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domingo, 23 de junho de 2024

A VOLTA DA FORTUNA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 

Confirmando através de inúmeros exemplos e testemunhos obtidos via mediunidade que a Lei de Causa e Efeito leva sempre o Espírito ao encontro dos resultados de suas ações, o Espiritismo afirma também que a família consanguínea deriva de uma família espiritual derivada das relações interpessoais mal sucedidas nas encarnações que temos. O caso analisado por Allan Kardec no número de outubro de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, ilustra isso. Parte de fato noticiado no jornal no SIÈCLE de 5 de junho daquele ano: “O Sr. X..., berlinense, possuía imensa fortuna. Seu pai, ao contrário, em consequência de vários reveses, tinha caído em extrema miséria e se vira forçado a recorrer à generosidade do filho. Este repeliu duramente a súplica do ancião que, para não morrer de fome, teve de recorrer à intervenção da justiça. O Sr. X... foi condenado a fornecer ao pai uma pensão alimentar. Mas, antes, havia tomado suas precauções: prevendo que parte de seus rendimentos poderia ser confiscada, caso se recusasse a pagar a pensão, resolveu ceder a fortuna a um tio paterno. “O infeliz pai viu-se privado de sua última esperança. Protestou que a cessão era fictícia e que o filho tinha recorrido a ela para escapar à execução da sentença. Mas teria que o provar; o velho, porém, não dispunha de condições para intentar um processo custoso, já que lhe faltavam as coisas essenciais à vida. “Um acontecimento imprevisto veio mudar tudo. O tio morreu subitamente, sem deixar testamento. Como não tivesse família, a fortuna reverteu, de direito, ao parente mais próximo, isto é, ao seu irmão. “Compreende-se o resto. Hoje os papéis estão invertidos. O pai está rico e o filho pobre. O que, sobretudo, deve aumentar o desespero deste último é que não pode invocar o fato de uma cessão fictícia, pois a lei interdita formalmente esse gênero de transação”. Comenta Kardec: Dir-se-ia que se sempre fosse assim com o mal, melhor seria compreendida a justiça do castigo; sabendo o culpado por que é punido, saberia do que se deve corrigir. Os exemplos de castigos imediatos são menos raros do que se pensa. Se se remontasse à fonte de todas as vicissitudes da vida, ver-se-ia, aí, quase sempre, a consequência natural de alguma falta cometida. A cada instante recebe o homem terríveis lições, das quais, infelizmente, bem poucos tiram proveito. Enceguecido pela paixão, não vê a mão de Deus, que o fere; longe de acusar-se por seus próprios infortúnios, põe a culpa na fatalidade e na má sorte; irrita-as muito mais do que se arrepende. Aliás, não nos surpreenderíamos se o filho, do qual se fala acima, em vez de ter reconhecido seus erros para com o pai, em lugar de lhe ter dispensado melhores sentimentos, passasse a lhe devotar maior animosidade. Ora, o que pede Deus ao culpado? O arrependimento e a reparação voluntária. Para o animar a isto multiplica à sua volta, durante a vida inteira, todas as formas de advertências: desgraças, decepções, perigos iminentes; numa palavra, tudo o que é próprio a fazê-lo refletir. Se, a despeito disto, seu orgulho resiste, não é justo que seja punido mais tarde? É grave erro pensar que o mal possa ficar impune, uma ou outra vez, na vida atual. Se se soubesse tudo quanto acontece ao mau, aparentemente o mais próspero, ficar-se-ia convencido da verdade de que não há uma única falta nesta vida, uma só inclinação má, dizemos mais, um só mau pensamento que não tenha sua contrapartida. Daí a consequência que, se o homem aproveitasse os avisos que recebe, se se arrependesse e reparasse desde esta vida, teria satisfeito à justiça de Deus e não mais teria de expiar, nem de reparar, seja no mundo dos Espíritos, seja em nova existência. Se há, pois, os que nesta vida sofrem o passado de sua precedente existência, é que devem pagar uma dívida que não saldaram



Na Bíblia vemos Jesus se referir ao inferno mais de uma vez. Parece que todo mundo ali acreditava no inferno e Jesus também. Porém, os espíritas continuam dizendo que o inferno não existe. Não é uma contradição?

A leitura que as religiões fazem do evangelho – ou seja, a interpretação que elas dão aos textos – é diferente da forma como o Espiritismo os interpreta. Vamos tomar um exemplo da fala de Jesus, utilizando uma tradução católica, a do padre Matos Soares.

Ouvistes o que foi dito aos antigos: “não matarás” e quem matar será submetido ao juízo do tribunal. Pois eu vos digo que todo aquele que irar contra seu irmão será submetido ao juízo do tribunal. O que chamar “raca” a seu irmão será condenado no conselho. O que lhe chamar louco será condenado ao fogo da geena”.

Essa passagem, aliás muito conhecida, fala em “juízo do tribunal”, fala em “conselho” e fala em “geena”. Jesus , aqui, está comparando a aplicação das leis humanas à lei de Deus.

Ao falar em “tribunal” e em “conselho” ele está se referindo ao Sinédrio, que era o tribunal dos judeus, onde as pessoas eram julgadas pelos seus crimes.

Ao falar em “geena”- palavra que acabou sendo substituída pela palavra “inferno” nos textos bíblicos - ele está referindo ao vale de Hinom, fora das muralhas de Jerusalém. Nesse vale a população jogava o lixo da cidade, restos de animais, cadáveres de pessoas consideradas indignas e toda espécie de imundície.

Além disso, usava-se o enxofre para manter o fogo aceso e queimar o lixo, de modo que da “geena” exalava mau cheiro que ninguém queria suportar. A geena, portanto, representava o extremo do sofrimento, o insuportável.

Nas traduções subsequentes dos evangelhos o termo, como dissemos, acabou ganhando a conotação de inferno, em que os judeus acreditavam, por influência da religião persa. Mas o importante, aqui, é que Jesus costumava usar comparações muito fortes para sensibilizar seus ouvintes e isso está em toda a sua fala.

Tais colocações, no entanto, não quer dizer que Jesus acreditava no inferno como seus conterrâneos concebiam. Até porque, para Jesus, Deus era a manifestação do amor e não era concebível que um só de seus filhos amados se perdesse e fosse condenado para sempre, sem o perdão e a misericórdia do Pai.

Mesmo que existissem demônios ou espíritos malignos, como se dizia entre os judeus, esses demônios também eram filhos de Deus, porque foram por Ele criados e amados.

Seria contraditório, sim, conceber o inferno de perdição e eterna e, ao mesmo tempo, a sublimidade do amor que Jesus recomendava até mesmo aos piores inimigos, porque esse amor significava, antes de tudo, que todos são filhos do mesmo Pai e que, portanto, o Pai os ama a todos igualmente.

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