Três anos após suas interessantes reflexões sobre o sexto sentido presente nas criaturas humanas ser o sentido espiritual, Allan Kardec voltaria ao assunto na edição de julho de 1867 da REVISTA ESPÍRITA. Atendia a questionamento de um médico chamado Charles Grégory, fervoroso adepto do Espiritismo que também oferecia sua opinião sobre artigo do editor da publicação incluído na edição de março passado intitulado A Homeopatia Nas Moléstias Morais. Grégory questionava Allan Kardec sobre intrigante informação do Espírito Erasto em comunicação mediúnica, afirmando ter o homem mais dois sentidos além dos cinco conhecidos (audição, visão, paladar, olfato e tato), chamando-os de sentido sonambúlico e o sentido mediúnico. O médico observa que “estes dois últimos não existem senão por exceção, bastante desenvolvidos nalgumas naturezas privilegiadas, caso existam em todo homem em estado rudimentar, acrescentando que, por convicção adquirida por várias observações e por uma experiência bastante longa dos poderes homeopáticos, as duas admiráveis faculdades poderiam se desenvolver através do uso de alguns medicamentos bem escolhidos, tomados por longo tempo”. Opina Kardec: -“Seria erro considerar o sonambulismo e a mediunidade como o produto de dois sentidos diferentes, por isso que não passam de dois efeitos resultantes de uma mesma causa. Essa dupla faculdade é um dos atributos da alma e tem por órgão o períspirito, cuja radiação transporta a percepção além dos limites da ação e dos sentidos materiais. A bem dizer é o sexto sentido, que é designado sob o nome de sentido espiritual. O sonambulismo e a mediunidade são duas variedades da atividade desse sentido que, como se sabe, apresentam inúmeras nuanças e constituem aptidões especiais. Fora destas duas faculdades, mais admiráveis porque mais aparentes, seria erro crer que o sentido espiritual não exista senão em estado rudimentar. Como os outros sentidos, é mais ou menos desenvolvido, mais ou menos sutil, conforme os indivíduos, mas todo o mundo o possui, e não é o que presta menos serviços, pela natureza todas especial das percepções das quais é a fonte. Longe de ser a regra, sua atrofia é a exceção, e pode ser considerada como uma enfermidade, assim como a ausência da vista e da audição. É por este sentido que recebemos os eflúvios fluídicos dos Espíritos, que nos inspiramos – independente da nossa vontade, em seus pressentimentos e a intuição das coisas futuras ou ausentes, que se exercem a fascinação, a ação magnética inconsciente e involuntária, a penetração dos pensamentos, etc. Essas percepções são dadas ao homem pela Providencia, assim como a visão, o olfato, a audição, o paladar e o tato, para a sua conservação. São fenômenos muito comuns, que ele apenas nota pelo hábito que tem de os experimentar, e dos quais se deu conta até hoje, devido à sua ignorância das leis do princípio espiritual, da própria negação, nalguns, da existência deste princípio. Mas, que quer que leve sua atenção para os efeitos que acabamos de citar, e sobre muitos outros da mesma natureza, reconhecerá quanto eles são frequentes e como são completamente independentes das sensações percebidas pelos órgãos do corpo. A vista espiritual (vidência), vulgarmente chamada dupla vista ou segunda vista, é um fenômeno menos raro que se pensa; muitas pessoas tem esta faculdade sem o suspeitar; apenas é mais ou menos acentuada, e é fácil certificar-se que ela é estranha aos órgãos da visão, pois que se exerce sem o concurso destes órgãos e mesmo os cegos a possuem. Existe em certas pessoas no mais perfeito estado normal, sem o menor traço aparente de sono nem de estado extático. Conhecemos em Paris uma senhora na qual ela é permanente, e, tão natural quanto a visão comum; ela vê sem esforço e sem concentração o caráter, os hábitos, os antecedentes de quem quer que aproxime; descreve as doenças e prescreve tratamentos eficazes com mais facilidade que muitos sonâmbulos comuns; basta pensar em uma pessoa ausente para que a veja e a designe. Um dia, estávamos na casa dela, e vimos passar na rua alguém com quem temos relações, e que ela jamais tinha visto. Sem ser provocada por qualquer pergunta, fez-lhe o mais exato retrato moral e nos deu a seu respeito conselhos muito prudentes. Entretanto essa senhora não é sonâmbula: fala do que vê, como falaria de qualquer outra coisa, sem se perturbar nas suas ocupações. É médium? Ela mesma nada sabe a respeito, porque até a pouco nem mesmo conhecia de nome o Espiritismo. Assim, nela essa faculdade é tão natural e tão espontânea quanto possível. Como percebe ela senão pelo sentido espiritual?”.
A Bíblia conta que os homens estavam construindo uma torre para chegar ao céu e, quando estavam quase chegando, Deus fez com que cada homem falasse uma língua diferente. Desse modo eles não puderam mais se entender e a torre ficou sem terminar. Isso tem algum fundamento para explicar porque existem tantas línguas no mundo? (Alzira Evaristo Ferreira , Vera Cruz).
Os povos primitivos ( isto é, os que viveram antes da civilização ou antes da escrita), tanto quanto os povos da antiguidade (já chamados civilizados, dos quais os hebreus faziam parte), precisavam buscar explicação para a vida, para o mundo, para todas as coisas e fatos. Não havia ciência na época e tudo quanto se podia aprender vinha da crendice ou do imaginário do povo, depois incorporado às religiões. O importante é que devia haver explicação que satisfizesse a todos.
Histórias como esta que você nos traz, Alzira - a chamada Torre de Babel - que encontramos no primeiro livro da Bíblia, passavam de boca em boca, de geração para geração, ultrapassavam as fronteiras e ganhavam o mundo. Eram formas bastante simples que, com imaginação e fantasia, explicavam as desigualdades dos grupos humanos, embora, hoje, nos pareçam ingênuas ou infantis. Eram os mitos ou lendas que, embora, não fossem realidade, acabavam transmitindo às gerações profundos ensinamentos morais.
O que vemos no texto do Gênese, quando relata o conhecido episódio da Torre de Babel, é um esforço da época para explicar por que existem tantos idiomas e tantos povos diferentes no mundo, já que o fato de existirem diferentes línguas se constituída num grande problema de comunicação entre os povos. Logo, entendia-se que isso decorria de uma maldição com que Deus decidiu impedir que o homem chegasse ao céu, ou seja, se igualasse a ele. Naquela época, acreditava-se que a Terra era plana e que essa abóbada azul durante o dia e negra durante a noite, que a encobre, era o céu ou morada de Deus.
E mais ainda, concebia-se que o ser humano devia manter-se na ignorância (quanto mais ignorante melhor) para que Deus conseguisse manter seu poder e seu domínio sobre ele, dirigindo todas as coisas. Uma pessoa que se dedicasse ao estudo da natureza, portanto, era considerada um profanador, que pretendia desvendar os segredos divinos, o que não era admissível para a religião. Logo, o embargo da construção da Torre de Babel simplesmente queria mostrar a providência, que Deus tomou, para deter o homem na sua caminhada ao conhecimento. Infelizmente, ainda hoje, há quem condene a ciência.
É claro que essa história de Babel atendia à infância da humanidade. A ciência, porém, através da Etnologia e da Linguística, vem mostrar que as línguas ou idiomas, tanto quanto as culturas de cada povo, vieram se formando gradualmente, ao longo de milhões dos anos, por um processo de busca natural da melhor forma de comunicação. Hoje, devemos ter mais de 7 mil línguas no mundo, cada uma delas resultado de um processo lento e trabalhoso, devido a fatores culturais, e que teve origem nas primeiras e mais rudimentares manifestações de linguagem, quando os seres humanos começaram a criar as primeiras palavras.
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