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terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

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Até quando seu corpo físico desgastado permitiu Chico Xavier não deixou de exercitar a caridade em favor dos desventurados do caminho. Fora mais de oito décadas de compartilhamento do pouco que tinha e, mais à frente do que lhe entregavam para minimizar as penúrias de pessoas socialmente carentes do pão, da vestimenta, do abraço, da palavra amiga de esperança. Recordando como tudo começou Chico conta: -“Na noite de 10 de julho referido, dois dias depois de haver recebido a primeira mensagem, quando eu fazia as orações da noite, vi o meu quarto pobre se iluminar, de repente. As paredes refletiam a luz de um prateado lilás. Descerrei os olhos, tentando ver o que se passava. Vi, então, perto de mim uma senhora de admirável presença, que irradiava a luz que se espraiava pelo quarto. Tentei levantar-me para demonstrar- lhe respeito e cortesia, mas não consegui permanecer de pé e dobrei, involuntariamente, os joelhos diante dela. A dama iluminada fitou uma imagem de Nossa Senhora do Pilar que eu mantinha em meu quarto e, em seguida, falou em castelhano que eu compreendi, embora sabendo que eu ignorava o idioma, em que ela facilmente se expressava: - "Francisco - disse-me pausadamente - em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, venho solicitar o seu auxílio em favor dos pobres, nossos irmãos." A emoção me possuía a alma toda, mas pude perguntar-lhe, embora as lágrimas que me cobriam o rosto: - Senhora, quem sois vós? Ela me respondeu: - "Você não se lembra agora de mim, no entanto em sou Isabel, Isabel de Aragão." Eu não conhecia senhora alguma que tivesse este nome e estranhei o que ela dizia, entretanto uma força interior me continha e calei qualquer comentário, em tomo de minha ignorância. Mas o diálogo estava iniciando e indaguei: - Senhora, sou pobre e nada tenho para dar. Que auxílio poderei prestar aos mais pobres do que eu mesmo? Ela disse: - "Você nos auxiliará a repartir pães com os necessitados." Clamei com pesar: - Senhora, quase sempre não tenho pão para mim. Como poderei repartir pães com os outros?...!A dama sorriu e me esclareceu: - "Chegará o tempo em que você disporá de recursos. Você vai escrever para as nossas gentes peninsulares e, trabalhando por Jesus, não poderá receber vantagem material alguma pelas páginas que você produzir, mas vamos providenciar para que os Mensageiros do Bem lhe tragam recursos para iniciar a tarefa. Confiemos na Bondade do Senhor." Em seguida a estas palavras a dama se afastou deixando o meu quarto em pleno escuro. Chorei sob emoção para mim inexplicável até o amanhecer do dia imediato. Duas semanas após a ocorrência, estando eu nas preces da noite, apareceu-me um senhor vestido em roupa branca que, por intuição, notei tratar-se de um sacerdote. Saudei-o com muito respeito e ele me respondeu com bondade, explicando-se: - "Irmão Francisco, fui no século XIV um dos confessores da Rainha Santa, D. Isabel de Aragão, que se fez esposa do Rei de Portugal, D. Dinis. Ela desenvolveu elevadas iniciativas de beneficência e instrução nos dois reinos que formam a Península, conhecida na Europa, e voltou ao Mundo Espiritual em 4 de julho de 1336. Desde então, ela protege todas as obras de caridade e educação na Espanha e Portugal. Foi ela que o visitou, há alguns dias, nas preces da noite, e prometeu lhe assistência. Ela me recomenda dizer-lhe que não lhe faltará recursos para a distribuição de pães com os necessitados. Meu nome em 1336 era Fernão Mendes. –“Confiemos em Jesus e trabalhemos na sementeira do bem." No primeiro sábado que se seguiu às ocorrências que descrevo, fui com minha irmã Luíza até uma ponte muito pobre, na cidade onde nasci, conduzindo um pequeno cesto com oito pães. Ali estavam refugiados alguns indigentes; parti os pães, a fim de que cada um tivesse um pedaço, e assim foi iniciado o nosso serviço de assistência.


Nós, que já lemos vários obras de André Luiz e a vasta literatura recebida pelo médium Francisco Candido Xavier, sabemos que a passagem para o mundo espiritual pode dar-se de várias maneiras, dependendo das condições de cada espírito. Há Espíritos que passam consciente para o lado de lá; outros, completamente inconscientes. Entres estes, o que acordam em pouco tempo e os que permanecem até anos desacordados. Logo que desencarnam, principalmente, alguns permanecem no seio da família, que vão ao local de trabalho, porque sentem-se tão vivos, como sempre foram, que não se dão conta de sua passagem; isto até que sejam despertados. Cada um tem sua história. Outros são atendidos e levados para outras paragens da Espiritualidade.

Numa das obras de Irmão X, pela mediunidade de Chico Xavier, o autor espiritual, que foi um cronista, conta um episódio vivido por um Espírito amigo, que desencarnou consciente justamente nas vésperas de finados. Ele conta o drama pelo qual passou, pois estava consciente de sua desencarnação, participou do velório e acompanhou o féretro. Embora a natural curiosidade que teve em relação ao processo desencarnatório, o que ele mais sofreu foi o impacto do pensamento das pessoas presentes. Primeiro dos familiares, que não aceitavam sua partida. Depois, dos curiosos, que queriam saber os detalhes. Isso sem falar em pessoas que se antipatizavam com ele, inclusive, pessoas para quem ele devia algum dinheiro. Mas o impacto maior ocorreu quando o féretro adentrou o cemitério, pois, como era Dia de Finados, uma grande multidão se fazia presente. A maioria das pessoas, que visitavam o cemitério, também não estava ali por respeito ou compromisso com os mortos, mas apenas para espairecer, passear, rir, contar piadas, falar de política, futebol., novelas, etc. Um séqüito enorme de Espíritos as acompanhavam e muitos deles iam ali para fazer arruaça, também pouco ou nada interessados no espírito de homenagem aos que partiram deste mundo. Como ele acompanhava o próprio enterro, quando chegou, logo foi abordado por Espíritos gozadores, que lhe dirigiam piadas ou faziam até ameaças e que foram ali levados pelos curiosos e descompromissados. Havia, é claro, Espíritos sérios, agradecidos aos seus familiares, ligados a eles por laços de afetividade e carinho, mas a grande maioria não tinha nada a ver com a comemoração de Finados. No final do relato, ele conclui que, na verdade, o melhor dia para desencarnar e ser sepultado é um dia de chuva, onde vai pouca gente ao cemitério e, com certeza, aquelas pessoas que mais o estimam.


Kardec perguntou aos Espíritos sobre as circunstâncias que rodeiam a morte, como é que eles analisam isso. Disseram que, realmente, o que vale para quem parte é o sentimento dos que ficam. As reações de tristeza e pesar são naturais, pois ninguém quer perder a companhia de um ente querido. O que pode dificultar a desencarnação é o apego demasiado, o desespero dos familiares, que acabam gerando um transtorno mental no ambiente e fazendo o Espírito sofrer, principalmente se ele estiver consciente do que está acontecendo.

As homenagens, que se possa prestar aos desencarnados, quando partem de corações sinceros, são sempre bem recebidas por eles. Aliás, tudo que pode ajudá-los nesse trespasse é o sentimento dos entes queridos, pois para o Espírito as coisas materiais não têm muito valor.

Há Espíritos, ainda muito apegados à matéria, e que até fazem questão de que seu velório e sepultamento sejam coroados por luxo e pompa, que se sentem vaidosos quando isso acontece. No entanto, essas glórias são passageiras, como aqui na Terra, as vantagens imediatas do mundo. Assim, um sentimento de amor verdadeiro, de saudade sincera, é mais valioso do que toda riqueza com que se possa revestir um túmulo.


“Não me procures, mãe, sob o jazigo

Que recobres de jóias e açucenas!...

Fita o campo das lágrimas terrenas,

Levanta-te da lousa e vem comigo.


Aqui, chora a viuvez amargas penas,

Ali, geme a orfandade ao desabrigo,

Ergamos para a dor um pouso amigo

E a nossas dores ficarão pequenas!...


Transformemos o luxo, mãe querida,

Em consolo, agasalho, pão e vida,

Na inspiração do bem que nos governa!...


E seguiremos juntos, dia-a-dia,

Convertendo a saudade escura e fria

Em bendito calor de luz eterna”.


(Luis Roberto)



Não resta dúvida de que os Espíritos sofrem influência dos encarnados, assim como os encarnados sofrem influência deles. Mas a melhor influência será a do pensamento sincero. Aqui, nós podemos mascarar nossos sentimentos, podemos dar um presente a uma pessoa como símbolo de amizade e ela acreditar em nós. Mas isso não acontece em relação aos desencarnado. De nada adianta ir ao cemitério homenagear um parente por simples obrigação, sendo que, no fundo, não gostamos dele. Nossas vibrações mentais nos denunciarão e a nossa presença causar-lhe-á uma desagradável sensação.


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