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quinta-feira, 7 de novembro de 2024

FORMANDO UMA BASE DE DADOS; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 O laboratório de pesquisas em que se transformou a Sociedade Espírita de Paris, no sentido de obter uma amostragem significativa de informações sobre as realidades encontradas por aqueles que retornam ao Mundo Espiritual após o transe da chamada morte, não se prendia às evocações de personalidades destacadas da comunidade intelectual da França ou outros países. Servindo-se de diferentes médiuns – o equivalente ao microscópio para a realidade dos invisíveis do plano material, segundo Allan Kardec -, o dirigente das reuniões atendia também a pedidos a ele enviados por pessoas das mais diferentes regiões ou condições sociais. A propósito, na edição de junho de 1861 da REVISTA ESPÍRITA ele comenta que “é um erro supor que não haja nada a ganhar nas palestras com os Espíritos de homens comuns e que homens ilustres sejam os únicos dos quais podem sair ensinos proveitosos. Entre eles certamente há os muito insignificantes, mas, por vezes, também, daqueles dos quais menos se espera, saem revelações de grande importância para o observador sério. Há, aliás, um ponto que nos interessa muitíssimo, porque nos toca mais de perto: a passagem, a transição da vida atual à vida futura, passagem tão temida, que só o Espiritismo nos faz encarar sem pavor, e que não podemos conhecer senão estudando as suas atualidades, isto é, nos que acabam de a transpor, quer sejam ilustres, que não”. Após tal observação, Kardec reproduz o resultado de uma dessas evocações, ocorrida na reunião de 16 de maio de 1861, do Marques de Saint-Paul, que fora membro da Sociedade, morto em 1860. Atendia solicitação de sua irmã que, embora médium, não se sentia suficientemente treinada e segura para fazê-lo.Informando que “tentaria responder do melhor modo possível”, o Espírito satisfazendo a curiosidade da irmã, explica ainda “sentir-se sob os efeitos da recente condição de errante, estado transitório que nunca traz felicidade nem o castigo absolutos”. Indagado se demorara para reconhecer-se na condição de desencarnado, disse “ter estado muito tempo em perturbação, da qual só saiu para agradecer a piedade dos que não o esqueciam e oravam por ele”, acrescentando “não ter condição de avaliar a duração dessa perturbação”. Revelou que os parentes que logo reconheceu foram “sua mãe e seu pai, que o receberam ao despertar, iniciando-o na nova vida”. Sobre o fato de, no fim da doença de que se via envolvido, parecer conversar com entes amados, explicou que isso se dera “porque, antes de morrer, teve a revelação do mundo que ia habitar, tornara-se vidente antes de morrer e seus olhos se velaram na passagem, na separação definitiva do corpo, porque os laços carnais ainda eram muito fortes”. A propósito, Kardec observa que “o fenômeno do antecipado desprendimento da alma é muito frequente; antes de morrer muitas pessoas entrevem o mundo dos Espíritos; é, sem dúvida, a fim de suavizar pela esperança o pesar de deixar a vida. Mas o Espírito acrescenta que seus olhos se velaram na passagem da separação. É um efeito que ocorre sempre. Nesse momento o Espírito perde a consciência de si mesmo, jamais testemunha o último suspiro do corpo e a separação se opera sem que a suspeite. As próprias convulsões da agonia são um efeito puramente físico, cuja sensação o Espírito quase nunca experimenta. Dizemos “quase”, porque pode acontecer que essas últimas dores lhe sejam infligidas como punição”. Confirma na sequência se lembrar de ter “revisto os anos jovens e puros da existência” que se encerrava –, detalhe observado por Kardec como, provavelmente, por um motivo providencial” -.Questionado sobre o porque nas referências a seu corpo, falava sempre na terceira pessoa, esclareceu que “o fato de ser vidente, como dissera, sentia nitidamente as diferenças existentes entre o físico e o espiritual. Essas diferenças, ligadas entre si pelo fluido da vida, tornam-se bem distintas aos olhos dos agonizantes videntes”. Kardec chama a atenção para essa particularidade apresentada pela morte desse senhor:-“ Nos seus últimos momentos dizia sempre: -“Ele tem sede”; “é preciso dar-lhe de beber”; “ele tem frio”; “é preciso aquecê-lo”; “ele sofre em tal parte”,etc. E quando lhe diziam: -“Mas sois vós que tendes sede, ele respondia: -“Não, é ele”. Aqui se desenham perfeitamente as duas existências; o EU pensante está no Espírito e não no corpo; já em parte despendido, o Espírito considerava seu corpo como uma outra individualidade, que, a bem dizer, não era ele. Era, pois, ao seu corpo que deviam dar de beber, e não a ele Espírito”. Finalizando, novamente perguntado sobre a ideia que passava de não estar feliz, ele elucida: -“Eu estou num estado transitório; as virtudes humanas aqui adquirem seu verdadeiro preço. Sem dúvida meu estado é mil vezes preferível ao da encarnação terrena”...


Minha avó foi uma pessoa muito franca e determinada. Ficou viúva cedo, trabalhou e lutou muito para criar os filhos. Não é perfeita, é claro, como ninguém é, mas conseguiu na vida o que muitos casais não conseguem. Agora, na fase final da vida, ela ficou doente e não consegue mais andar. Está revoltada com Deus e diz que não merecia isso. Não adianta falar em reencarnação, que ela não aceita, mas, para mim, não há outra explicação. Ela deve ter dívidas do passado. Vocês concordam comigo? O que posso fazer para ajudá-la? (Ouvinte anônima)

Concordamos com você em termos, cara ouvinte: a sua tese é de que, apesar de todas as coisas boas que sua avó fez nesta vida, a razão de seu sofrimento deve vir de outra existência. Não descartamos essa possibilidade. No entanto, acreditamos que, numa avaliação mais ponderada, deveríamos somar os erros do passado com os do presente, para chegar à situação de desconforto que ela chegou.

Você mesma afirmou que ninguém é perfeito. Logo, não é difícil concluir que muito do que sofremos nesta vida advêm de nossa imperfeição. Não seria diferente para sua querida avó. Erros ou excessos nesta mesma vida é o que não falta, e muito de nosso sofrimento advém deles. Por outro lado, há uma tendência generalizada de se atribuir todo sofrimento aos erros cometidos. Não é só isso.

Segundo os Espíritos orientadores – como Emmanuel e André Luiz, por exemplo - existem variadas causas para o sofrimento, mas talvez o que mais pesa é a nossa própria imperfeição, tanto as do corpo como as da alma. . Além disso, o sofrimento pode ter sido uma escolha ( no caso, é o que chamamos de prova), pode advir de uma necessidade imperiosa de desenvolver uma determinada virtude, a resignação ou a paciência, por exemplo. Se estivéssemos mais preparados para viver ( e principalmente para conviver), com certeza, sofreríamos bem menos.

Mas não estamos. André Luiz, estudando mais detalhadamente a questão, fala em dor-evolução e em dor-auxílio. A primeira faz parte do processo evolutivo do próprio espírito, que precisa aprender a superar certas situações. A dor auxílio é quando o Espírito pede certo tipo de sofrimento para evitar cometer certos erros ou abusos. Quase todo sofrimento, que experimentamos aqui na Terra, tem algum componente de dor-evolução e dor-auxílio ao mesmo tempo.

Contudo, cara ouvinte, não podemos esquecer que a maioria dos problemas da presente existência tem causa nesta mesma existência. O próprio Kardec, codificador do Espiritismo, foi advertido pelos seus Espíritos instrutores que a dureza de sua jornada lhe afetaria diretamente a a saúde e reduziria sua vida na Terra. No entanto, para Kardec, o ganho espiritual de sua luta valia muito mais do que ter apenas ter uma vida mais longa.

Devemos considerar, ainda, que a evolução individual se dá nas múltiplas facetas de nossa personalidade. Por exemplo: um Espírito reencarna para exercitar a honestidade, embora ainda deixe a desejar muito em matéria de convivência; ou seja, ele consegue ser honesto, mas ainda não é uma pessoa polida. Trata os outros com muita rispidez e até com agressividade. Por causa disso, acaba criando inimizades, o que repercute na sua saúde física e mental.

Outro exemplo: o Espírito reencarna para desenvolver a capacidade de trabalho ( e, neste aspecto, ele consegue alcançar seu objetivo), mas ainda se mostra muito negligente com relação à sua saúde, razão pela qual adquire uma doença muito cedo, que o faz sofrer a vida toda. Como você pode perceber, não podemos analisar uma vida, baseando-nos apenas num aspecto da personalidade – nem apenas num vício e nem apenas numa virtude.

No capítulo 5 d’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Kardec mostra as causas atuais e as causas anteriores das aflições, dando ênfase às causas atuais, que são as mais comuns. Se pensarmos que todo sofrimento vem do passado, cara ouvinte, acabamos negligenciando o presente, o único tempo em que podemos mudar alguma coisa em nosso destino. Logo, o nosso problema é o hoje, esquecendo-nos do ontem.

Se sua avó não aceita a reencarnação – pela vida que teve e pela experiência que já acumulou – não é agora que ela vai mudar de idéia. Fale a ela que Deus é bom e que os problemas da vida não decorrem do bem que fizemos, mas de erros inconscientes que cometemos; que tudo será melhor se ela se acalmar e aceitar os problemas como os desafios que Deus nos propõe para alcançarmos uma condição espiritual melhor – se não for nesta vida, será na outra. Ore por ela e, mais do que isso, ore com ela. Isso lhe fará bem.


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