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terça-feira, 22 de agosto de 2023

O ESPIRITISMO É OU NÃO UMA RELIGIÃO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

Má fé, ignorância, intolerância são alguns dos aspectos relacionados à resposta ouvidas das pessoas comuns sobre a pergunta: -“O Espiritismo é ou não uma religião? No número de dezembro de 1868, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec oferece elementos para reflexões a respeito. Argumenta ele: -“O verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças; consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé. (...). Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores! No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos por isto, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da Natureza. Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinião se levantou. Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral. As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto é, com o recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa; pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que, por isto, sejam tomadas por assembleias religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém senão da falta de uma palavra para cada ideia. Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade. A caridade é a alma do Espiritismo; ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes, razão por que se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade. Mas a caridade é ainda uma dessas palavras de sentido múltiplo, cujo inteiro alcance deve ser bem compreendido; e se os Espíritos não cessam de pregá-la e defini-la, é que, provavelmente, reconhecem que isto ainda é necessário. O campo da caridade é muito vasto; compreende duas grandes divisões que, em falta de termos especiais, podem designar-se pelas expressões Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todos, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à benevolência.


Dois irmãos brigam por causa de herança. Um acha que merece mais, porque foi ele que cuidou do pai até os últimos dias e quer que o irmão o recompense com uma cota maior. O segundo, porém, manteve-se intransigente quanto aos seus direitos perante a lei e se recusa a atender o irmão. Essa desavença durou muitos anos a ponto de eles não se conversarem mais. Pergunto: quem realmente está com a razão? Como o espírito do pai assiste à briga dos filhos? Será que, depois desta vida, eles saberão dizer quem realmente esteve com a razão?

A doutrina ético-moral do Espiritismo segue os ensinamentos de Jesus, e os ensinamentos de Jesus, na sua essência, ainda não são contemplados pelas leis humanas.

Desse modo, se seguimos as leis humanas, algumas vezes podemos transgredir a lei divina, pois a lei divina tem por meta o amor.

O único caminho que pode superar a lei humana é o da conciliação entre as partes, quando levamos em conta o sentimento das pessoas.

Fora disso, o que nos resta é seguir a lei, ainda que ela seja rígida e implacável e, aparentemente, possa fazer injustiça.

No caso em questão, não temos como julgar as verdadeiras intenções e os verdadeiros méritos de cada um dos filhos, pois não temos acesso ao sentimento das pessoas.

Para quem conhecesse o caso de perto, porém, o caminho indicado para se aproximar mais da justiça é o do entendimento, da conciliação, que a própria lei humana prevê.




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