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terça-feira, 27 de agosto de 2024

OUVINDO BENVENUTO CELLIN; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Artista talentoso, personalidade exaltada, o florentino Benvenuto Cellini viveu 71 anos na sua encarnação no século XVI. Ao longo do tempo, inspirou com sua existência tumultuada vários escultores, pintores, compositores e literatos. Entre suas obras mais conhecidas está a Estatua em Bronze de Perseu segurando a cabeça da Medusa, exposta em Florença, sua cidade natal e a escultura O Crucifixo, em mármore. Aventureiro construiu uma biografia em que se incluem homicídios pelos quais teria sido responsável, e, inúmeros casos amorosos com varias de suas modelos. Escritor, publicou um TRATADO sobre OURIVESARIA, outro sobre ESCULTURA, além de um livro de memórias intitulado VITA, em que reconstitui sua existência. Nele, o relato de uma cena de feitiçaria e de endemoniação no Coliseu, em Roma, de que teria tomado parte. A prática teria sido executada por um sacerdote siciliano, de espírito muito fino, profundamente versado em letras gregas e latinas que conhecera numa estrada esquisita, e, que certa vez, lhe falara sobre suas atividades de necromancia, tema que sobre o qual sempre tivera a maior curiosidade. Convidado para uma dessas reuniões para qual o sacerdote trouxera perfumes preciosos, drogas fétidas e fogo, após uma abertura viu-se, levado pela mão, dentro de um círculo, com outras pessoas. O dirigente, entregando um talismã a um dos participantes, pôs-se a fazer conjurações durante mais de uma hora e meia, após o que o Coliseu encheu-se de legiões de Espíritos Infernais, sugeriu-lhe: -“Benvenuto, pede-lhes alguma coisa”. Respondi-lhes que desejava que eles me reunissem à siciliana Angélica, sua paixão do momento. Depois de diferentes relatos mais ou menos ligados ao precedente, Benvenuto conta como, passados 30 dias, prazo fixado pelos demônios, ele encontrou sua Angélica. Certamente motivado pela descrição de registro feita três séculos antes do surgimento do Espiritismo, Kardec, autorizado e ajudado pelo dirigente espiritual das reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, buscou ouvir o renomado artista, na reunião de 11 de março de 1859, conforme reproduzido na REVISTA ESPÍRITA, de abril de 1859. A entrevista de mais de trinta perguntas, revela o seguinte: 1- Lembrava-se da existência que passara na Terra entre 1500 e 1571 apesar de ter tido outras existências corporais em vários mundos. 2- Sentia-se muito satisfeito com a posição ocupada atualmente, que, embora não fosse um trono, o colocava sobre mármores. 3- Permanecera errante alguns anos, trabalhando em si mesmo. 4- Que voltara poucas vezes a Terra. 5- Que assistira várias vezes à história em que figurara, sentindo-se satisfeito como Cellini, mas, pouco como Espírito que pouco progredira. 6- Não tivera outras encarnações na Terra antes da conhecida, tendo outras ocupações muito diferentes das que aqui desenvolveu. 7- Que habitava atualmente um mundo desconhecido e não visível da Terra, do ponto de vista físico, marcado pela beleza plástica, dada a harmonia perfeita de todas as suas linhas, rodeado de perfumes que, aspirados, provocam o bem estar físico, satisfazendo as necessidades pouco numerosas a que estão sujeitos; e, do ponto de vista moral, a perfeição é menor, pois, ali ainda podem ver-se consciências perturbadas e Espíritos dedicados ao mal, não sendo a perfeição, mas, o caminho para ela. 8- Lá também trabalha com as artes. 9- Sobre a veracidade das cenas sobre necromancia descritas no seu livro, disse que o necromante era um charlatão, ele um romancista e Angélica sua amante. 10- Sobre a origem de seu sentimento para a arte, confirmou ser fruto de um desenvolvimento anterior, pois durante muito tempo fora atraído pela poesia e pela beleza da linguagem, prendendo-se na Terra à beleza da reprodução e, no mundo em que vivia, ocupava-se à beleza como invenção. 11- Quanto à sua habilidade como estrategista militar revelada na defesa do Castelo de Santo Ângelo a pedido do Papa Clemente VII, revelou que tinha talento e sabia aplica-lo, visto que em tudo é necessário discernimento, sobretudo na arte militar de então. 12- Solicitado a aconselhar aos artistas que buscam seguir suas pegadas, disse que, mais do que fazem e do que ele fez, que busquem a pureza verdadeira beleza. 13- Se poderia guiar um médium na execução de modelagens garantiu que sim, preferindo um com inclinações artísticas, merecendo esta resposta, a seguinte observação de Kardec: -“Prova a experiência que a aptidão de um médium para tal ou qual gênero de produção depende de flexibilidade que apresenta ao Espírito, abstração feita do seu talento (...). Entretanto, veem-se médiuns que fazem coisas admiráveis, apesar de lhes faltar noções sobre o que produzem, o que se explica por uma aptidão inata, devida, sem dúvida, a um desenvolvimento anterior ( em outra encarnação), do qual conservam apenas a intuição”.


Anderson Lima, pergunta o seguinte: “Quando a gente se arrepende de um erro que cometeu e nunca mais vem a cometer esse mesmo erro mas, ao contrário, procuramos corrigir esse defeito, essa mudança já não é suficiente para merecer o perdão de Deus?”

A Lei de Deus é perfeita e, assim sendo, ela abarca cada um de nossos atos de uma forma plena, considerando-o de todos os ângulos possíveis, e isso já não acontece com a lei humana. Vamos dar um exemplo . Um homem agride violentamente outro homem e é flagrado pela lei. Indiciado, julgado, a justiça o condena à a uma pena que ele acaba cumprindo. Independente da pena sofrida, a vítima resolve processá-lo judicialmente e ele terá que pagar uma soma em dinheiro pelo prejuízo causado.

Vamos supor que o autor do delito realmente cumpra a pena que lhe foi imposta e pague a indenização que a lei estabeleceu. Diante disso, ele fica quite com a lei humana e não tem mais o que pagar. No entanto, o homem, que foi vítima da agressão, apesar da aplicação da justiça humana, permanece odiando seu agressor. Mesmo depois da morte, ele leva esse ódio consigo, pois não consegue o esquecer o mal que o adversário lhe causou, por causa da dor moral que atormenta sua alma. Mais cedo ou mais tarde, ele resolver vingar-se ou fazer justiça com as próprias mãos.

Neste caso, embora tudo tenha se resolvido à luz da justiça humana com o cumprimento da pena e o pagamento da indenização, ainda restou muita coisa para ser resolvida ante a Justiça Divina. Isso quer dizer que, no campo do sentimento, o caso não ficou resolvido. Ainda há algo a fazer para que ocorra a chamada reconciliação entre adversários. Foi por isso que Jesus recomendou que nos reconciliássemos com o nosso desafeto enquanto estamos a caminho com ele. Assim, é possível que o agressor venha a se arrepender do que fez, mas, ao que tudo indica, ele não resolveu o principal da questão, não se reconciliou com aquele a quem ofendeu e não recebeu seu perdão.

Portanto, Anderson, em Doutrina Espírita aprendemos que a solução definitiva de um problema dessa ordem requer não só o arrependimento, mas também a reparação e, por último, a reconciliação que necessariamente deverá ocorrer um dia. E, no exemplo citado, embora tivesse havido uma tentativa de reparação material com o pagamento da indenização, a maior das reparações não é reparação dos prejuízos materiais, mas é a reparação moral, que é bem mais complicada. A vítima tornou-se um inimigo ameaçador e o agressor passou a ser perseguido pelo seu ódio.

A reparação e a reconciliação vêm depois do arrependimento. Ela serve para reaproximar agressor e vítima em termos de sentimento. Se isso não for possível numa existência e o ofendido relutante desencarnar antes do ofensor, ele poderá vir a obsidiá-lo, na tentativa de prejudicá-lo, simplesmente porque se sente ferido em seu orgulho e que não aceita perdoá-lo. Se mais essa tentativa ainda não der certo, vítima e réu ainda poderão se encontrar numa próxima encarnação, muitas vezes dentro da mesma família, como pai e filho por exemplo, a fim de, esquecendo o passado, tenham chance de refazer suas relações.

Desse modo, Anderson, a principal questão não é tanto a de ordem material, mas a de ordem espiritual. É aqui que entram as duas questões: a da culpa do agressor e a da mágoa do agredido. Talvez, o fato de se encontrarem numa situação de conflito possa ajudá-los a se reencontrar consigo mesmos e um com o outro, procurando desfazer a contenda para que ela se transforme em conciliação e aceitação fraterna. Logo, embora o arrependimento seja importante, ele não basta por si só. Sem a reparação moral, na verdade, o problema não fica resolvido.



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