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sábado, 27 de julho de 2024

PORQUE NÃO? EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Porque todas as mães que choram os filhos mortos e ficariam felizes se se comunicassem com eles, muitas vezes não o podem? Porque a visualização deles lhes é recusada, mesmo em sonhos, a despeito de seu desejo e preces ardentes? Naturalmente são duas perguntas que muitos se fazem diante do entusiasmo daqueles que se surpreendem com o conteúdo de informações e detalhes pessoais constantes das cartas mediúnicas, sobretudo as psicografadas por Chico Xavier. Por sinal, o canal de comunicação objetivamente disponibilizado a partir da identificação e definição da mediunidade pelo Espiritismo, revelou-se um instrumento útil para esse fim, utilizado especialmente por aqueles que, vencidos pela dor da separação, superam as barreiras do preconceito e conceitos nascidos nas escolas religiosas tradicionais ou nas sombras da ignorância. Allan Kardec na REVISTA ESPÍRITA, edição de agosto de 1866, teceu interessantes esclarecimentos sobre os “porquês” das perguntas com que iniciamos essas considerações. Pondera ele: “ -Além da falta de aptidão especial que, como se sabe, não é dada a todos, há, por vezes, outros motivos, cuja utilidade a sabedoria da Providência aprecia melhor que nós. Essas comunicações poderiam ter inconvenientes para as naturezas muito impressionáveis; certas pessoas poderiam delas abusar e a elas se entregar com um excesso prejudicial à saúde. Em semelhante caso, sem dúvida a dor é natural e legítima; mas, algumas vezes, é levada a um ponto desarrazoado. Nas pessoas de caráter fraco muitas vezes essas comunicações reavivam a dor, em vez de a acalmar. Daí porque nem sempre lhes é permitido receber, mesmo por outros médiuns, até que se tenham tornado mais calmas e bastante senhoras de si para dominar a emoção. A falta de resignação, em casos tais, é quase sempre uma causa do retardamento. Depois, é preciso dizer que a impossibilidade de se comunicar com os Espíritos que mais se ama, quando se o pode com outros, é, muitas vezes, uma prova para a fé e a perseverança e, em certos casos, uma punição. Aquele a quem esse favor é recusado deve, pois, dizer-se que sem dúvida a mereceu. Cabe-lhe procurar a causa em si mesmo, e não atribui-la à indiferença ou ao esquecimento do Ser lamentado. Enfim, há temperamentos que, não obstante a força moral, poderiam experimentar o exercício da mediunidade com certos Espíritas, mesmo simpáticos, conforme as circunstâncias. Admiremos em tudo a solicitude da Providência, que vela pelos menores detalhes e saibamos submeter-nos à sua vontade sem murmúrio, porque ela sabe melhor que nós o que nos é útil e providencial. Ela é para nós como um bom pai, que não dá sempre a seu filho o que ele deseja. As mesmas razões ocorrem no que concerne aos sonhos. Os sonhos são as lembranças do que o Espírito viu em estado de desprendimento, durante o sono. Ora, essa lembrança pode ser bloqueada. Mas aquilo de que a gente não se lembra não está, por isto, perdido para a alma. As sensações experimentadas durante as excursões que ela faz no mundo invisível, deixam, ao despertar, impressões vagas e a gente não cita pensamentos e ideias cuja origem, muitas vezes, não se suspeita. Pode, pois, ter-se visto, durante o sono, os seres aos quais se tem afeição, entreter-se com eles e não guardar a lembrança. Então se diz que não se sonhou. Mas se o Ser lamentado não se pode manifestar de uma maneira extensiva qualquer, nem por isso estará menos junto dos que o atraem por seu pensamento. Ele os vê, ouve suas palavras e, muitas vezes, adivinha-se sua presença por uma espécie de intuição, um sentimento íntimo, e, até mesmo por certas impressões físicas. A certeza de que não está no nada; de que não está perdido nas profundezas do espaço, nem nos abismos do inferno; de que é mais feliz, agora isento dos sofrimentos corporais e das tribulações da vida; de que o verão, após uma separação momentânea, mais belo, mais resplendente, sob um envoltório etéreo imperecível, e não sob a pesada carapaça carnal; eis a imensa consolação que recusam os que creem que tudo acaba com a vida; eis o que oferece o Espiritismo”.

Se nós já tivemos outras encarnações, por que não lembramos dessas vidas? (Heraldo Coelho – e-mail)


Há várias razões para isso Heraldo. A primeira, de ordem filosófica, baseia-se no fato de que lembrar desse passado pode prejudicar o presente, ou seja, pode trazer transtornos psicológicos para o espírito, que está tentando reerguer-se nesta nova encarnação. O passado, quase sempre, envolve cometimentos graves e sofrimentos que não merecem ser lembrados, sob pena de comprometer os planos da vida atual. O rompimento com o passado, na maioria das vezes, é a melhor forma de começar uma vida nova.


Quando o passado distante está marcado por condutas delituosas graves – casos em que o individuo praticou violência contra os outros - é natural que, com o passar do tempo, tomando consciência da gravidade do mal que cometeu, esse Espírito venha a desenvolver um sentimento de culpa, um espécie de remorso, que pode levá-lo a atitudes de punição contra si mesmo. Lembrar do passado, manchado de cruéis delitos, é entrar em conflito com a própria consciência moral que está em crescimento, e até decidir pela autodestruição, ou seja, pelo suicídio, o que certamente cria um grave transtorno no seu processo evolutivo.


Por outro lado, quando o Espírito foi vítima da violência e da crueldade de outros, ele pode reencontrar, na nova encarnação, com seus algozes, até mesmo no seio da própria família. Imagine, por exemplo, um individuo que na vida anterior foi assassinado pelo Espírito que, agora, é seu pai, o qual veio justamente nesta encarnação para reparar o mal que lhe praticou - tendo-o como filho querido, a quem dedica proteção. Se esse filho lembrasse do mal que sofreu, com certeza, não teria condições de ter contato com seu pai, em hipótese alguma – talvez dominado pelo medo, talvez pelo ódio e pela revolta.


Desse modo, o papel do esquecimento, Heraldo, é fundamental para a continuidade da vida e para o longo processo de evolução, que se dá através das reencarnações. Quando Jesus, no evangelho, recomenda a reconciliação com o adversário e o amor aos inimigos, é nesse sentido, pois, de encarnação em encarnação, vamos tendo a oportunidade de nos reaproximar daqueles que rejeitamos. Novas experiências, novas oportunidades de convivência, em situações diferentes, fazem com que espíritos inimigos aprendam a se amar. É assim que a Lei de Deus funciona, aperfeiçoando cada um no caminho da perfeição.


Por outro lado, do ponto de vista científico, podemos explicar esse esquecimento pelo fato de que, em cada encarnação, o Espírito tem um novo cérebro, que só vai ser utilizado com as impressões que recebe das experiências desta encarnação. Não há passado para esse cérebro, porque ele não existiu antes. Mas para o Espírito, sim, pois ele guarda na sua memória profunda, no inconsciente de seu perispírito as informações do passado, que geralmente não afloram à mente, a não ser em casos muito excepcionais.



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