A Revolução Industrial do século 19 sucedida pela Revolução Tecnológica do século 20 aliado à inconsistência de muitos dos argumentos da fé cega sustentada pelas escolas religiosas do século 20 conduziram a expressiva maioria dos integrantes da sociedade humana que habita o Planeta Terra na direção da tentativa de negação do seu lado espiritual ou mesmo a acomodação nos dogmas e princípios dominantes. A ânsia por respostas, contudo e , felizmente, vai provocando o surgimento de inúmeras pesquisas que conduzirão as gerações futuras na direção de uma visão nova do sentido da vida e da forma de se aproveitar a curta passagem do Espírito pelo corpo físico que como demonstra alógica dos fatos de data de validade, sendo abandonado em função do desgaste das peças que o compõem, da sobrecarga a eles impostos pelos exceções da alimentação, dos destemperos emocionais ou da deliberação de ilusoriamente se auto aniquilar pelo suicídio. O Estudo da Doutrina Espírita, contudo, revela serem momentos naturais no processo evolutivo a que todos os matriculados na escola, internados no hospital ou aprisionados nesta das “muitas moradas na Casa de Nosso Pai”, como comentado por Jesus. Em artigo incluído na edição da REVISTA ESPÍRITA, de julho de 1868 , Allan Kardec desenvolve alguns argumentos importantes que prognosticam um fato que vai ganhando cada vez mais autenticação no século 21. Escreve ele: -“O que, até aqui, deu força ao Espiritismo, o que dele fez uma ciência positiva e de futuro, é que jamais avançou levianamente; que não se constituiu sobre nenhum sistema preconcebido; que não estabeleceu nenhum princípio absoluto sobre a opinião pessoal, nem de um homem, nem de um Espírito, mas somente depois que esse princípio recebeu a consagração da experiência e de uma demonstração rigorosa, resolvendo todas as dificuldades da questão. Quando, pois, formulamos um princípio é que, de antemão, estamos certos do assentimento da maioria dos homens e dos Espíritos. Eis por que não temos tido decepções. (...) Não tememos empenhar a responsabilidade da Doutrina, porque a Doutrina a adotará se for justa, e a rejeitará, se for falsa. (...). Deixemos, pois, o materialismo estudar as propriedades da matéria; esse estudo é indispensável, e será feito: o espiritualismo terá apenas que completar o trabalho naquilo que lhe concerne. Aceitemos suas descobertas e não nos inquietemos com suas conclusões absolutas, porquanto, estando demonstrada a sua insuficiência para tudo resolver, as necessidades de uma lógica rigorosa conduzirão forçosamente à espiritualidade; e sendo a própria espiritualidade geral incapaz de resolver os inúmeros problemas da vida presente e da vida futura, será encontrada a única chave possível nos princípios mais positivos do Espiritismo. Já vemos uma porção de homens chegarem por si mesmos às consequências do Espiritismo, sem o conhecer, uns começando pela reencarnação, outros pelo perispírito. Fazem como Pascal, que descobria os elementos da Geometria sem estudo prévio, e sem suspeitar que aquilo que imaginava ter descoberto era uma obra realizada. Dia virá em que pensadores sérios, estudando esta doutrina com a atenção que ela comporta, ficarão muito surpreendidos de aí encontrar o que procuravam, e proclamarão todo feito um trabalho cuja existência não suspeitavam. É assim que tudo se encadeia no mundo; da matéria bruta saíram os seres orgânicos, cada vez mais aperfeiçoados; do materialismo sairão, pela força das coisas e por dedução lógica, o espiritualismo geral, depois o Espiritismo, que não é outra coisa senão o espiritualismo particularizado, apoiado nos fatos”.
Li num livro espírita que o planeta Marte é mais adiantado que a Terra. No entanto, há referencia de Kardec que seria mais atrasado. Como podemos interpretar essa contradição? (Miraide Pacheco Albero)
Em Doutrina Espírita, Miraide, precisamos tomar cuidado com as chamadas “revelações”, que alguns Espíritos costumam trazer, principalmente quando se tratam de revelações de impacto, ou seja, aquelas que são muito desejadas e que suscitam intermináveis discussões. Nesse sentido, todo cuidado é pouco. Todo livro, inclusive o livro espírita, deve ser lido – não apenas com o coração – mas, sobretudo, com a razão, a fim de que o leitor possa aprender a separar “o trigo do joio”, na linguagem evangélica.
É claro que um dos princípios básicos da Doutrina Espírita é a pluralidade dos mundos habitados. Sem a compreensão de que os habitantes da Terra não são os únicos no Universo, fica difícil sustentar outros princípios, como a reencarnação e a evolução espiritual. Todavia, obter informações sobre outros mundos, para nós, é ainda muito prematuro, porquanto o homem ainda não está satisfatoriamente preparado para isso, razão pela qual Espíritos – consagrados pela grande maioria – como Emmanuel e André Luiz, por exemplo, não se aprofundam nessa questão.
É bem verdade que Allan Kardec, em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, colocou algumas referências a Marte e Júpiter, que ele obteve em algumas comunicações. Mas o próprio Kardec apenas faz referência, não afirma convictamente de que isso é verdade, mesmo porque há Espíritos que, no afã de quererem adiantar alguma notícia, se propõe a revelar sua verdade, conforme a interpretação que dá dos fatos – o que, às vezes, não corresponde à verdade. Se você consultar O LIVRO DOS ESPÍRITOS, vai verificar que Kardec fez tais referências, a título de exemplificação, apenas em notas de rodapé e não no texto principal.
A verdade, Miraide, é uma conquista do homem, de conformidade com seu nível de evolução, e os mesmos critérios que a ciência utiliza para estabelecer a verdade, são aqueles que o Espiritismo também adota. Tanto assim que, n’O LIVRO DOS MÉDIUNS, Erasto, um Espírito orientador de Kardec, estabeleceu como um dos princípios da VERDADE ESPÍRITA o seguinte lema: “É preferível rejeitar nove verdades a aceitar uma só falsidade, uma só mentira”.
No segundo capítulo de O LIVRO DOS MÉDIUNS, ao arriscar uma classificação dos espíritas, Kardec chama atenção sobre o que ele chama de ESPÍRITAS EXALTADOS – aqueles que aceitam todas as informações dos Espíritos com muita facilidade, não se dispondo a examiná-las ou colocá-las em discussão. Kardec diz que essas pessoas acabam mais prejudicando que ajudando o desenvolvimento da doutrina, pois dão arma aos adversários, que se valem de sua pueril ingenuidade para dizer que o Espiritismo carece de base racional.
Felizmente, não é o seu caso, até porque você está levantando o problema, após ter pensado sobre ele. É assim mesmo que se faz, Miraide. Não devemos aceitar, nem tampouco rejeitar, qualquer verdade, sem primeira submetê-la ao crivo da crítica. É claro, estamos falando de uma crítica séria, sem maldade, sem malícia, mas de um espírito de pesquisa, pois a verdade não vem de graça para ninguém. Nós só a conquistamos, quando nos dispomos a buscá-la, onde estiver. Então, Miraide, vamos estudar e amadurecer o assunto. Com o tempo, ele vai se tornando mais claro e mais compreensível para todos nós.
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