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domingo, 21 de abril de 2024

KARDEC E A MEDIUNIDADE DE CURA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

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Provar que a Doutrina Espírita atual não é senão a síntese de crenças universalmente difundidas, partilhadas por homens cuja palavra tem autoridade e que foram nossos primeiros mestres em filosofia, é mostrar que ela não está assentada sobre a base frágil da opinião de um só. Que desejam os Espíritas, se não for encontrar quanto mais adeptos possíveis às suas crenças? Deve ser, pois, para eles uma satisfação, ao mesmo tempo que uma consagração de suas ideias, de encontrá-las mesmo antes deles. Jamais compreendemos que homens de bom senso hajam podido concluir contra o Espiritismo moderno de que ele não é o primeiro inventor dos princípios que proclama, ao passo que está aí precisamente o que faz uma parte de sua força e deve acreditá-lo. Alegar a sua antigudade para denegri-lo, é mostrar-se soberanamente ilógico, e tanto mais inábil, que ele jamais se atribuiu o mérito da descoberta primeira. É, pois, equivocar-se estranhamente sobre os sentimentos que animam os Espíritas, supor nestes ideias muito estreitas e uma muito tola presunção de crer molestá-los em lhes objetando que o que professam era conhecido antes deles, quando são eles os primeiros a folhear no passado para ali descobrir os traços da antiguidade de suas crenças, que fazem remontar às primeiras idades do mundo, porque estão fundadas sobre as leis da Natureza, que são eternas.


Nenhuma grande verdade saiu de todas as peças do cérebro de um indivíduo; todas, sem exceções, tiveram precursores que as pressentiram ou delas entreviram algumas partes; o Espiritismo se honra, pois, de contar os seus por milhares e entre os homens o mais justamente considerado; pô-los à luz, e a mostrar o número infinito de pontos pelos quais ele se liga à história da Humanidade. Mas em nenhuma parte se encontra o Espiritismo completo; sua coordenação em corpo de doutrina, com todas as suas consequências e suas aplicações, sua correlação com as ciências positivas, é uma obra essencialmente moderna, mas por toda a parte dele se encontram os elementos esparsos, misturados às crenças supersticiosas das quais é preciso fazer a triagem; se se reunissem as idéias que se acham disseminadas na maioria das filosofias antigas e modernas, nos escritores sacros e profanos, os fatos inumeráveis e infinitamente variados, que se produziram em todas as épocas, e que atestam as relações do mundo visível e do mundo invisível, chegar-se-ia a constituir o Espiritismo tal qual é hoje: é o argumento invocado contra ele por certos detratores. Foi assim que procedeu? É uma compilação de ideias antigas rejuvenescidas pela forma? Não, ele saiu inteiramente das observações recentes, mas longe de se crer diminuído, pelo que foi dito e observado antes dele, com isso se encontra fortificado e engrandecido.

Uma história do Espiritismo antes da época atual está ainda por fazer. Um trabalho desta natureza, feito conscienciosamente, escrito com precisão, clareza, sem alongamentos supérfluos e fastidiosos que dele tornariam a leitura penosa, seria uma obra eminentemente útil, um documento precioso a consultar. Esta seria antes uma obra de paciência e de erudição do que uma obra literária, e que consistiria principalmente na citação das passagens de diversos escritores que emitiram pensamentos, doutrinas ou 12 teorias que se encontram no Espiritismo de hoje. Aqueles que fizerem este trabalho conscienciosamente terão muito mérito da Doutrina.

O Espiritismo moderno não descobriu mais nem inventou a mediunidade curadora e os médiuns curadores do que os outros fenômenos espíritas. Desde que a mediunidade curadora é uma faculdade natural submetida a uma lei, como todos os fenômenos da Natureza, ela deveu se produzir em diversas épocas, assim como o constata a História, mas estava reservado ao nosso tempo, com a ajuda das novas luzes que possuímos, dar-lhe uma explicação racional, e fazê-la sair do domínio do maravilhoso.


No numero de dezembro 1866, Allan Kardec reporta-se a um fato ocorrido 37 anos antes envolvendo um padre cujo nome era príncipe de Hohenlohe. Segundo apurou “enfermos e doentes iam lhe pedir, para obter do céu a sua cura, e socorro de suas preces. Ele evocava sobre eles as graças divinas, e bem cedo viu-se um grande número desses infortunados curados de repente. A fama dessas maravilhas ressoou ao longe. A Alemanha, a França, a Suíça, a Itália, uma grande parte da Europa dela tomaram conhecimento”.


Reuniu na matéria elaborada vários exemplos de cura como de (1 -) uma jovem de 17 anos de nome Mathilde, internada numa casa de saúde há dois anos, impossibilitada de andar . Médicos renomados da França, da Itália e da Áustria, tinham esgotado todos seus recursos para curar a moça dessa enfermidade sem sucesso. Certo dia ela deixou o leito de repente, e caminhou muito livremente. Após uma visita do sacerdote de Hohenlohe que perante testemunha perguntou a ela se ela tinha uma fé firme e que Jesus Cristo poderia curá-la de sua doença, após o que disse à doente para pedir do mais fundo de seu coração e colocar em Deus a sua confiança. Quando ela tinha acabado de pedir, deu-lhe sua bênção, e lhe disse: "Vamos, levantai-vos; atualmente estais curada e podeis caminhar sem dores..." Todo o mundo da casa foi chamado imediatamente. Não se sabia como expressar a sua admiração com uma cura tão rápida e tão incompreensível.

Outros casos foram listados: 2- A esposa de um ferreiro que não podia mais ouvir mesmo os golpes mais pesados de martelo de sua forja. Procurar o padre lhe suplicou para socorrê-la. E enquanto ela estava de joelhos, lhe impôs as mãos sobre a cabeça, e tendo pedido algum tempo, os olhos elevados para o céu, ele a tomou pela mão e levantou-a. Para espanto dos espectadores, a mulher se levantando, disse que ouvia soar o relógio da igreja! 3- Uma pessoa ilustre (o príncipe real da Baviera) foi curado imediatamente de uma doença que, segundo as regras da medicina, deveria necessitar de muito tempo e dar muito trabalho. 4- Uma doente que tinha tentado duas vezes a cura mas que, a cada vez, não tinha obtido senão um leve alívio. Esta cura se operou na pessoa de uma cunhada de um, negociante. Ela estava há muito tempo afligida por uma paralisia muito dolorosa. A casa ressoou de gritos de alegria. 5- "No mesmo dia, a visão foi devolvida à uma viúva que, há vários anos, estava completamente cega. 6- Outra cura, de uma jovem estava tão gravemente estropiada da mão direita, que não podia dela se servir nem estendê-la. Ela fez imediatamente a prova de sua perfeita cura, levantando com a mesma mão uma cadeira muito pesada. 7- Um paralítico, cujo braço esquerdo estava inteiramente enfraquecido, foi completamente curado. 8- Uma cura de dois outros paralíticos se fez imediatamente depois. Ela foi tão completa e mais rápida ainda. 9 - Houveram também a curas de crianças. Tinham-lhe trazido uma do campo, que não podia caminhar senão com muletas. Poucos minutos depois, esta criança, transportada de alegria, corria na rua sem muletas. 10- Nesses intervalos, uma criança muda, que não podia fazer ouvir senão alguns sons inarticulados, foi conduzida ao príncipe. Alguns minutos depois, a criança se pôs a falar. 11- Logo uma pobre mulher trouxe, nas suas costas, sua pequenina filha, estropiada das duas pernas. Ela a depositou aos pés do padre. Um momento depois, ele devolveu a criança à sua mãe, que viu, então, sua filha correr e saltar de alegria. 12- Uma mulher paralítica e cega, lhe foi conduzida numa charrete. Ela estava cega há vinte e cinco anos. O sacerdote orou por ela, deu-lhe a sua bênção, e lhe perguntou se ela acreditava bem firmemente que, em nome de Jesus, ela poderia recobrar a visão. Como ela respondeu que sim, disse-lhe para se levantar. Ela se retirou. Apenas tinha se afastado de alguns passos, quando, de repente, seus olhos se abriram. Ela via, e deu todas as provas que se lhe pediu da faculdade que vinha de recobrar. 13- "A cura de uma mulher do hospital civil, de nome Elisabeth Laner, filha de um sapateiro, tinha a língua tão vivamente afetada, que ficava às vezes quinze dias sem poder articular uma única sílaba. Suas faculdades mentais tinham muito sofrido. Ela tinha quase perdido o uso de seus membros, porque estava num leito como uma massa. Esta pobre infeliz foi hoje ao hospital, sem o socorro de ninguém. Ela goza de todos os seus sentidos, como deles gozava há doze anos, e sua língua está tão bem desamarrada, que ninguém 14 - Um pobre estudante paralítico de seus braços e de suas pernas, enfraquecido de maneira assustadora. O príncipe, orou em torno de cinco minutos, as mãos juntas e elevadas para o céu, falou várias vezes ao estudante; e, enfim, lhe disse: "Levantai-vos, em nome de Jesus Cristo." O estudante se levantou efetivamente, mas com sofrimentos que não pôde dissimular. O príncipe disse-lhe para não perder a confiança. O infortunado que, alguns minutos antes, não podia movimentar nem braços nem pernas, se mantém então direito e perfeitamente livre sobre a sua carroça. Depois, voltando seus olhos para o céu, onde se via pintado o mais terno reconhecimento, ele exclamou: "Ó Deus! vós me socorrestes!" Os espectadores não puderam reter suas lágrimas.

Na reunião da Sociedade Espírita de Paris, de 25/10/1866,através do médium Sr Desliens, manifestou-se o Espírito do Ex-Padre que, entre outras coisas, disse:

.1- ..A faculdade da qual estava dotado era simplesmente o resultado de uma mediunidade. Era instrumento; os Fspíritos agiam, e, se pude fazer alguma coisa, não foi certamente pelo meu grande desejo de fazer o bem e pela convicção íntima de que tudo é possível a Deus. Eu acreditava!... e as curas que obtinha vinham sem cessar aumentar a minha fé. .

..2- A mediunidade curadora foi exercida em todos os tempos, e por indivíduos pertencentes às diferentes religiões. - Deus semeia por toda a parte seus servidores os mais avançados para deles fazer degraus de progresso, naqueles mesmos que estão os mais afastados da virtude, e direi mesmo, naqueles sobretudo....

...3- Não é raro encontrar homens dotados de faculdades extraordinárias pela multidão, entre os simples; e, por esta palavra, entendo aqueles cuja pureza de sentimentos não é deslustrada pelo orgulho e pelo egoísmo.


...4- É verdade que a faculdade pode igualmente existir nas pessoas indignas, mas ela não é e não poderia ser senão passageira; é um meio enérgico de abrir os olhos: tanto pior para aqueles que se obstinam em mantê-los fechados. Eles reentrarão na obscuridade de onde saíram, com a confusão e o ridículo por cortejo,


5- Qualquer que seja a crença íntima de um indivíduo, se suas intenções são puras, e se está inteiramente convencido da realidade daquilo que crê, ele pode, em nome de Deus, operar grandes coisas. A fé transporta as montanhas: ela restitui a visão aos cegos e o entendimento espiritual àqueles que erravam antes nas trevas da rotina e do erro.


6- Quanto à melhor maneira de exercer a faculdade de médium curador, não há disso senão uma: É de ficar modesto e puro, e de atribuir a Deus e às forças que dirigem a faculdade tudo o que se realiza. Os que perdem os instrumentos da Providência, é que não se creem simplesmente instrumentos; querem que seus méritos sejam em parte por causa da escolha que foi feita de sua pessoa; o orgulho os embriaga e o precipício entreabre-se sob seus passos.


7- Hoje, sei que é coisa toda natural, e que pode, que deve concordar com a imutabilidade das leis do Criador, porque sua grandeza e sua justiça permanecem intactas. Deus não saberia fazer milagres!... .porque isto seria fazer presumir que a verdade não é bastante forte para se afirmar por si mesma, e de outra parte, não seria lógico demonstrar a eterna harmonia das leis da Natureza, perturbando-as por fatos em desacordo com a sua essência.


8- Quanto a adquirir a faculdade de médium curador, não há método para isto; todo o mundo pode, numa certa medida, adquirir esta faculdade, e, agindo em nome de Deus, todos farão curas. Os privilegiados aumentarão em número à medida que a Doutrina se vulgarizar, e, é muito simples, uma vez que haverá mais indivíduos animados de sentimentos puros e desinteressados. PRÍNCIPE DE HOHENLOHE.




Vendo o mundo de hoje, fico pensando por que será que as pessoa estão mais egoístas do que há 30 ou 40 anos atrás? (Maurício)


Não temos dúvida de que nestas últimas décadas o mundo mudou muito, Maurício – e mudou muito rapidamente. Em certos aspectos para melhor ( como, por exemplo, o conforto material), mas em outros aspectos, como na convivência, de forma preocupante. Na verdade, há uma relação inversa – e você já deve ter notado isso - entre o conforto e a solidariedade: quanto menos conforto entre as pessoas, mais solidariedade existe entre elas, porque, na hora da necessidade, a solidariedade é uma forma de diminuir a necessidade de todos. Se um barco está afundando, todos se unem para evitar o naufrágio; mas, quando o barco navega tranquilamente, eles começam a se desentender.


Em certas comunidades rurais, onde o desenvolvimento material ainda é muito precário, existe bem mais solidariedade do que nas cidades. Essa é uma condição atual da humanidade. Isso acontece em nosso estágio de desenvolvimento espiritual. Somos Espíritos ainda muito egoístas: pensamos muito em nossas necessidades e interesses, mas muito pouco ou quase nada na necessidade do próximo. Por isso aproveitamos para nos beneficiar ao máximo com a presença das outras pessoas, mas ainda fazemos muito pouco em benefício delas. Ainda não aprendemos a desenvolver o sentimento de coletividade, que Allan Kardec caracterizou como “a mais elevada expressão da caridade”.


Não é difícil entender a psicologia humana. Quando só tínhamos um televisor em casa, toda a família era obrigada se reunir na sala e estudar uma forma para que todos pudessem desfrutar do aparelho, ver seu programa e respeitando o direito do outro de ver o seu. Essa contingência obrigava o pessoal a se reunir, a trocar idéias, a discutir e a dividir – mas todos se mantinham juntos. A partir do momento em que cada um passou a ter a sua televisão no seu quarto, acabou o encontro familiar, desfez-se o relacionamento, houve um afastamento e um esfriamento nas relações. O mesmo aconteceu depois em relação ao carro. E desse modo fica bem mais difícil as pessoas aprenderem a conviver.


O distanciamento entre as pessoas ( que hoje podem dispor de televisão própria, de carro, de moto, de celular, etc.) desenvolveu uma espécie de auto-suficiência e, portanto, de individualismo e egoísmo, onde cada um passa a resolver o seu próprio problema da forma mais cômoda possível, sem precisar recorrer aos demais. Trata-se de um estágio de aparente retroação, em que tivemos de voltar para uma fase anterior de relacionamento, para podermos aprender novamente como repartir e como compartilhar nossas experiências em situações mais confortáveis.


Mais do que nunca, precisamos parar para refletir sobre isso, como você está fazendo. A família, a escola, a religião e as demais instituições sociais, que tem capacidade de organização, precisam envolver as pessoas para discutirem seus relacionamentos. A crise maior está dentro de casa: quando, em casa, as coisas não vão bem, o reflexo acontece bem maior na sociedade. No passado, a que você se refere, só as famílias muito pobres e necessitadas, tinham sérios problemas de relacionamento; hoje, essa situação generalizou, principalmente por causa desse fator conforto. Os primeiros a errar são os pais que, de um modo geral, estão dando muita coisa a seus filhos, sem lhes ensinar a necessidade e a importância de compartilhar.


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