A história demonstra que sempre houve aqueles que acreditam haver um poder sobrenatural em alguns objetos considerados como talismãs para resolver questões no campo do amor, da “sorte”, entre outros. Meios de obter a influência de Espíritos que cuidariam de encaminhar soluções. Um rentável comércio sempre existiu tirando proveito dessa crença. Haverá, porém, nessas peças, o poder a elas atribuído? Na edição de setembro de 1858, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec escreveu interessante artigo após ter sido indagado a respeito disso por pessoa conhecida. Identificado apenas como senhor M., “havia comprado uma medalha que se lhe afigurou de notável originalidade(...). Tinha o aspecto da prata, pouco oxidada, estampando nas duas faces, uma porção de sinais, gravados em baixo relevo, entre os quais se notavam os planetas, círculos entrelaçados, um triângulo, palavras ininteligíveis e iniciais em caracteres vulgares; depois outras em caracteres bizarros, tendo algo de árabe, tudo disposto de modo cabalístico, à maneira dos livros de magia”. Tendo consultado médium conhecida, ouviu “ser ela composta de sete metais, ter pertencido ao escritor Jean Cazzote, um dos pais da literatura fantástica, à época morto, possuindo o poder especial de atrair Espíritos e facilitar as evocações”. Outro, autor de uma série de comunicações que dizia ter recebido da Virgem Maria, lhe disse “ser uma coisa maléfica, própria para atrair os demônios”. Outro, autor de um livro sobre escrita direta, que “a medalha tinha uma virtude magnética e poderia provocar o sonambulismo”. Insatisfeito com as respostas contraditórias, mostrou a Kardec a medalha, pedindo sua opinião, ao mesmo tempo que desejava interrogasse um Espírito Superior sobre o real valor do ponto de vista da influência que a mesma pudesse ter. Eis a resposta de Allan Kardec: “-Os Espíritos, são atraídos ou repelidos pelo pensamento, não por objetos materiais, que nenhum poder exercem sobre eles. Em todos os tempos os Espíritos Superiores condenaram o emprego de signos e de formas cabalísticas; e todo Espírito que lhe atribui uma virtude qualquer ou que pretende dar talismãs que denotam magia, por aí revela a própria inferioridade, quer quando age de boa fé e por ignorância, levado por antigos preconceitos terrenos, de que ainda se acha imbuído, quer quando, conscientemente, se diverte com a credulidade, como Espírito zombeteiro. Os sinais cabalísticos, quando não são mera fantasia, são símbolos que lembram crenças supersticiosas na virtude de certas coisas, como os números, os planetas e sua correspondência com os metais, crenças nascidas no tempo da ignorância e que repousam sobre erros manifestos, aos quais a Ciência fez justiça, mostrando o que há sobre os pretensos sete planetas, os sete metais, etc. A forma mística e ininteligível de tais emblemas tem o objetivo de os impor ao vulgo, sempre inclinado a considerar maravilhoso aquilo que não compreende. Quem quer que tenha estudado racionalmente a natureza dos Espíritos, não admitirá que sobre eles se exerça a influência de formas convencionais, sem de substâncias misturadas em certas proporções: seria renovar as práticas do caldeirão das feiticeiras, dos gatos pretos, das galinhas pretas e de outras secretas maquinações. Já o mesmo não se dá com um objeto magnetizado, pois, como se sabe(...), a virtude de tal objeto reside unicamente no fluido de que se acha momentaneamente impregnado e que assim se transmite, por via imediata, e não na forma, na cor, nem, principalmente nos signos, que que possa estar cheio”. Pondera, mais à frente, que “o sinal traçado é uma expressão do pensamento; é uma evocação trazida de modo material. Ora, seja qual for sua natureza, os Espíritos não necessitam de semelhantes meios de comunicação. Os Espíritos Superiores jamais os empregam; os inferiores podem fazê-lo visando fascinar a imaginação de pessoas crédulas, que querem sob sua dependência. Regra geral: para os Espíritos Superiores a forma não nada é; o pensamento é tudo; todo Espírito que liga mais importância à forma que ao fundo, é inferior, não merece nenhuma confiança, mesmo quando, vez por outra, diga algumas coisas boas; porque as boas coisas são por vezes um meio de sedução”.
Gostaria de ouvir a opinião de vocês sobre o caso do menino, vítima de um culto de magia, que introduziu muitas agulhas no seu corpo. (João Caetano)
JBC - Um ato reprovável, sem dúvida; do ponto de vista legal, um crime. Nenhuma pessoa, no pleno exercício de sua consciência moral, poderia admitir uma coisa dessas nos dias de hoje, nem em ser humano e nem mesmo em animais. Até que se pode entender que no passado muito distante, o homem, atemorizado diante da ira de seus deuses, oferecesse sacrifícios humanos pensando estar salvando toda uma comunidade . Mas isso é coisa de um passado remoto.
Infelizmente, ainda existem mentalidades bastante atrasadas, criando verdadeiros bolsões de ignorância, talvez por abandono da própria sociedade. Alguns são Espíritos primitivos facilmente influenciáveis por crenças que já não são de nosso tempo; outros porque são portadores de doenças mentais – no caso, psicopatas, que podem perpetrar um crime de tamanha gravidade. A magia decorre de uma crença muito antiga em fenômenos inexplicáveis e misteriosos, que pode levar pessoas, pouco informadas ou má conduzidas – ou, ainda, mal intencionadas - a práticas criminosas.
É por isso que a Doutrina Espírita, cujos princípios morais são os mesmos ensinados por Jesus, se propõe a mostrar ao homem que Deus é amor e que, somente através da prática do bem, podemos conquistar a felicidade que almejamos. Nada justifica o sacrifício humano. A vida deve ser considerada o maior valor de nossa existência neste mundo. Cabe a todos nós preservá-la e defendê-la, desde a concepção no ventre materno até o instante final que assinala o termo desta vida.
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