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domingo, 15 de setembro de 2024

O ESPIRITISMO E O SONHO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 

A Ciência afirma que todos os mamíferos sonham. Desde Freud as mais diferentes teses são apresentadas para justificar e explicar essa experiência tão importante na vida das criaturas humanas. Na sequência reunimos alguns dos elementos oferecidos pelo Espiritismo para entendimento da questão.Das conclusões do Psiquiatra Freud (1900), expostas no livro A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS - às observações dos Neurocientistas sobre o sono chamado REM – Movimento Rápido dos Olhos (1953), muitas descobertas no campo da Fisiologia e da Mente foram consumadas. Respectivamente cinquenta e cem anos antes, o pesquisador Allan Kardec incluiu n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, originais e substanciais revelações sobre o tema sono. O que dizem elas? O sono natural é a suspensão momentânea da vida de relação. Entorpecimento dos sentidos durante o qual se interrompem as relações da alma com o mundo exterior por meio dos órgãos. (IPME) O sono liberta parcialmente a alma do corpo. Quando o homem dorme, momentaneamente se encontra no estado em que estará de maneira permanente após a morte. Por efeito do sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o Mundo dos Espíritos. Nisso que chamais sono só tens o repouso do corpo, porque o Espírito está em movimento. No sono, ele recobra um pouco de sua liberdade e se comunica com os que lhe são caros, seja neste ou em outros mundos. Mas como o corpo é de matéria pesada e grosseira, dificilmente conserva as impressões recebidas pelo Espírito, mesmo porque o Espírito não as percebeu pelos órgãos do corpo. (LE) No sono é só o corpo que repousa, o Espírito não dorme. As observações práticas provam que, nessas condições, o Espírito goza de toda a liberdade e da plenitude das suas faculdades; aproveita-se do repouso do corpo, dos momentos em que este lhe dispensa a presença, para agir separadamente e ir aonde quer. Durante a vida, qualquer que seja a distância a que se transporte, o Espírito fica sempre preso ao corpo por um cordão fluídico, que serve para atraí-lo, quando a sua presença se torna necessária. Só a morte rompe esse laço. (OQE,136) Os sonhos não são então mero efeito dos conflitos do inconsciente e consciente? Entre os sonhos uns há que têm um caráter de tal modo positivo que, racionalmente, não poderiam ser atribuídos apenas a um jogo da imaginação; tais são aqueles nos quais se adquire, ao despertar, a prova da realidade do que se viu, e em que absolutamente não se pensava. Os mais difíceis de explicar são os que nos apresentam imagens incoerentes, fantásticas, sem realidade aparente. As pessoas que se veem em sonho, são sempre aquelas das quais tem o aspecto? São, quase sempre, essas mesmas pessoas que vosso Espírito vai encontrar ou que veem vos encontrar. (LM, 4/100) Se sonhamos mais frequentemente com as que constituem nossas preocupações é que o pensamento é um veiculo de evocação e por ele chamamos a nos o Espírito dessa pessoas, quer estejam elas encarnadas ou não. (IPSME) As experiências vividas nos sonhos então não devem ser levadas a sério? Necessariamente incompleta e imperfeita é a visão espiritual nos Espíritos encarnados e, por conseguinte, sujeita a aberrações. Tendo por sede a própria alma, o estado desta há de influir nas percepções que aquela vista faculte. Segundo o grau de desenvolvimento, as circunstâncias e o estado moral do indivíduo, pode ela dar, quer durante o sono, quer no estado de vigília: 1º - a percepção de certos fatos materiais e reais, como o conhecimento de alguns que ocorram a grande distância, os detalhes descritivos de uma localidade, as causas de uma enfermidade e os remédios convenientes; 2º - a percepção de coisas igualmente reais do mundo espiritual, como a presença dos Espíritos; 3º - imagens fantásticas criadas pela imaginação, análogas às criações fluídicas do pensamento. Estas criações se acham sempre em relação com as disposições morais do Espírito que as gera. É assim que o pensamento de pessoas fortemente imbuídas de certas crenças religiosas e com elas preocupadas lhes apresenta o inferno, suas fornalhas, suas torturas e seus demônios, tais quais essas pessoas os imaginam. Às vezes, é toda uma epopeia. (G, 14:27/28)





Uma mãe, que não se identificou, refere-se aos modos agressivos com que as crianças de hoje, a partir dos 9 anos, tratam-se uns aos outros. Ela teme que, ensinando humildade ao seu filho, possa trazer-lhe problemas em relação aos colegas, que usam da força para constranger os mais humildes, o que poderia prejudicá-lo na formação da personalidade. Então, pergunta: até que ponto devo ensinar humildade ao meu filho?

A humildade é uma virtude nobre, senhora. Ela deve ser qualidade dos fortes e não dos fracos. Jesus a ensinou, porque é uma meta que o Espírito deve alcançar para atingir sua perfeição moral. No entanto, muito poucos a compreenderam, principalmente numa época em que a violência e o desmando predominavam no mundo. Até hoje, porém, embora admirando a coragem de Jesus, temos muita dificuldade de vivenciá-la em nosso dia, porque damos mais valor às vantagens materiais (estimuladora do orgulho) do que às virtudes do espírito.

Na sociedade em que vivemos a humildade é confundida com covardia e submissão. Mas não foi o que Jesus ensinou e tampouco o que ele viveu. Humildade pressupõe discernimento e coragem. Para ser humilde, como Jesus foi, era necessária muita coragem: coragem para encarar os inimigos sem pretender destruí-los e para contrariar os costumes vigentes, sem querer impor. Além de levar uma vida simples, sem pedir o aplauso dos homens, Jesus não forçava ninguém a segui-lo, mas simplesmente dizia: “Veja quem tem olhos de ver e ouça quem tem ouvidos de ouvir.”

A humildade numa pessoa, ao contrário da arrogância, faz com que ela compreenda não só os seus próprios limites, como compreenda mais ainda a limitação dos outros, como Jesus fez. Ser humilde não é submeter-se passivamente aos outros porque elas querem, mas submeter-se a uma causa em que acredita e que está acima das pessoas, o que é bem diferente. A causa é o ideal, é aquilo que consideramos certo, é aquilo que consideramos bom para nós e para todos. A causa de Jesus é o amor, ou seja, a fraternidade entre os homens.

Desse modo, agimos com humildade quando reconhecemos nossos próprios erros e não queremos prejudicar as pessoas; quando nos calamos diante de uma ofensa, porque entendemos que o revide seria prejudicial a todos, inclusive a nós mesmos; quando nos esforçamos por ser iguais a todo mundo, sem discriminar ninguém; quando nossa atitude é para auxiliar, ainda que soframos com isso. A humildade é a forma pela qual queremos ser apenas o que somos, sem levar vantagem em cima do sofrimento dos outros.

Ser humilde é mais do que isso, ser humilde é defender-se de si mesmo, como ensinou Jesus, pois é a forma mais adequada de conviver com as pessoas que nos rodeiam. Ele recomendou que, ao chegarmos a uma festa, tomemos os últimos lugares e não os primeiros, para evitar que sejamos obrigados depois a deixar os primeiros para ocupar os últimos em razão da chegada de convidados especiais. Aqueles que engrandecem serão rebaixados e os que se rebaixam seria elevados, disse o mestre.

Portanto, cara mãe, não devemos ensinar que nossos filhos apenas se submetam à vontade humana, mas que sempre submetam ao bem, à verdade e à justiça, porque isso é submissão à vontade de Deus. Isto é humildade no seu mais amplo sentido. Com certeza, em certos momentos da vida, eles terão que agir com determinação e firmeza, enquanto que noutras ocasiões, por força das circunstâncias, saberão como se colocar com compreensão e brandura diante da ignorância dos outros.

Contudo, cara mãe, não basta que apontemos o caminho para nossos filhos; é preciso que nós próprios, os pais, procuremos andar por esse mesmo caminho à frente deles, como fez Jesus diante dos discípulos, para servir de exemplo. Como não vamos acertar sempre, mas, ao contrário, como nós vamos errar algumas vezes diante deles, aproveitemos essas oportunidades para reconhecer esses erros e mostrar aos filhos que a humildade começa pelo reconhecimento de nossa própria imperfeição, mas com o imenso desejo de nos corrigir.




sábado, 14 de setembro de 2024

UMA VOZ INTIMA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Alcançada a fase em que a responsabilidade de viver é atingida pelo Espírito em seu processo evolutivo, a consciência pessoal passa a comandar o mecanismo da Lei de Ação e Reação no próprio indivíduo. Encarnado ou desencarnado, o Ser passa a experimentar com mais frequência sensação de arrependimento e remorso, buscando sua reabilitação perante si mesmo, por saber que a dor e o sofrimento experimentados são culpa sua. Chico Xavier, por sinal, afirmou que o remorso é uma das mais difíceias experiências vividas pelo Ser humano. Como se o relógio parasse dentro a gente. Allan Kardec no número de agosto de 1867, da REVISTA ESPÍRITA, reproduz e comenta interessante mensagem assinada Um Espírito ampliando nossa compreensão sobre o tema. Diz ele: -“Não é somente no Mundo Invisível que a visão da vítima vem atormentar o assassino para o forçar ao arrependimento; lá onde a justiça dos homens não começou a expiação, a Justiça Divina faz começar, à revelia de todos, o mais lento e o mais terrível dos suplícios, o mais temível castigo. Há certas pessoas que dizem que a punição infligida ao criminoso no Mundo dos Espíritos, e que consiste na visão contínua de seu crime, não pode ser muito eficaz, e que em nenhum caso não é esta punição que, por si só, determina o arrependimento. Dizem que um naturalmente perverso, como é um criminoso, não pode senão amargurar-se cada vez mais por essa visão, e assim se tornando pior. Os que assim falam não fazem ideia do que pode tornar-se um tal castigo; não sabem quanto é cruel esse espetáculo contínuo de uma ação que jamais se queria haver cometido. Certamente vemos alguns criminosos empedernidos, mas muitas vezes é só por orgulho e por quererem parecer mais fortes que a mão que os castiga; é para fazer crer que não se deixam abater pela visão de imagens vãs; mas essa falsa coragem não tem longa duração, pois logo os vemos fraquejar em presença desse suplício, que deve muito de seus efeitos à sua lentidão e persistência. Não há orgulho que possa resistir a esta ação, semelhante à da gota d’água sobre a rocha; por mais dura que possa ser a pedra, é inevitavelmente atacada, desagregada, reduzida a pó. É assim que o orgulho, que faz com que esses infelizes se obstinem contra seu soberano senhor, mais cedo ou mais tarde é abatido, e que o arrependimento, enfim, pode ter acesso à sua alma. Como sabem que a origem de seus sofrimentos está em sua falta, pedem para repará-la, a fim de trazer um abrandamento a seus males. Pondera Allan Kardec: --“Sem ir buscar aplicações do remorso nos grandes criminosos, que são exceções na sociedade, nós as encontramos nas mais corriqueiras circunstâncias da vida. É esse sentimento que leva todo indivíduo a afastar-se daqueles contra os quais sente que tem censuras a se fazer; em presença deles sente-se mal; se a falta não for conhecida, ele teme ser adivinhado; parece-lhe que um olhar pode penetrar o fundo de sua consciência; vê em toda palavra, em todo gesto uma alusão à sua pessoa, razão por que, desde que se sente desmascarado, retira-se. O ingrato também foge de seu benfeitor, já que sua visão é uma censura incessante, da qual em vão procura desembaraçar-se, pois uma voz íntima lhe grita no fundo da consciência que ele é culpado. Se o remorso já é um suplício na Terra, quão maior não será esse suplício no Mundo dos Espíritos, onde não é possível subtrair-se à vista daqueles a quem se ofendeu! Felizes os que, tendo reparado já nesta vida, poderão sem receio enfrentar todos os olhares no mundo onde nada é oculto. O remorso é uma consequência do desenvolvimento do senso moral; não existe onde o senso moral ainda se acha em estado latente. É por isto que os povos selvagens e bárbaros cometem sem remorsos as piores ações. Aquele, pois, que se pretendesse inacessível ao remorso, assimilar-se-ia ao bruto. À medida que o homem progride, o senso moral torna-se mais apurado; ofusca-se ao menor desvio do reto caminho. Daí o remorso, que é o primeiro passo para o retorno ao Bem”.



Maris de Carvalho colheu e nos trouxe a seguinte questão: “Diante do panorama político mundial em que nos encontramos hoje, com o terrorismo de um lado e experiências nucleares de outro, será que estamos próximos de uma guerra nuclear? E, se houver, o que será da humanidade?”

A questão que o Maris nos trouxe enseja algum comentário à luz do Espiritismo. N’O LIVRO DOS ESPÍRITOS encontramos o tema que tem relação direta com esta questão. Trata-se do questionamento que Kardec fez sobre a guerra, questões 742 a 745. Os Espíritos disseram que a guerra é uma manifestação instintiva do homem. Ela o reporta à sua fase animal, quando as diferenças são resolvidas mediante violência e morte. Por isso mesmo, a história da humanidade é praticamente uma história de guerras e conflitos de interesse.

Sempre houve guerras entre os diferentes grupos e nações, porque cada um lutava pelo seu próprio interesse, principalmente quando se tratava de interesses políticos e econômicos. O econômico se refere à disputa de riquezas e o político à luta pelo poder. Hoje, século XXI, depois da maior guerra da história nos meados do século passado, não podemos negar que houve um grande avanço para a conscientização geral pela busca da paz, mas assim mesmo permanecem alguns focos de conflito que, de vez em quando são acendidos, comprometendo a paz geral.

O mal é como uma doença insidiosa; é sempre difícil de extirpar. Precisamos reconhecer que não vai ser fácil acabar com a guerra no planeta, pois, de uma maneira geral, nós humanidade, ainda não percebemos que os interesses espirituais devem prevalecer sobre os interesses materiais. Explicando melhor: enquanto alguns países procuram dar mais conforto ao seu povo ( e até mesmo excesso de conforto), outros povos vivem na miséria e na ignorância. Ainda não conseguimos unir as nações em torno de um ideal superior para acabar com a pobreza e o analfabetismo na Terra.

Desse modo, ainda existem grandes diferenças sociais no mundo, diferenças que dão mais poder aos poderosos, os quais se mantêm cada vez mais distantes dos pequenos. Além disso, dentro de uma mesma nação existem dominadores e dominados. Tal situação, como sempre aconteceu, cria um estado de animosidade e de desconfiança cada vez maior entre as nações e dentro de cada nação, fomentando discórdias, alimentando a revolta e estimulando os conflitos. Segundo Jesus, Buda e outros grandes mestres da humanidade, não se alcança um estado de paz, sem a ação consciente do bem.

Logo, não sabemos o que está para acontecer em relação à paz mundial, mas sabemos que, enquanto o ser humano mantiver a mesma postura de egoísmo e orgulho, alimentando preconceitos e provocando diferenças significativas entre os homens, haverá perigo de guerra que, certamente, poderá ter consequências imprevisíveis. Certa vez, logo após a 2ª. Guerra Mundial, que deixou um saldo de mais de 60 milhões de mortos e muita destruição, perguntaram à Einstein (um dos maiores cientistas de todos os tempos), como seria a 3ª. Guerra, se viesse acontecer.

Einstein respondeu que sobre a 3ª. Guerra ele não tinha muito a dizer, mas a 4ª. Guerra - ele tinha certeza - seria a pauladas, referindo-se naturalmente ao fato de que um conflito nuclear, com as poderosíssimas armas de que o homem já podia dispor, destruiria quase que totalmente a humanidade e todo o seu patrimônio material, trazendo o homem novamente ao estado do homem primitivo, ou seja, fazendo com que a humanidade tivesse que começar tudo de novo.

A – É claro que não podemos ficar de braços cruzados. O homem de bem deve procurar se impor pela sua conduta, pela sua força moral, ocupando inclusive lideranças capazes de estimular os valores morais em favor da humanidade como um todo. Ainda há muita gente interessada na guerra e na divisão. Por isso mesmo é necessário que a população, de um modo geral, busque apoio nos políticos que já puderam dar bons exemplos tanto na vida pública e quanto na vida privada, a fim de que se façam legítimos representantes da sociedade.

Por outro lado, não podemos esquecer que a chamada “guerra fria” que antecedeu a fase atual e que colocava em confronto os interesses de duas grandes potências, os Estados Unidos e a União Soviética, começou na década de 1940 e veio até 1990, deixando o mundo todo numa expectativa de uma guerra nuclear eminente. No entanto, esta guerra não aconteceu, pois os entendimentos (bem ou mal resolvidos) aconteceram na área diplomática. Desse modo, esperamos que o mesmo se dê neste momento em relação às controvérsias que ainda vigoram no cenário político internacional.

Do ponto de vista espírita, cabe ao homem conduzir o planeta ao futuro e isso dependerá de seu discernimento e de sua habilidade. A esperança é que novas lideranças surjam no mundo para ajudá-lo na sustentação da paz. A verdade é que, infelizmente, por causa de nossa teimosia em permanecer apegados aos valores materiais, tenhamos que sofrer o impacto de grandes calamidades que poderão abater sobre o planeta, para nos despertar para os verdadeiros valores da vida.



quinta-feira, 12 de setembro de 2024

OS ESPÍRITOS DO SENHOR; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 

As - certamente angustiantes - horas que antecederam a prisão de Jesus resultante das tramas urdidas por inimigos, encarnados e desencarnados, segundo relatado no capítulo quatorze do Evangelho atribuído ao discípulo João, demonstram a dificuldade dos seguidores mais próximos em entender o real significado do que o líder e Mestre, estava tentando dizer. No versículo 26, porém ele afirma: -“Eu rogarei a Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de Verdade, que o mundo pode receber, porque não o vê nem conhece; mas vos o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós (...). Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”. Quase 20 séculos se passaram e, no prefácio de uma das obras básicas do Espiritismo – O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO -, Allan Kardec inseriu trecho de uma mensagem assinada pelo Espírito da Verdade – supostamente o próprio Jesus - dizendo: -Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, como um imenso exército que se movimenta ao receber a ordem de comando, espalham-se sobre toda a face da Terra. Semelhantes a estrelas cadentes, vem iluminar o caminho e abrir os olhos aos cegos. Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos”. Observa-se que no texto não fica explícita essa ação seja em nome do Espiritismo, restringindo-a, portanto. Embora o trabalho de observações e pesquisas de Kardec tenham se iniciado somente em 1854, mensagem de um Espírito identificado como Dr. Barry, inserida no capítulo dezoito do livro A GÊNESE revela que as ações dos Espíritos do Senhor, se iniciaram um século antes da Codificação dos princípios espíritas. Vários fatos confirmam que os chamados fenômenos de efeitos físicos, a princípio, e, intelectuais, na continuidade, já atraiam atenções na Europa e América do Norte. O livro JOANA D’ARC POR ELA MESMA, recebida pela médium Ermance Dufaux, quando ela contava apenas 14 anos, foi publicada em 1855, dois anos antes d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Concluída a tarefa de Kardec, teria se interrompido tal processo? A lógica e o bom senso dizem que não. Considerando a condição espiritual de encarnados e desencarnados, problemas culturais, interferências decorrentes do personalismo, após a desencarnação do professor Rivail que se ocultava no pseudônimo Allan Kardec, em todo planeta prosseguiu o trabalho dos Espíritos do Senhor, semeando as verdades ofuscadas pelas ambições humanas ao longo dos quase 20 séculos transcorridos desde a passagem de Jesus por nossa Dimensão. Se nos aprofundarmos no conhecimento sobre o surgimento de muitas obras e descobertas que influenciaram movimentos e inovações no pensamento da coletividade humana, constataremos que a ação da Espiritualidade fica evidenciada. A dinâmica, se deu através de AÇÕES OBJETIVAS (mediunidade ostensiva dos efeitos inteligentes e efeitos físicos) e de AÇÕES SUBJETIVAS (mediunidade oculta – inspiração - na literatura, artes, cultura, cinema, terapias psicológicas, novas propostas filosófico / religiosas). Inúmeras podem ser essas constatações, entendidas a partir de dois comentários presentes n’ O LIVRO DOS MÉDIUNS. No item 294: “Quando é chegado o tempo de uma descoberta, os Espíritos encarregados de dirigir-lhe a marcha procuram o homem capaz de conduzi-la a bom termo, e lhe inspiram as ideias necessárias, de maneira a deixar-lhe todo o mérito, porque, essas ideias, é preciso que as elabore e as execute. Ocorre o mesmo com todos os grandes trabalhos de inteligência humana”. E, no item 183: -“Artistas, sábios, literatos, são sem dúvida, Espíritos avançados, capazes por si mesmos de compreender e de conceber grandes coisas; ora, é precisamente por que são julgados capazes, que, os Espíritos que querem o cumprimento de certos trabalhos lhes sugerem as ideias necessárias, e é assim que, o mais frequentemente, são médiuns sem o saberem. Tem, no entanto, uma vaga intuição de uma assistência estranha, porque quem apela para a inspiração, não faz outra coisas senão uma evocação”. Apenas para citar alguns na categoria de subjetivas, destacamos três exemplos, por localidade e cronologia: 1- Paris (FR) – 1903 – Investigando o possível fenômeno de exteriorização da consciência em estado de transe, o engenheiro Albert de Rochas, depara-se com a regressão de memória a vidas passadas. 2 - Suécia – 1959 – Friedrich Juergenson capta pela primeira vez vozes de Espíritos desencarnados através de um gravador magnético enquanto tentava registrar o canto de pássaros. 3 - Colorado (EUA) – 1966 – Ian Stevenson, catedrático de Psiquiatria na Universidade da Virgínia, publica VINTE CASOS SUGESTIVOS DE REENCARNAÇÃO.




Esta questão foi enviada, algum tempo, pelo nosso ouvinte e colaborador, Antonio Cuco, e diz o seguinte: “É facultado a qualquer pessoa conhecer seu Espírito protetor ou apenas os Espíritos mais elevados, como Chico Xavier por exemplo, podem sabê-lo?”

O LIVRO DOS ESPÍRITOS, questões de 489 a 521, trata d0 tema “ anjos guardiães, Espíritos protetores, familiares ou simpáticos”. O protetor ou anjo da guarda é a entidade espiritual que assumiu compromisso para acompanhar seu protegido durante a encarnação, não como alguém que vai puxar o encarnado pela mão ou detê-lo quando estiver diante de um perigo, mas o de um conselheiro que, de maneira sutil e imperceptível, sem interferir no seu livre-arbítrio, procurará intui-lo para que siga o melhor caminho.

Dizem os instrutores espirituais que o protetor não é um Espírito puro ou perfeito, mas ele sempre se encontra numa condição superior à do protegido, para que tenha condições de ajuda-lo a tomar decisões com prudência e a agir com bom senso. Mas, também, ele não é um Espírito muito superior ao protegido pois, se a distância evolutiva entre eles for muito grande, não haverá condições de contato entre eles.

Na questão 504 d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS Allan Kardec pergunta: “Podemos sempre saber o nome do nosso Espírito protetor ou anjo guardião? Os instrutores respondem com outras perguntas: “Por que razão quereis saber sobre nomes que não existem para vós? Credes então que não haverá entre os Espíritos senão aqueles que conheceis?”

Mas Kardec continua: Então, “de que modo invocá-lo se não o conhecemos?” Resposta: “ Dai-lhe o nome que quiserdes ou de um Espírito superior pelo qual tendes simpatia ou veneração. Vosso Espírito protetor virá a esse apelo, porque todos os bons Espíritos são irmãos e se assistem entre si.”

Kardec ainda não se dá por satisfeito, e continua perguntando na questão seguinte: “Os Espíritos protetores, que tomam nomes conhecidos, são sempre realmente os das pessoas que usaram esses nomes?” Resposta: “Não, mas de Espíritos que lhe são simpáticos e que, frequentemente, vêm por sua ordem. Precisai de nomes? então eles tomam um nome que vos inspire confiança. Quando não podeis cumprir uma missão pessoalmente, enviais, vós mesmos, um outro que age em vosso nome”.

Por tais colocações, podemos tirar as seguintes conclusões: 1º) na grande maioria dos casos, não há nenhuma necessidade do protegido saber quem é seu protetor, muito menos conhecer seu nome, pois geralmente ele é um Espírito que o protegido não conheceu nesta existência; 2º) mesmo sem saber sua identidade ou seu nome, o protegido pode lhe dar um nome respeitável (como quiser), até mesmo o nome de algum Espírito superior a quem admire, pois isso pode lhe proporcionar mais confiança na proteção que recebe.

3º) Às vezes, por insistência do protegido, o protetor pode se identificar pelo nome de um Espírito respeitável, a quem seu protegido costuma recorrer na hora da necessidade; 4º) o protetor se identifica somente em caso de necessidade como, por exemplo, quando o protegido tem uma espinhosa missão a cumprir, vai passar por grandes problemas e sofrimento e, por isso, precisa de uma presença espiritual mais constante e com alguém que venha lhe inspirar admiração e confiança, como foi o caso de Chico Xavier. 

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

A ESCRAVIDÃO NO BRASIL E A LEI DE CAUSA E EFEITO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Foram 300 anos de exploração, violência, dores e amores que, certamente, gerou não só dívidas coletivas, mas também individuais para os pioneiros que ajudaram a construir a nação brasileira. Historiadores, por outro lado, consideram que o braço cativo foi o elemento propulsor da nossa economia. Caçados, aprisionados, transportados acorrentados em porões de navios infectos, vendidos em lotes ou individualmente como mercadoria a que se atribuía valor pela dentição ou massa muscular, tratados como animais capazes de gerar crias, castigados cruel e selvagemente, às vezes morriam em função das agressões físicas a que eram submetidos. Fêmeas, como eram tratadas, vítimas de estupros, tinham seus filhotes separados para venda, mal nasciam. Oriundos do Continente Africano estima-se chegassem ao Brasil em torno de 130 mil anualmente, procedentes de Luanda e Benguela, Congo, Guiné Moçambique. Entre seis e nove milhões em três séculos. Como sabemos, a interpretação da Lei de Causa e Efeito explica que além das transgressões cometidas pelo indivíduo, há aquelas que podem ser assumidas por uma família, uma nação, uma raça, ao conjunto de habitantes dos mundos, os quais formam individualidades coletivas.. A mediunidade em nossa Dimensão, tem contribuído para o reequilíbrio de muitas criaturas presas a fatos por elas gerados durante a referida época. Na incalculável legião de necessitados que o abordaram ao longo das décadas em que serviu ao próximo em nome do Espiritismo, Chico Xavier, se fez instrumento para que muitos casos dolorosos e enigmáticos pudessem ser avaliados sob a ótica de Lei de Causa e Efeito. Dentre os que ficaram registrados em livro, selecionamos alguns, que apresentaremos começando pelo Efeito, remontando a Causa. CASO 1 – EFEITO – Menino, 10 anos, mudo, conduzido pela mão pelo pai, acometido por convulsões intermitentes epilépticas. CAUSA – Ações em encarnação anterior, em que ele, senhor de escravos, se comprazia em exercitar sua crueldade na boca dos cativos, aplicando ferro em brasa na boca dos coitados. Os acessos que tem são provocados pelo aflorar das lembranças das surras e castigos impostos aos escravos. CASO 2 – EFEITO – Mulher, cujo corpo era acometido de estranha moléstia que lhe impunha constantes cirurgias pelo aparecimento nos tendões nervosos, vermes, provocando-lhe dores atrozes, até serem extraídos pelas operações. CAUSA - Em vida passada, rica fazendeira, ao perceber a atração de seu marido por escrava moça recem comprada, roída pelo ciúme, a enclausurou num dos quartos da Fazenda, em lugar ermo, deixando-a morrer de fome e sede. Localizado o quarto, dias depois, pelo mau cheiro exalado, aberta a porta, foi encontrado o corpo da bela escrava todo coberto de vermes. CASO 3 – EFEITO – Homem, braço direito deformado com uns babados de carne mole, arroxeada, esquisita, mais parecendo um açoite enrolado, cheio de nós. CAUSA – Ações praticadas em encarnação anterior em que na condição de capataz, açoitou uma infinidade de escravos, levando muitos ao desencarne, por sua impiedade. Na existência atual, traz no braço o que lhe está no Espírito, um eco dos açoites irados que deu, impondo sofrimentos indescritíveis nas suas vítimas, que experimentará com o endurecimento gradual dos tais babados que se converterão num câncer que o ajudará a se livrar da culpa que carrega.CASO 4 – EFEITO - Três moças tratadas nos trabalhos de desobsessão no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo (MG), uma das quais tinha o estranho hábito de mastigar vidros, o que deixava os anfitriões que as hospedavam em sua casa, assustados e preocupados. CAUSA – Tratamento impiedoso aplicado a escravos de sua propriedade em vida anterior. Como ”Sinhás” da fazenda, usavam a força e o poder através de cruéis capatazes. Uma delas, por motivo fútil, fez enterrar um escravo – o Espirito que se manifestava – deixando apenas a cabeça de fora, mandando a besuntassem com mel, a fim de atrair insetos, onde permaneceu sozinho, em intermináveis sofrimentos, até encontrar a morte. Nas horas finais, em desespero ele clamava: “- Sinhá! Se existe alma depois desta vida, eu vou me vingar”, convertendo-se a jura, atualmente, na forte obsessão que acometera as três jovens...


Minha dúvida é a seguinte: a pessoa que faz o bem deve ter mais proteção do que a pessoa que faz o mal. Pelo menos é o que a gente lê nas obras espíritas. Mas essa regra parece que não funciona na prática, porque vejo pessoas boas sofrerem muito e pessoas, que exploram os outros, serem bem sucedidas. Queria uma explicação. (Jorge Antonio)

Esta questão do Jorge foi bem formulada, mas do ponto de vista de quem considera que a vida é uma única e não existe outra, que nascemos, vivemos, morremos e vamos para o mundo espiritual com algum destino definitivo que Deus nos dá, sem precisar voltar à Terra. De fato, se assim consideramos a vida, do ponto de vista da unicidade da existência, não há sentido no fato de uma pessoa de bom caráter, de boa formação, bondosa e generosa, vir a sofrer. É uma conclusão lógica.

Porém, do ponto de vista espírita, a realidade é outra. Aliás, quem crê numa única vida aqui na Terra jamais explicaria a Justiça de Deus diante do fato de crianças que nascem na miséria ou doentes, que nascem limitadas e deficientes e assim ficam o resto de suas vidas, sendo muitas delas morrem muito cedo. Porque algumas morrem no ventre materno e nem chegam nem mesmo a nascer? Se são Espíritos, criados por Deus – e, portanto, se são igualmente filhos de Deus como nós ( não viveram antes e não têm pecados a expiar) - por que elas mereceriam tal sorte neste mundo, enquanto outras nascem belas e saudáveis, muitas vezes cercadas de toda atenção e carinho?

Com certeza, não há um sofrimento tão grande e tão comovente – e os pais que perderam filho criança podem atestar isso com mais conhecimento - quanto o de uma criancinha que só veio a esta vida para sofrer, pois os poucos dias que permaneceu na Terra foram apenas de agonia e dor. Se não aceitarmos a realidade da reencarnação e o fato de que nada nesta vida acontece por acaso – nem a agonia das crianças, nem o sofrimento de seus pais – não há como nos conformar de que Deus seja bom e sábio, amoroso e misericordioso, e nem mesmo que Ele seja justo, pois a justiça consiste em dar um tratamento igualitário a todos.

Allan Kardec, n’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, capítulo 5, cuidando especificamente deste tema, fala das causas atuais e das causas anteriores de nossas aflições, dando a entender, de uma maneira geral, que a maioria dos problemas que conhecemos nesta vida podem decorrer de nossa conduta na presente encarnação. Quando o sofrimento não puder ser explicado por fatos que ocorrem agora é porque eles provém de vidas anteriores. No entanto, uma coisa é certa: como todo efeito tem causa , os bons atos, as boas atitudes sempre concorrem para o nosso bem estar, enquanto os maus atos e atitudes, invariavelmente, vão nos causar sofrimento. Não é preciso ir longe para entender essa lei, pois temos visto e aprendido que a lei de causa e efeito está sempre presente no dia a dia de nossa vida

O fato de uma pessoa ser honesta, responsável e fraterna – por exemplo – concorre para que ela evite sofrimentos ou atenue os sofrimentos de que já vinha padecendo. Não sabemos, de antemão, o quanto uma pessoa de bem ainda tem para resgatar de seu passado, quantos problemas de vidas anteriores ainda não foram resolvidos, apesar de seu bons atos. Mas sabemos que, neste caso, essa pessoa está a caminho de sua libertação, pois a sua dívida pode ser grande e suas ações atuais funcionam como prestações com o que ela está procurando amortiza-la. Se o sofrimento não chegou ao fim, neste caso, é porque o problema ainda não foi resolvido. Podemos compará-la ao paciente, ainda em tratamento no hospital, mas que ainda não recebeu alta médica.

Além do mais, Jorge, devemos considerar, ainda, que o desconforto ou o sofrimento pelo qual uma pessoa está passando, principalmente se for uma pessoa de bem, pode não provir apenas de dívidas que contraiu no passado, mas de prova ou missão que escolheu, a fim de conseguir elevar-se espiritualmente. Os Espíritos, que reencarnam na Terra, não passam somente por expiações ( ou pagamento de dívidas morais), eles passam também por provas e missões. Geralmente, os missionários são Espíritos bons que escolheram suas missões, como sacrifícios pessoais, aos quais se entregam para contribuir com a humanidade.

André Luiz, com muita propriedade, através de inúmeros relatos de experiências dolorosas, ainda acrescenta a essas causas da dor o que ele chama de dor-evolução. O que seria dor-evolução? É o desconforto que todos passam para aprender ou para vencer etapas de seu desenvolvimento. Neste sentido, todos temos dor-evolução, porque a vida ensina e, quase sempre, aprendemos mais com as situações difíceis ou sofridas do que com os lances mais tranquilos. Aliás, os animais – que não conhecem provas e expiações, porque não têm vida moral – experimentam apenas a dor-evolução, que faz parte de sua jornada evolutiva.

Portanto, Jorge, na condição espiritual em que se encontra a humanidade, todos passamos por provas e expiações, por tarefas e missões, de modo que o sofrimento se manifesta em cada um, mas em cada um ele se manifesta de uma forma própria, peculiar, porque os bons – sejam quais forem os obstáculos que enfrentam – seguramente sofrem menos do que os que se revoltam, porque não conseguiram atingir um nível mais elevado de compreensão das leis da vida.

Quanto aos maus é a mesma coisa. Eles também sofrem e, para eles, o sofrimento moral é bem maior do que o dos bons, porque os bons não têm o que se lamentar de si. Desse modo, todos os maus sofrem, embora aqueles que se entregam à maldade, que praticam atos de violência no mundo da criminalidade, procuram disfarçar suas angústias e seus conflitos, para não parecerem fracos diante de todos.

Todos, porém, são filhos de Deus, Jorge, e contam com alguma proteção. Mas como Deus, na sua infinita sabedoria e bondade, nos respeita a todos igualmente, Ele espera que cada um de nós, ao longo de suas experiências reencarnatórias, vá descobrindo por si mesmo que o único caminho que leva à paz e à felicidade é o caminho do amor, para o qual, mais cedo ou mais tarde, todos se voltarão. O bom Pai jamais abandona seus filhos.



terça-feira, 10 de setembro de 2024

- O PSIQUIATRA E A OBSESSÃO ; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Jorge Andreia, psiquiatra inscreveu seu nome na História do Espiritismo no Brasil pela sua contribuição no entendimento da doença mental sob a ótica da reencarnação. Autor de mais de uma dezena de obras, via nos mais de cem anos em que esteve encarnado, muitas delas se perderem por terem sido entregues a editoras sem vocação para o trabalho de publicação e preservação desses materiais. Muitas delas hoje são encontradas nos chamados “sebos” e, muito poucas nesse prodigioso sistema chamado GOOGLE. Para termos uma ideia da lucidez do pensamento do grande estudioso, reproduzimos a seguir uma de seus textos falando sobre o grave problema da perturbação espiritual. Diz ele: - A obsessão, como processo negativo, possui estruturação bem definida, obedecendo a intermináveis graduações, com específica localização nas raízes do psiquismo. Todos sofremos influência, porém daremos respaldo e sintonia com aqueles com quem nos afinizamos. Se nos encontramos em posição espiritual sadia, consequência de nossas sadias atitudes, teremos gratificações de equilíbrio e do discernimento. Se nossa posição se afasta das posições positivas, onde a ética praticamente prepondera, sofreremos as influências dos campos negativos e, o que é mais importante, na intensidade que nos afastamos do bem, pelas conotações das raízes pretéritas que traduzirão o grau de envolvimento. Consideremos também, as atitudes pessoais do indivíduo, o seu momento evolutivo e a sua escolha no jogo do livre-arbítrio. Desse modo anote-se a importância dos fatores do meio e a elaborações psíquicas de superfície (zona física), que são absorvidas e influenciam a própria organização. De tudo isso, podemos compreender, que o processo obsessivo exige tempo, a fim de que haja fixação das negatividades nas raízes do espírito daquele que no desenvolver das atitudes pouco recomendáveis, abriu os campos da alma permitindo a sintonia. Sob as influências psíquicas negativas, alguns apresentam reações leves e de mais fácil remoção, outros tantos carregam por anos as suas inconsequências. Estes últimos somente diante das dores advindas do processo conseguem neutralizar, em tempo específico, as manifestações obsessivas. Os quadros de mais fácil remoção encontram suas raízes nas camadas periféricas do psiquismo; isto é, da faixa do períspirito até a zona do campo material geralmente são respostas reativas mais fracas, portanto, mais fracas foram as reações negativas. Os casos mais críticos, de duradouras reações e de difícil neutralização, permite asseverar que existem implantações negativas em plenas camadas espirituais, aquelas que são envolvidas pelo corpo ou campo mental, portanto, implantações nos alicerces do espírito. Implantações, habitualmente, representam muitos componentes sedimentados por várias reencarnações, isto é, ações maléficas foram desenvolvidas em várias vidas em muitas oportunidades, daí sua sedimentação nos arcanos da alma. Nesta conjuntura, é fácil avaliar que a implantação de um processo obsessivo será variável e proporcional a intensidade da ação. Quanto maior for o desenvolvimento de uma ação negativa de resposta refletida nas reações cármicas de toda ordem, tudo dentro de uma lei que se perde no infinito fenomênico de suas próprias reações. Por isso Kardec foi bem expressivo quando classificou as obsessões em três parâmetros: O primeiro, o mais leve, denominou obsessão simples, o segundo, como grau intermediário, a fascinação, e o mais avançado, subjugação ou possessão. Na obsessão simples, o indivíduo possui total capacidade de raciocínio, percebe as distonias, chega mesmo a classificar certas tendências como não sendo suas. Havendo interesse pessoal, ao lado de orientações e conselhos, o indivíduo reage com certa facilidade. O importante é que o agredido procure orientar-se dentro de uma ética sadia, onde o próprio comportamento possa refletir atos positivos na tela consciente. Nesta contingência a Doutrina Espírita torna-se valiosa por fornecer elementos que possibilitam conhecimento daquele que sofreu o pequeno desvio. Se as atitudes do ser passam a ser coerentes, ele mesmo consegue livrar-se das influências, e o que é mais importante, torna-se psicologicamente falando, mais maduro; é como se fosse vacinado pela distonia temporária. No segundo grau de obsessão, o processo de fascinação, apesar de o indivíduo raciocinar, ler e conhecer certas máximas qualitativas da vida, encontra-se com o bloco dos sentimentos fixados em determinadas ideias. O Ser somente enxerga o que lhe convém – a influência negativa em constante ação. Mesmo que possua alguns conhecimentos espiritistas ou mensagens de alerta, as suas ideias estão convergidas para uma única direção; esses indivíduos “flutuantes” jamais absorveram e muito menos procuram ter atitudes de vida coerente com a moral espírita, que é séria e sem pieguismos. Ficam flutuando na superficialidade, e somente enxergam as suas sugestões emocionais, que na maioria das vezes, não são próprias e sim absorvidas de sutis influências negativas. Todos os que carregam influências pretéritas e que não procuram corrigi-las, em útil movimentação de trabalho, podem ser colhidos nas malhas menos felizes das influenciações das irradiações espirituais em desalinho. Essas fixações se dariam na maioria das vezes por elogios desmedidos ou pela exaltação de conhecimentos inexistentes. Na absorção desses mananciais depreciativos haverá desencadeamento de autêntico processo de autofagia psicológica, pela sintonia com o elogio despropositado, ou pelas manifestações festivas de inexistentes valores, a fim de satisfazerem o próprio ego perante as efusões de mediocridade. Com isso os canais da alma ficam ligados às forças negativas e o envolvido passa a incorporar, definitivamente, a ideia ou grupo de ideias e a defendê-las, até com certa dose de insistência; essa condição pode dar nascimento às manifestações compulsivas, isto é, necessidade de realizar o impulso emocional em ação. Nesta segunda categoria colocamos, como típicas posições, o ciúme desmedido e o narcisismo. Este último campeia na nossa sociedade nas mais variadas manifestações, tanto no elemento masculino quanto feminino.


Dirce Afonso veio com a seguinte questão: “Por que se costuma dizer que quem não vem ao Espiritismo pelo amor, vem pela dor? Quer dizer que seremos obrigados a ser espíritas de um jeito ou de outro?

Se há uma doutrina espiritualista que não impõe nada a ninguém e, mais que isso, uma doutrina que defende o direito de cada um escolher sua própria religião e seguir seu próprio caminho, e que não quer que ninguém venha a ela a não ser por livre consentimento, essa doutrina é o Espiritismo. Portanto, Dirce, fica descartada essa possibilidade de alguém ser obrigado a ser espírita. Isso simplesmente não existe.

O Espiritismo não vai nem mesmo insistir para que alguém se torne espírita, pois não se trata de uma religião exclusivista ou salvacionista, não se considera a única detentora da verdade ou o único e exclusivo caminho para Deus. A Doutrina Espírita não se atribui a si mesma qualquer poder de salvar quem quer que seja, pois sabe que o destino de cada um não depende de cor religiosa ou de qualquer outra condição social, mas de sua conduta diante do próximo, de Deus e de si mesmo, conforme os ensinos de Jesus que estão muito claros nos evangelhos.

E mais ainda (E ISTO É IMPORTANTE DIZER), se alguém, que se diz espírita, quiser impor o Espiritismo a outra pessoa, não é em nome do Espiritismo que está cometendo esse grave erro. Ninguém, absolutamente ninguém, está autorizado a falar de forma autoritária ou impositiva em nome da Doutrina Espírita. A chave desta questão, caro ouvinte, está nas obras de Allan Kardec, especialmente n’0 LIVRO DOS ESPÍRITOS, capítulo Lei de Liberdade. Infelizmente muita gente não gosta de ler e, por isso mesmo, alimenta e divulga uma visão distorcida da doutrina.

Vir por amor ou pela dor” é uma expressão que usa – até mesmo no meio espírita - quando se quer referir a duas situações: “vir por amor” quando a pessoa mesma faz uma opção pelo bem, seja abraçando determinada religião, seja se comprometendo com alguma ação em benefício do próximo. A outra expressão, “vir pela dor” é quando a pessoa é compelida a assumir um compromisso do qual ela sempre se esquivou e continua se esquivando. Neste caso, ela o faz não por escolha, mas por premente necessidade.

No meio espírita, quando uma pessoa procura o centro para dirimir suas dúvidas sobre o significado da vida e, daí em diante, ela permanece nessa busca constante, lendo, assistindo palestras, estudante e praticando o bem, dizemos que essa pessoa veio por amor. Contudo se depois de ela relutar por muito tempo, só permanece no Espiritismo enquanto está passando por um grave problema, então dizemos que ela veio pela dor e não pelo amor.

Na curta missão de Jesus de apenas três anos, para que as pessoas se interessassem pelos seus ensinamentos, muitas vezes ele as atraía oferecendo alívio e possibilidades de cura para alívio de seus males. Poucas vieram por livre e espontânea vontade ou porque se interessaram pela sublimidade de sua doutrina. A maioria ainda não estava pronta para compreender a sua mensagem. No entanto, mesmo entre aquelas algumas vezes curadas ou aliviadas de seus sofrimentos, algumas permaneciam com ele como seus discípulos e outras, tão logo se viam libertadas de seus problemas, esqueciam Jesus.

No evangelho encontramos o caso dos dez leprosos, que foram curados após a intervenção de Jesus, mas logo que se viram beneficiados afastaram-se, permanecendo apenas um deles que veio agradecer e seguir o novo caminho. “Vir por amor” é uma opção dos poucos mais amadurecidos para querer compreender as leis da vida e se tornarem grandes diante de si mesmos. 






segunda-feira, 9 de setembro de 2024

POSSÍVEL EXPLICAÇÃO PARA O INCOMPREENSÍVEL; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 Embora o turbilhão de notícias sobre a violência tenha ocultado os fatos, a verdade é que a memória recente de quem se sentiu estarrecido diante dos acontecimentos ainda não apagou a suposta eliminação da própria família por um menino de 13 anos num dos bairros da capital paulista em 2013, ou a daquele outro de 10 anos que em São Caetano do Sul (SP), em 2011, após retornar do banheiro da escola, atirou na professora perante 25 colegas, saiu da sala e, numa escada próxima, suicidou. Como entender que duas criaturas nem bem saídas da infância sejam capazes de ações tão violentas contra pessoas que deveriam no mínimo respeitar? Teria sido a personalidade de sua existência atual tão mal formada a ponto de não revelarem sentimentos ou se perturbarem irracionalmente diante de situações que consideravam injustas e insuportáveis? Perguntas de resposta difícil até pela falta de dados realmente confiáveis do histórico recente dos personagens envolvidos. Admitida a reencarnação como um fato, teria o passado remoto algo a ver com desdobramentos tão surreais? Perpassando um dos volumes da coleção da REVISTA ESPÍRITA publicada por iniciativa e com recursos do próprio Allan Kardec no período 1858/1869, especificamente no numero de dezembro de 1859, encontra-se o Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas referente à sessão geral de 30 de setembro daquele ano, uma sexta feira. Entre os assuntos que ocuparam a pauta cumprida pelos presentes, informações a respeito de uma notícia veiculada por vários jornais de Paris, sobre o assassínio cometido por um menino de sete anos e meio, com premeditação e todas as circunstâncias agravantes. Segundo comentário de Allan Kardec, o fato provava que nesse menino o instinto assassino inato não pode ser desenvolvido nem pela educação, nem pelo meio em que se encontrava. Considera ele que isto não pode explicar-se senão por um estado anterior à existência atual. Buscou então ouvir o Espírito São Luiz, responsável pelas reuniões levadas a efeito naquele grupo que explicou o seguinte: -“O Espírito do menino está quase no início do período humano; não tem mais que duas encarnações na Terra; antes de sua existência atual pertencia às tribos mais atrasadas de ilhas espalhadas pelo Planeta. Quis nascer num mundo mais adiantado, na esperança de progresso”. A observação suscita uma reflexão interessante: vivia-se o décimo nono século da chamada Era Cristã e, pelo que revela a questão 1019 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS e o 18 da obra A GÊNESE, a Terra passava desde um século e meio antes por um ciclo de ajuste no tocante à população a ela ligada tendo em vista a elevação do orbe terreno na classificação explicada nas análises incluídas no capítulo 3 d’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO. Nelas, o Codificador dedica-se a interpretar o HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI, afirmação atribuída a Jesus por João no capítulo XIV, versículo 1, do seu Evangelho, arriscando uma classificação dos Mundos, situando a Terra na categoria dos de Expiações e Provas, aqueles em que o mal predomina pela condição evolutiva dos seres que nela habitam. E no caso do autor do crime, ele não tinha mais que duas encarnações no planeta terreno. Mais à frente, mensagem psicografada por Santo Agostinho afirma que “não são todos os Espíritos encarnados na Terra que se encontram em expiação, constituindo-se as raças que chamamos selvagens de Espíritos apenas saídos da infância, que estão, por assim dizer, educando-se e desenvolvendo-se ao contato de Espíritos mais avançados”. Quanto a esse enfoque num de seus esclarecedores textos, Kardec estabelece interessante comparação lembrando que aquele que renasce em nossa Dimensão em apenas dois dias de existência não tem noção clara da realidade que o cerca, percepção que somente alcançará após mais de uma década de desenvolvimento no corpo a que se ligou na nova reencarnação com que trabalha pelo seu progresso espiritual. Os Espíritos recém elevados à condição humana consomem em tese o mesmo tempo ou número de encarnações para começar a ter consciência de suas responsabilidades perante a Criação. Finalizando a consulta, Allan Kardec perguntou à São Luiz se a educação poderia modificar essa natureza, obtendo a seguinte resposta: -“É difícil, mas possível. Seria preciso tomar grandes precauções, cerca-lo de boas influências, desenvolver a sua razão, mas é de temer que se fizesse exatamente o contrário”.



Para onde vai o espírito do doente mental que matou as crianças em Janaúba, Minas Gerais? Mesmo sendo doente mental, ele vai responder diante de Deus?

Mesmo acometido de um transtorno mental, o indivíduo que comete um assassinato, sempre responde pelo mal em razão do sofrimento que causou. Primeiro, porque sua doença não veio do nada; devem ter havido antecedentes que causaram essa enfermidade e que podem estar ligados a comprometimentos do passado, desta ou de outras encarnações. Logo, seu ato já é consequência dos caminhos que trilhou. É o mesmo caso de uma pessoa que, embriagada, assume a direção de um veículo, e acaba causando vítimas, quando ela mesma não morre no acidente. Não podemos apenas justificar seu ato, pois ele aconteceu em decorrência de erros anteriores.

Em segundo lugar, devemos considerar que a agressividade do doente mental, nesse caso de Janaúba, também não veio nasceu do acaso. Por outro lado, Deus não poderia causar-lhe essa doença para matar crianças ou quem quer que fosse; a enfermidade mental deve decorrer da propensão do próprio Espírito à violência - no caso, à violência contra crianças, uma raiva reprimida, que eclodiu de forma destruidora e cruel. Em terceiro lugar, não podemos deixar de considerar a ação de Espíritos mal intencionados aos quais o incendiário estava ligado por afinidade de sentimentos.

Porém, do ponto de vista moral, nada justifica a violência, embora nas condições morais precárias em que ainda nos encontramos na Terra, às vezes a violência se torna inevitável. Foi o próprio Jesus quem disse: “É necessário que venha o escândalo; mas ai da pessoa por quem o escândalo vier”. Essa assertiva caberia nesse caso. Contudo, a tragédia nos abala profundamente como pessoas humanas e sensíveis que somos (imaginem as famílias dessas crianças!) , pois ainda não compreendemos por que um fato dessa natureza, muitas vezes, se torna indispensável à evolução dos Espíritos.

Nessa aparente contradição o que funciona mesmo é a Lei de Deus ou Lei Natural. Uma pessoa que não tem conhecimento espírita, diante de uma tragédia dessa dimensão, tem dificuldade de compreender por que Deus permitiria que crianças inocentes fossem sacrificadas por um homem fora de controle e vítima de um transtorno mental grave. Para onde vão essas crianças que não tiveram, sequer, tempo para tomar consciência do que é a vida e assumir seus próprios atos? E para onde vai o homem que nem tem como ser punido pela justiça humana?

No mundo espiritual, as vítimas sempre levam vantagem sobre seus algozes, e neste caso mais ainda, por serem crianças. Em situações como essas, elas são recolhidas por Espíritos encarregados de atender as crianças e são encaminhadas para tratamento. É claro que as crianças, de um modo geral, contam com uma proteção especial, principalmente quando são vítimas de tragédias. Elas terão chance de se refazer e, conforme a trajetória espiritual de cada uma, retomarão seus caminhos como Espíritos para futura encarnação.

Quanto ao autor da tragédia, o que virá depois depende do que como veio agindo longo de sua trajetória espiritual. Ao que tudo indica, ele deve ter algo ver no passado com as vítimas de hoje e, após tratamento devido, terá que se haver diante delas para ressarcir seus débitos morais. No cômputo geral, quanto mais sofrimento causa o Espírito, mais necessidade de encarnações ele tem e, geralmente, são experiências dolorosas.

Precisamos compreender, entretanto, que por maior o estrago que causamos, em prejuízo dos outros e em nosso próprio prejuízo, todos somos filhos de Deus e ninguém escapa da lei de evolução. O assassino de ontem pode ser o homem de bem de hoje, pois, todos somos passíveis de mudança e aperfeiçoamento moral, através das múltiplas experiências, mais ou menos sofridas, que as leis da vida nos impõem. Por isso, Jesus deixou claro que Deus ama todos os seus filhos e, como todos somos irmãos, devemos amar até mesmo os inimigos.


domingo, 8 de setembro de 2024

PARA ENTENDER A FILOSOFIA ESPÍRITA; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 

Autodidata, tinha 11 anos de idade quando, em Paris, Allan Kardec recebeu a encomenda dos primeiros exemplares impressos d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Residente em Tours, cidade a pouco mais de trezentos quilômetros da capital francesa, encontrou-se com a consoladora Doutrina, aos 18, conhecendo seu Codificador, aos 21, quando da visita do mesmo à cidade em que residia para proferir palestra para a qual foi convidado, em 1867. Viveria até os 81 anos, sendo que desde vinte anos antes, praticamente ficou cego, tendo sido secretariado no trabalho de seus escritos nessa fase, por uma admiradora chamada Claire Baumart, cuja convivência permitiu escrever o livro LÉON DENIS NA INTIMIDADE (clarim). Dentre os três grandes personagens da primeira hora do Espiritismo - o engenheiro Gabriel Dellane, o astrônomo Camille Flammarion -, ele, Léon Denis, preparado pela rudeza da própria vida na luta pela sobrevivência, certamente é o que melhor desenvolveu o aspecto filosófico da Doutrina. A leitura de seus livros transporta os que perpassam suas páginas para níveis vibratórios superiores. Quem leu O PROBLEMA DO SER, DO DESTINO E DA DOR, entende o que dizemos. Para demonstrar essas conjecturas, apreciemos um trecho do texto d’ O PORQUÊ DA VIDA: “O homem deve antes de tudo aprender a se conhecer a fim de clarear seu porvir. Para caminhar com passo firme, precisa saber para onde vai. É conformando seus atos com as leis superiores que o homem trabalhará eficazmente para a própria melhoria e do meio social. O importante é discernir essas leis, determinar os deveres que elas nos impõem, prever as consequências de suas ações. O dia em que estiver compenetrado da grandeza de sua função, o Ser humano poderá melhor se desapegar daquilo que o diminui e rebaixa; poderá se governar com sabedoria, preparar por seus esforços a união fecunda dos homens em uma grande família de irmãos. Mas estamos longe desse estado de coisas. Ainda que a Humanidade avance na via do progresso, pode-se dizer, entretanto, que a imensa maioria de seus membros caminha pela via comum, em meio à noite escura, ignorante de si mesma, nada compreendendo do propósito real da existência. Espessas trevas obscurecem a razão humana. (...) Por que é assim? Por que o homem desce fraco e desarmado na grande arena onde trava sem trégua, sem descanso, a eterna e gigantesca batalha? É porque este Globo, a Terra, está em um degrau inferior na escala dos mundos. Aqui residem em sua maior parte espíritos infantis, isto é, almas nascidas há pouco tempo para a razão. A matéria reina soberana em nosso mundo. Nos curva sob seu jugo, limita nossas faculdades, estanca nossos impulsos para o bem e nossas aspirações para o ideal. Além disso, para discernir o porquê da vida, para entrever a Lei Suprema que rege as almas e os mundos, é preciso saber se libertar dessas pesadas influências, desapegar-se das preocupações de ordem material, de todas essas coisas passageiras e cambiantes que encobrem nosso Espírito e que obscurecem nossos julgamentos. É nos elevando pelo pensamento acima dos horizontes da vida, fazendo abstração do tempo e do lugar, pairando, de alguma forma, acima dos detalhes da existência, que perceberemos a Verdade”.


Da ouvinte R.A.C. vem a seguinte questão. “Uma coisa que sempre me chamou a atenção na Bíblia é que Deus é homem e não mulher. Ele trata as mulheres com preconceito, desde o momento da criação, a Eva é inferior a Adão e os pecados que as mulheres cometem são sempre piores e elas recebem os maiores castigos. A mulher adultera era apedrejada, Jesus foi contra e isso está no evangelho, mas do homem adúltero ninguém falou. Pergunto: se Deus fosse mulher, não seria melhor para as mulheres e pior para os homens? “

Esta preocupação, que envolve a existência e natureza de Deus, nunca era levantada, porque a religião nunca permitiu. Mas ela tem crescido ultimamente. Uma onda de ateísmo vem ocorrendo nas últimas décadas com o avanço da ciência e da tecnologia. Estamos nos afastando cada vez mais da natureza e é a natureza, na sua originalidade, que nos aponta mais facilmente para a existência de Deus.

Allan Kardec afirma que, entre as tribos e nações mais antigas do mundo, nunca houve um povo ateu. As primeiras manifestações de religiosidade se deveu à ideia da vida depois da morte e isso veio acontecendo desde os tempos primitivos há centenas de milhares de anos. As primeiras ideias, que levaram à concepção de Deus, surgiram justamente da crença na sobrevivência da alma. De início, os espíritos dos mortos se transformavam em protetores e, depois em deuses.

Portanto, os deuses da antiguidade eram entidades espirituais que já teriam vivido na Terra e agora podiam manifestar sua imortalidade na condição de espíritos que podiam conhecer a morte. Nos povos antigos, esses deuses surgiram primeiramente no âmbito da família, depois da tribo, depois das cidades e das nações, passando de deuses familiares ou particulares para deuses nacionais. Nessa época, havia deuses e deusas, espíritos de homens e mulheres, adorados e venerados.

Mas, como nas sociedades antigas predominavam a força masculina, ou seja, o comando e a decisão de tudo eram conferido ao homem, prevaleceram, sem dúvida, o elemento masculino, de forma que os deuses maiores, mais poderosos, eram sempre homens. Era a realidade da época, pois as sociedades patriarcais (ou seja, aquelas que eram comandadas por homens) prevaleceram.

A história do povo hebreu ou judeu começa justamente com a figura de Abraão, cuja tribo era orientada por um deus chamado Iavé. Dessa tribo surgiu uma nação e esse deus se transformou num deus nacional, que se arvorou como único e verdadeiro e passou a comandar seu povo através de leis, ordens ou mandamentos. Logo, a origem da ideia de um Deus-homem surge necessariamente da predominância do poder masculino na sociedade antiga.

Jesus deu continuidade a essa ideia. No seu tempo e de acordo com a tradição, a crença e os costumes de seu povo, Deus precisava ser homem; do contrário, não seria reconhecido. A diferença entre Jesus e Moisés, no entanto, é que no tempo de Moisés Deus era concebido como um rei e, nos ensinos de Jesus – 1.3000 anos depois – ele passava a ser visto como um Pai, uma figura bem mais próxima do homem, qualquer que fosse sua condição social.

De lá para cá – ou seja, do tempo de Jesus ao nosso tempo, Deus continuou sendo concebido como homem em razão das características machistas da sociedade. Como podemos perceber, até nisso a mulher leva desvantagem em relação ao homem. No entanto, segundo o Espiritismo, é porque não temos como fazer uma ideia mais perfeita de Deus, pois, para concebê-lo na estreiteza de nossa inteligência, não conseguimos imaginá-lo diferente de um ser humano e, portanto, ainda precisamos lhe atribuir um sexo.

É o deus antropomórfico, cuja ideia nasceu nos textos do Gênese bíblico, quando diz que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Na concepção espírita, porém, apesar de nos sentirmos profundamente arraigados à concepção de um deus-homem, para darmos uma noção mais ampla e mais profunda da divindade, dizemos apenas que Deus é “a inteligência suprema causa primária de todas as coisas”.

Logo, o fato de ainda atribuirmos a Deus a condição de homem (sexo masculino), portanto, provém da antiguidade mais remota, mas se formos estudar mais a fundo o que podemos conceber como natureza divina, perceberemos que não pode existir sexo em Deus, pois o sexo é uma característica da condição humana, pois provém de sua natureza animal. Por esta linha de pensamento, não é difícil concluir que não foi bem o homem que foi criado a semelhança de Deus, mas bem o contrário: foi o homem que concebeu Deus à sua semelhança, até para justificar o seu poder.