Chico Xavier já tinha 25 anos, começara suas atividades com a mediunidade oito anos antes, quando conheceu o responsável pela Fazenda Modelo, mantida pelo Ministério da Agricultura na cidade de Pedro Leopoldo, Minas Gerais. O encontro foi motivado pela morte do pai do Dr Romulo Joviano, figura importante no campo da educação pública no Estado mineiro, chamado Arthur Joviano. Da conversa inicial para a inclusão do jovem de família numerosa e reconhecidamente muito pobre no quadro de servidores da importante campo experimental dirigido pelo competente engenheiro agrônomo M Bforam poucos meses. Desse ponto para o estabelecimento das noites de quarta feira para a realização de uma reunião em torno dos ensinos do Evangelho com a presença do médium, do Dr Romulo e sua esposa, com eventuais convidados foi pouco tempo. Muitas coisas interessantes ocorreram nessas oportunidades, grande parte possível deduzir após o resgate do arquivo carinhosamente preservado pela filha do casal até a aproximação do primeiro centenário de nascimento de Chico, ocorrido em 2010. Da revisão resultaram alguns livros de grande importância para os que pesquisam as conexões da vida do incomparável médium e a evolução do pensamento espírita no século XX. Num deles, o Dr Arthur Joviano, quando do lançamento d’ OS MENSAGEIROS, a segunda obra da série NOSSO LAR, faz em mensagem psicografada na reunião de 26 de janeiro de 1944, revelador comentário: -“É um mundo novo, creia, para a responsabilidade individual. Esse esforço foi muito estudado antes da organização que se alcança agora. Precisava-se de um nome impessoal, sem filiação a grupos preestabelecidos, que pudesse trazer semelhantes observações de caráter universalista. E, felizmente, atinge-se, presentemente, o objetivo. (...). Talvez o trabalho de André Luiz não encontre uma compreensão generalizada no momento, mas, podem acreditar, que para a educação espiritual do indivíduo encarnado esse esforço apresenta ilações muito graves pela exatidão dos conceitos a que chegou o mensageiro, aproveitando todas as possibilidades de simplificação ao seu alcance”. Dois anos depois, numa da carta enviada ao Dr Antonio Wantuil de Freitas então presidente da Federação Espírita Brasileira com quem mantinha correspondência regularmente, acrescenta mais alguns dados importantes em relação ao autor da famosa série: -“Emmanuel, desde fins de 1941, se dedica afetuosamente, aos trabalhos de André Luiz. Por essa época, disse-me ele a propósito de “algumas autoridades espirituais” que estavam desejosas de algo lançar em nosso meio, com objetivos de despertamento. Falou-me que projetavam trazer-nos páginas que nos dessem a conhecer aspectos da vida que nos espera no “outro lado”, e, desde então, onde me concentrasse, via sempre aquele “cavalheiro espiritual”, que depois se revelou por André Luiz, ao lado de Emmanuel. Assim decorreram quase dois anos, antes de NOSSO LAR”. Acrescentaria mais à frente: -“Dentro de algum tempo, familiarizei-me com esse novo amigo. Participava de nossas preces, perdia tempo comigo, conversando. Contava-me histórias interessantes e, muitas vezes, relacionou recordações do Segundo Império, o que me faz acreditar tenha sido ele, André Luiz, também personalidade da época referida. Achava estranho o cuidado dele, o interesse e a estima; entretanto, decorrido algum tempo, disse-me Emmanuel que estava o companheiro treinando para se desincumbir de tarefa projetada e, de fato, em 1943, iniciava o trabalho com NOSSO LAR”. ”.
A fé é sempre necessária para uma pessoa ser curada espiritualmente ou pode haver casos em que ela não é levada em conta? (Claudinéia)
A fé, como certeza de alcançar um resultado, é o ponto de partida para qualquer empreendimento. É o que diz Kardec n’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Ao que tudo indica, ter fé parece ser um princípio universal, não só no âmbito da religião, como nos negócios e nas realizações humanas em geral. Esse dizer de Jesus “A fé remove montanhas” não deixa dúvidas. Ninguém se lança a um empreendimento qualquer, sem acreditar que terá resultado. Toda literatura de auto-ajuda está baseada no poder da fé.
A fé em Deus, porém, tem um valor especial. Como Deus é a idéia mais elevada que o ser humano pode conceber, quando ele coloca esse sentimento em Deus, readquire forças e se agiganta diante dos problemas. Quando lhe falta confiança naquilo que deve fazer ou receber, tudo se torna mais difícil e até impraticável. Jesus, por exemplo, não conseguiu fazer curas em Nazaré, sua terra, porque as pessoas de lá não acreditavam nele.
Contudo, não devemos dar valor absoluto à fé. Se ela é necessária, só a fé não é suficiente. Divaldo Franco tem uma frase muito apropriada para definir a fé. Ele diz o seguinte: “Crer não é somente acreditar; é esforçar-se para atingir aquilo em que se acredita”. Há, portanto, dois aspectos: o aspecto do sentimento ( que é crer) e o aspecto da ação ( que é o esforço para se atingir a meta).
Em se tratando de curas espirituais, deve haver outros fatores que concorrem ou não para o resultado desejado. No Espiritismo, falamos em merecimento. É por isso que os resultados daqueles que buscam a cura são tão diferentes. Alguns poucos vão obtê-la, mas a maioria não. E isso não se dá apenas quando se trata de cura espiritual: também acontece com os que se utilizam os recursos da medicina. Crer na eficácia do tratamento é uma condição que favorece a cura; cumprir fielmente o que o médico prescreveu é o esforço, que vai concorrer par a cura.
Jesus, porém, apesar de ter feito curas, deixou bem claro que o mais importante é a cura da alma, porque nela reside a verdadeira causa da enfermidade. Quando o paciente se reeduca, observando com carinho as prescrições do médico, a cura é bem provável, mas quando ele não leva a sério as recomendações que o médico lhe passou, dificilmente se curará. A cura da alma, neste caso, é a mudança de hábito, é a retomada da vida de uma maneira mais cuidadosa e, portanto, mais saudável. Cura e, portanto, reeducação.