Grande é o número de pessoas no Mundo Ocidental que atualmente admitem a ideia da reencarnação. Mas uma dúvida que pode ocorre naturalmente naqueles que buscam meditar sobre o assunto é: como isso pode ser útil? Em extenso artigo com que abre a edição de outubro de 1866 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec desenvolve alguns argumentos capazes de elucidar a questão. Diz ele:-“ Quem quer que haja meditado sobre o Espiritismo e suas consequências e não o tenha circunscrito à produção de alguns fenômenos, compreende que ele abre à Humanidade uma nova via e lhe desdobra os horizontes do infinito. Iniciando-os nos mistérios do Mundo Invisível, mostra-lhe seu verdadeiro papel na Criação, papel perpetuamente ativo, tanto no estado espiritual quanto no estado corporal. O homem não marcha mais às cegas: sabe de onde vem, para onde vai e por que está na Terra. O futuro se lhe mostra em sua realidade, isento dos preconceitos da ignorância e da superstição; já não é uma vaga esperança: é uma verdade palpável, tão certa para ele quanto a sucessão dos dias e das noites. Sabe que seu Ser não está limitado a alguns instantes de uma existência, cuja duração está submetida ao capricho do acaso; que a Vida Espiritual não é interrompida pela morte; que já viveu, que reviverá ainda e que de tudo que adquire em perfeição pelo trabalho, nada fica perdido; encontra em suas existências anteriores a razão do que é hoje, e do que hoje a si faz, pode concluir o que será um dia. Com o pensamento de que a atividade e a cooperação individuais na obra geral da Civilização são limitadas à vida presente, que nada se foi e nada se será, que interessa ao homem o progresso ulterior da Humanidade? Que lhe importa que no futuro os povos sejam mais bem governados, mais ditosos, mais esclarecidos, melhores uns para os outros? Uma vez que disso não tira nenhum proveito, para ele esse progresso não está perdido? De que lhe serve trabalhar para os que vierem depois, se jamais os deverá conhecer, se são seres novos que, eles também, pouco depois, entrarão no nada? Sob o império da negação do futuro individual, tudo se reduz, forçosamente, às mesquinhas proporções do momento e da personalidade. Mas, ao contrário, que amplitude dá ao pensamento do homem a certeza da perpetuidade de seu ser espiritual! que força, que coragem, não haure ele contra as vicissitudes da vida material! Que de mais racional, de mais grandioso, de mais digno do Criador que esta lei, segundo a qual a Vida Espiritual e a Vida Corporal não passam de dois modos de existência, que se alternam para a realização do progresso! Que de mais justo e mais consolador que a ideia dos mesmos seres progredindo sem cessar, primeiro através das gerações de um mesmo mundo e, depois, de mundo em mundo, até a perfeição, sem solução de continuidade! Assim, todas as ações têm um objetivo, porquanto, trabalhando para todos, trabalha-se para si, e reciprocamente, de tal sorte que o progresso individual e o progresso geral jamais são estéreis; aproveitam às gerações e às individualidades futuras, que outra coisa não são que as gerações e as individualidades passadas, chegadas a um mais alto grau de adiantamento. A Vida Espiritual é a vida normal e eterna do Espírito e a encarnação é apenas uma forma temporária de sua existência. (...) Os homens só viverão felizes na Terra quando esses dois sentimentos tiverem entrado em seus corações e em seus costumes, porque, então, a eles sujeitarão suas leis e suas instituições. Será este um dos principais resultados da transformação que se opera.
Se estou fazendo uma prova de concurso para conseguir um emprego, eu posso contar com a ajuda de meu guia espiritual? Será que, se eu rezar muito, ele pode me assoprar as respostas que devo marcar na prova? ( P.C.F.)
Acreditamos, que você já sabe o que vamos responder. É claro que não existe nenhuma possibilidade nesse sentido. Vamos dizer por quê. Primeiro, porque, ainda que o seu guia espiritual tivesse essa facilidade de se comunicar com você, indicando resposta por resposta, ele só poderia fazer isso, se soubesse, de fato, as respostas. Nesse caso, ele deveria ter estudado a matéria da prova, em seu lugar, para saber essas respostas. Do contrário, como iria saber?!...
Você poderia objetar, dizendo: mas ele pode ter acesso a essas respostas de outro modo. Como? – perguntamos. Negativo: os Espíritos não podem tudo. No plano espiritual também há ordem, organização e limites. Os Espíritos não podem ter acesso a tudo quanto queiram, assim como, entre nós, as pessoas que preparam as questões do concurso ficam impedidos de divulgá-las, se não quiserem que o concurso seja anulado. Portanto, essa possibilidade,que você levanta, está descartada. Nesse caso, nem um Espírito mal intencionado poderia lhe prejudicar, porque ele também não saberia as respostas erradas.
Além do mais, um Espírito protetor jamais a ajudaria a fazer o que não deve. Pelo contrário, ele a aconselharia a evitar qualquer tipo de fraude – uma cola, por exemplo, mesmo que isso lhe custasse a reprovação. Pois, o nosso protetor espiritual – que você chama de guia – é sempre um Espírito mais elevado do que nós, interessado unicamente em nos ajudar a aprender para crescer espiritualmente. Nesse sentido, é mais fácil um protetor tentar colocar um obstáculo à nossa frente – para aprendermos a superá-lo e podermos evoluir – do que tirar uma dificuldade de nosso caminho.
Como dissemos, o protetor sempre procura nos ajudar a crescer espiritualmente. O que ele pode fazer por você, no caso de uma prova de concurso, é estimulá-la a estudar o máximo que você possa, e, no dia do exame, ajudá-la a manter a calma, a serenidade, para se lembrar da matéria e poder, assim, optar pelas respostas corretas. Mas ele não pode fazer isso no seu lugar, pois, na maioria das vezes, nem ele sabe o que você estudou: quem deve saber é você.
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