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quarta-feira, 5 de julho de 2023

FATALIDADE; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

Estarão os acontecimentos mais marcantes de nossa vida realmente marcados para acontecer? Quase um ano após o lançamento d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, no número de março de 1858 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui a matéria A FATALIDADE E OS PRESENTIMENTOS, nascida da dúvida levantada por um correspondente sobre experiência pessoal na qual escapara de morrer mais de uma vez testemunhando, entretanto, desfecho trágico para quatro das pessoas – entre os quais dois religiosos -, que com ele viajavam, enquanto ele e outros três sobreviveram. Revelando ter escapado seis ou sete vezes da morte propôs algumas questões, respondidas por São Luiz, um dos orientadores do trabalho da Codificação Espírita: 1- Quando um perigo iminente ameaça alguém, é um Espírito que dirige o perigo, e quando dele escapa, é outro Espírito que o afasta? – Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; elegendo-a, estabelece-se uma espécie de destino que não pode mais conjurar, uma vez que a ele está submetido; falo das provas físicas. Conservando seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, o Espírito é sempre senhor de suportar ou de repelir a prova; vendo-o fraquejar, um Espírito bom pode vir em seu auxílio, mas não pode influir sobre ele de maneira a dominar sua vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe ou exagerando um perigo físico, pode abalá-lo e apavorá-lo, mas nem por isso a vontade do Espírito encarnado fica menos livre de qualquer entrave. 2. Quando um homem está na iminência de perecer por acidente, parece-me que o livre-arbítrio nada vale. Pergunto, pois, se é um Espírito mau que provoca esse acidente; se, de alguma sorte, é o seu agente; e, caso se livre do perigo, se um Espírito bom veio em seu auxílio? – Os Espíritos bons e maus não podem sugerir senão pensamentos bons ou maus, conforme sua natureza. O acidente está assinalado no destino do homem. Quando tua vida é posta em perigo, é uma advertência que tu mesmo desejaste, a fim de te desviares do mal e de te tornares melhor. Quando escapas a esse perigo, ainda sob a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos vivamente, segundo a ação mais ou menos forte dos Espíritos bons , em te tornares melhor. Sobrevindo o Espírito mau – e digo mau, subentendendo o mal que nele ainda persiste – pensas que igualmente escaparás a outros perigos, e deixas, de novo, tuas paixões se desencadearem. 3. A fatalidade que parece presidir aos destinos materiais de nossa vida também é resultante do nosso livre-arbítrio? – Tu mesmo escolheste a tua prova. Quanto mais rude ela for e melhor a suportares, tanto mais te elevarás. (...). 4. Compreendemos perfeitamente essa doutrina, mas isso não nos explica se certos Espíritos exercem uma ação direta sobre a causa material do acidente (...)? – Quando um homem passa sobre uma ponte que deve cair, não é um Espírito que o leva a passar ali, é o instinto de seu destino que o conduz a ela. 5. Quem fez a ponte desmoronar? – As circunstâncias naturais. A matéria tem em si as causas da destruição. No presente caso, tendo o Espírito necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para movimentar forças materiais, recorrerá de preferência à intuição espiritual. (...) O Espírito, digamos, insinuará ao homem que passe por essa ponte, em vez de passar por outro local. Tendes, aliás, uma prova material do que digo: seja qual for o acidente, ocorre sempre naturalmente, isto é, por causas que se ligam às outras e o produzem insensivelmente. 



Por que será que a gente tem tanta dificuldade de corrigir um defeito, por menor que seja, e muita facilidade para cometer um erro? Tem gente que fala que é porque todos nascemos com o pecado original. (Suely)


A Doutrina Espírita não admite o dogma do pecado original. Ela ensina que todos somos Espíritos em processo de evolução e que trazemos tendências do passado, que ainda não conseguimos superar. Se você pesquisar o passado da humanidade e correr os olhos no que veio acontecendo com o ser humano, desde os tempos da caverna até hoje, vai perceber que realmente existe um aperfeiçoamento lento e gradual da espécie humana. No passado remoto, milhões de anos atrás, éramos seres violentos e muito pouco inteligentes, como qualquer animal, usando a força bruta e lutando uns contra os outros para sobreviver. Hoje, já percorremos um longo caminho e estamos muito mais avançados do que o homem da caverna.


É claro que temos muitos defeitos, muitas arestas a acertar, porque não alcançamos ainda o ideal que buscamos. Mas já fomos piores do que somos hoje. Atualmente, no mundo civilizado, estamos aprendendo a conviver, a observar certas regras, aceitando um ao outro; lutando pelos nossos direitos, mas respeitando os direitos dos outros. Já diminuímos muito a intensidade de nossos conflitos, mas ainda não estamos insatisfeitos com a própria conduta moral. Certamente, porque almejamos mais: a evolução é um caminho longo e difícil, que vai exigindo um esforço cada vez mais de cada um de nós e da coletividade como um todo. Não foi Jesus que disse: “se perfeitos como perfeito é vosso Pai Celestial?”


Só o fato de aceitarmos que somos falhos, prezada ouvinte, já é um sinal de progresso. E o de reconhecermos que é difícil melhorar, outro sinal de progresso. Acontece que o caminhar evolutivo é cheio de obstáculos, e o maior obstáculo está dentro de nós. O que você me diz do egoísmo, do orgulho, da acomodação no erro? É claro que todos queremos melhorar: mas, entre querer e se esforçar para tanto, há grande uma distância. Uma coisa é o interesse, outra a vontade. Mas para que alcancemos uma meta mais ousada em matéria de aperfeiçoamento temos de aprender disciplina.


Foi isso que Emmanuel pediu ao Chico Xavier, quando ele começou a praticar a mediunidade: disciplina, disciplina e disciplina. Na verdade, a disciplina é o esforço concentrado numa meta que precisamos alcançar. E ela pode dar bons resultados, quando nos empenhamos suficientemente, a partir dos gestos mais simples. Precisamos programar melhor a nossa vida. Aliás, no dia-a-dia, estamos sendo solicitados a desenvolver pequenos hábitos que, se forem convenientemente observados, poderão nos ajudar. Por exemplo: pequenas atitudes em casa quanto ao trato com familiares, cuidados de higiene e limpeza, fidelidade aos compromissos, observância de horário, etc.


É claro que nada é fácil, porque temos de nos empenhar sempre. No entanto, se temos dificuldade de seguir um pequeno regime, que o médico nos passa, para evitar maiores problemas de saúde, quanto mais se se tratar de um defeito moral, como ser áspero com familiares, deixar de auxiliar um estranho ou, pior ainda, um amigo. Contudo, Jesus deixou bem claro que a única maneira pela qual vamos fazer as pazes conosco mesmos – ou seja, atender aos reclamos da própria consciência – é evitando o mal e fazendo o bem. Por isso, devemos começar sempre pelas coisas que já podemos fazer, valorizando e aproveitando cada minuto da vida.


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