou no claro no último capítulo de “A Gênese” , quando trata dos novos tempos.
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