Artista talentoso, personalidade exaltada, o florentino Benvenuto Cellini viveu 71 anos na sua encarnação no século XVI. Ao longo do tempo, inspirou com sua existência tumultuada vários escultores, pintores, compositores e literatos. Entre suas obras mais conhecidas está a Estatua em Bronze de Perseu segurando a cabeça da Medusa, exposta em Florença, sua cidade natal e a escultura O Crucifixo, em mármore. Aventureiro construiu uma biografia em que se incluem homicídios pelos quais teria sido responsável, e, inúmeros casos amorosos com varias de suas modelos. Escritor, publicou um TRATADO sobre OURIVESARIA, outro sobre ESCULTURA, além de um livro de memórias intitulado VITA, em que reconstitui sua existência. Nele, o relato de uma cena de feitiçaria e de endemoniação no Coliseu, em Roma, de que teria tomado parte. A prática teria sido executada por um sacerdote siciliano, de espírito muito fino, profundamente versado em letras gregas e latinas que conhecera numa estrada esquisita, e, que certa vez, lhe falara sobre suas atividades de necromancia, tema que sobre o qual sempre tivera a maior curiosidade. Convidado para uma dessas reuniões para qual o sacerdote trouxera perfumes preciosos, drogas fétidas e fogo, após uma abertura viu-se, levado pela mão, dentro de um círculo, com outras pessoas. O dirigente, entregando um talismã a um dos participantes, pôs-se a fazer conjurações durante mais de uma hora e meia, após o que o Coliseu encheu-se de legiões de Espíritos Infernais, sugeriu-lhe: -“Benvenuto, pede-lhes alguma coisa”. Respondi-lhes que desejava que eles me reunissem à siciliana Angélica, sua paixão do momento. Depois de diferentes relatos mais ou menos ligados ao precedente, Benvenuto conta como, passados 30 dias, prazo fixado pelos demônios, ele encontrou sua Angélica. Certamente motivado pela descrição de registro feita três séculos antes do surgimento do Espiritismo, Kardec, autorizado e ajudado pelo dirigente espiritual das reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, buscou ouvir o renomado artista, na reunião de 11 de março de 1859, conforme reproduzido na REVISTA ESPÍRITA, de abril de 1859. A entrevista de mais de trinta perguntas, revela o seguinte: 1- Lembrava-se da existência que passara na Terra entre 1500 e 1571 apesar de ter tido outras existências corporais em vários mundos. 2- Sentia-se muito satisfeito com a posição ocupada atualmente, que, embora não fosse um trono, o colocava sobre mármores. 3- Permanecera errante alguns anos, trabalhando em si mesmo. 4- Que voltara poucas vezes a Terra. 5- Que assistira várias vezes à história em que figurara, sentindo-se satisfeito como Cellini, mas, pouco como Espírito que pouco progredira. 6- Não tivera outras encarnações na Terra antes da conhecida, tendo outras ocupações muito diferentes das que aqui desenvolveu. 7- Que habitava atualmente um mundo desconhecido e não visível da Terra, do ponto de vista físico, marcado pela beleza plástica, dada a harmonia perfeita de todas as suas linhas, rodeado de perfumes que, aspirados, provocam o bem estar físico, satisfazendo as necessidades pouco numerosas a que estão sujeitos; e, do ponto de vista moral, a perfeição é menor, pois, ali ainda podem ver-se consciências perturbadas e Espíritos dedicados ao mal, não sendo a perfeição, mas, o caminho para ela. 8- Lá também trabalha com as artes. 9- Sobre a veracidade das cenas sobre necromancia descritas no seu livro, disse que o necromante era um charlatão, ele um romancista e Angélica sua amante. 10- Sobre a origem de seu sentimento para a arte, confirmou ser fruto de um desenvolvimento anterior, pois durante muito tempo fora atraído pela poesia e pela beleza da linguagem, prendendo-se na Terra à beleza da reprodução e, no mundo em que vivia, ocupava-se à beleza como invenção. 11- Quanto à sua habilidade como estrategista militar revelada na defesa do Castelo de Santo Ângelo a pedido do Papa Clemente VII, revelou que tinha talento e sabia aplica-lo, visto que em tudo é necessário discernimento, sobretudo na arte militar de então. 12- Solicitado a aconselhar aos artistas que buscam seguir suas pegadas, disse que, mais do que fazem e do que ele fez, que busquem a pureza verdadeira beleza. 13- Se poderia guiar um médium na execução de modelagens garantiu que sim, preferindo um com inclinações artísticas, merecendo esta resposta, a seguinte observação de Kardec: -“Prova a experiência que a aptidão de um médium para tal ou qual gênero de produção depende de flexibilidade que apresenta ao Espírito, abstração feita do seu talento (...). Entretanto, veem-se médiuns que fazem coisas admiráveis, apesar de lhes faltar noções sobre o que produzem, o que se explica por uma aptidão inata, devida, sem dúvida, a um desenvolvimento anterior ( em outra encarnação), do qual conservam apenas a intuição”.
Já li alguma coisa sobre o sofrimento no mundo espiritual e parece que os espíritas também têm um tipo de inferno, chamado umbral, para onde vão os Espíritos, que não foram bons na Terra. Qual a diferença desse inferno para o inferno de outras religiões? (Rose)
Na verdade, a concepção de inferno ou de sofrimento eterno, que faz parte do credo das religiões, não existe no Espiritismo. O que a doutrina ensina é que existe uma Lei de Causa e Efeito, segundo a qual toda ação gera uma reação , e é natural concluir que toda ação boa gera uma reação agradável e toda ação má gera uma reação desagradável. Mas essa lei vale em qualquer situação ou em qualquer condição que o Espírito se encontra, estando ele encarnado ou desencarnado.
Aqui na Terra mesmo, após cometermos um erro, passamos a suportar a conseqüência desse erro. Muitas vezes, essa conseqüência é imediata, como quando batemos o martelo no dedo ao invés de martelar o prego; de outras, a médio ou longo prazo – como, quando o homem sofremos na carne os abusos que cometeu na juventude. Entretanto, essa lei vale para toda espécie de erro e, portanto, também para os erros morais.
Quando as conseqüências são desagradáveis, vindo em forma de dor física ou moral, dizemos que há uma expiação. Assim, a expiação dos nossos erros pode ser experimentada ainda nesta vida ou depois da morte; outras podem ser experimentadas em encarnações futuras – cada caso é um caso. Quando o Espírito parte para o mundo espiritual, ele vai vivenciar, com muito mais profundidade, os problemas que não resolveu na Terra, principalmente suas culpas.
Nesse caso, é possível que ele passe a viver um verdadeiro inferno, pois não há sofrimento maior do que uma consciência culpada. Mas pode também sofrer assédio de inimigos, geralmente suas vítimas do passado. De qualquer forma, as experiências que o Espírito vivencia, depois da morte, depende de como ele viveu na Terra, o que semeou, a forma como tratou o semelhante. É possível que enfrente muitos problemas do outro lado da vida, que seja atormentado pelo remorso ou pela presença de Espíritos adversários, mas seu sofrimento, por mais longo que seja, não será eterno e, sim, proporcional ao erro que cometeu.
André Luiz, no livro NOSSO LAR, narra sua experiência numa zona espiritual bem próxima à Terra, que ele chamou de umbral, onde permaneceu por alguns anos, quando perdeu a noção de tempo. Mas, depois ele foi socorrido e levado para a colônia Nosso Lar, onde conheceu seu despertar para a espiritualidade e passou a integrar as equipes de trabalho de orientação e socorro a encarnados e desencarnados.
A palavra “umbral” quer dizer limiar ou entrada. Na visão de André Luiz é a região espiritual mais próxima da Terra. Muita gente pensa que todos nós temos de passar pelo umbral. Mas não é bem assim. Cada Espírito tem sua própria experiência após a morte, que depende de como viveu na Terra e, portanto, de seus próprios méritos. Nas mesmas obras de André Luiz – e, com isso, citamos E A VIDA CONTINUA – encontramos o caso de Ernesto e Evelina que não passaram por esse umbral. Após a desencarnação, foram recolhidos num hospital do plano espiritual, de tal forma parecido com os da Terra, que não se deram conta que haviam desencarnado. Para maiores detalhes, sugerimos à ouvinte que leia essa obra, muito interessante - E A VIDA CONTINUA, psicografada por Francisco Candido Xavier.
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