O Espiritismo detém o mérito não só de ter definido e explicado a mediunidade, mas, de ter revelado no lado Ocidental da Terra que todas as criaturas humanas são médiuns, o que as torna passíveis de sofrer influências do Mundo Espiritual, em maior ou menor intensidade. Apesar das tentativas de desenvolver classificações próprias da imensa variedade de sensitivos e paranormais, a Metapsíquica do médico do fisiologista Charles Richet e a Parapsicologia do pesquisador Joseph Banks Rhine, o trabalho de Allan Kardec continua válido e referência aos estudiosos, sobretudo através d’ O LIVRO DOS MÉDIUNS. O século XX, de forma mais exuberante no Brasil, expôs o trabalho de médiuns extraordinários em várias frentes de atuação da Espiritualidade, combatendo a acentuada evolução do materialismo, na verdade procurando evidenciar a realidade da sobrevivência após a morte do corpo físico. De forma ostensiva na poesia; na literatura; nas demonstrações propiciadas por Espíritos de célebres pintores; compositores clássicos; nas confortadoras manifestações de criaturas separadas de entes queridos de forma abrupta; nas impactantes cirurgias invasivas levadas a efeito em vários países latinos. Ignorante por vezes, mal intencionada outras, a imprensa associa muitos dos fenômenos dos diferentes tipos citados ao Espiritismo. Ocorre que a mediunidade é tão neutra quanto a inteligência. Tanto é médium o individuo moralmente equilibrado quanto o não. Em artigo reproduzido na REVISTA ESPIRITA de outubro de 1867, Allan Kardec tece interessantes comentários sobre aspecto observado em muitos casos impactantes no campo das curas, em que podemos incluir desde Arigó, no Brasil e Tony Agpoa, nas Filipinas, até os produzidos pela maioria dos médiuns da atualidade. Pergunta: -“Porque esta faculdade hoje se desenvolve quase que exclusivamente nos ignorantes, em vez de nos homens de ciência? Pela razão muito simples que, até agora, os homens de ciência a repelem. Quando a aceitarem, vê-la-ão desenvolver-se entre si, como entre os outros. Aquele que hoje a possuísse iria proclamá-la? Não: ocultá-la-ia com o maior cuidado. Desde que ela é inútil em suas mãos, porque lha dar? Seria o mesmo que dar um violão a um homem que não sabe ou não quer tocar. A este estado de coisas junta-se outro motivo capital. Dando aos ignorantes o dom de curar males que os sábios não podem curar, é para provar a estes que nem tudo sabem, e que há leis naturais além das que a ciência reconhece. Quanto maior a distância entre a ignorância e o saber, mais evidente é o fato. Quando se produz naquele que nada sabe, é uma prova certa de que ali em nada participou o saber humano. Mas como a ciência não pode ser um atributo da matéria, o conhecimento do mal e dos remédios por intuição, como a faculdade de vidência, só podem ser atributos do Espírito. Elas provam no homem a existência do Ser espiritual, dotado de percepções independentes dos órgãos corporais e, muitas vezes, de conhecimento adquiridos anteriormente, numa precedente existência. Esses fenômenos tem pois, ao mesmo tempo, a consequência de serem úteis à Humanidade, e de provar a existência do princípio espiritual”. Argumentos de Clélie Duplantier, uma das sóbrias entidades habitualmente presente nas reuniões da Sociedade Espírita de Paris, em mensagem psicografada pelo médium Sr Deliens, em 23 de fevereiro de 1867, merecem reflexão: -“Quanto àquele que é apenas médium, sendo instrumento, pode ser mais ou menos defeituoso, e os atos que se operam por seu intermédio de modo algum o impedem de ser imperfeito, egoísta, orgulhoso e fanático. Membro da grande família humana, ao mesmo título que a generalidade, participa de todas as suas fraquezas. Lembrai-vos destas palavras de Jesus: “Não são os que tem saúde que precisam de médico”. Então há que ver um sinal de bondade da Providência, nessas faculdades que se desenvolvem em meios e em pessoas imperfeitas. É um meio de lhes dar a fé que, mais cedo ou mais tarde, conduzirá ao Bem; se não for hoje, será amanhã; são sementes que não estão perdidas, porque vós, Espíritas sabeis que nada se perde para o Espírito. Se não é raro, em naturezas moral e fisicamente mais abruptas, encontrar faculdades transcendentes, isto se deve a que essas individualidades, tendo pouca ou nenhuma vontade pessoal, limitam-se a deixar agir a influência que as dirige. Poder-se-ia dizer que agem por instinto, ao passo que uma inteligência mais desenvolvida, querendo se dar conta da causa que a põe em movimento, por vezes colocar-se-ia em condições que não permitiriam uma realização tão fácil dos desígnios providenciais. Por mais bizarros e inexplicáveis que sejam os efeitos que se produzem aos vossos olhos, estudai-os atentamente”. Como se vê, Espiritismo, médiuns e fenômenos são coisas bem diferentes, competindo ao primeiro apenas facilitar a análise e interpretação do segundo e terceiro ou orientar seu exercício.
Numa reportagem sobre os flagelados de Santa Catarina,um homem chegou a chorar de emoção diante das câmeras de televisão, dizendo que Deus tinha salvado a sua família de morrer soterrada. Vendo isso, eu pergunto, se Deus é bom mesmo ( como dizem), por que ele não salvou as 120 pessoas que morreram nas enchentes e, mais ainda, porque ele deixou que essa enchente acontecesse? Será que aquelas pessoas mereciam castigo? Em que elas podem ser diferentes de outras que nada sofreram?
Sem a ideia da evolução - e, mais ainda, da reencarnação - prezado ouvinte, não há como explicar a Justiça Divina. Não dá nem mesmo para entender os rumos que tomam a nossa vida e o que acontece no dia-a-dia com os indivíduos e com as coletividades. Com certeza, se partirmos do pressuposto de que esta vida é a única que temos na Terra, realmente, não será possível explicar a bondade de Deus, pois – como você mesmo está apontando – não saberemos por que uns morreram e por que outros se salvaram nessa enchente do Sul e, mais ainda, por que essa população teve de enfrentar tamanha calamidade.
Vamos consultar O LIVRO DOS ESPÍRITOS, questão 964. Kardec pergunta: “ Deus tem necessidade de se ocupar de cada um de nossos atos para nos recompensar ou nos punir? A maioria desses atos não são insignificantes para ele? “ Resposta dos Espíritos: “ Deus tem suas leis que regulam todas as vossas ações. Se as violais, a falta é vossa. Sem dúvida, quando um homem comete um abuso, Deus não pronuncia um julgamento contra ele para lhe dizer: “Foste guloso; eu vou te punir”. Mas ele traçou um limite: as doenças e,frequentemente, a morte, são a consequência dos excessos: eis a punição. Ela é o resultado da infração à lei: assim em tudo.”
Esta questão mostra bem o posicionamento espírita a respeito de toda problemática humana. Na verdade, todos somos Espíritos em evolução, passando pelas mais diversas experiências a fim de progredir. O que comanda o mecanismo da evolução é a lei de causa e efeito, de modo que tudo o que nos acontece – seja agradável ou desagradável - deve ter uma causa anterior que, muitas vezes, desconhecemos. As pessoas, que perecem numa tragédia, não estão lá por acaso, como também não estão por acaso aquelas que escaparam da morte.
Deus não nos criou perfeitos, mas perfectíveis; ou seja, passíveis de chegarmos à perfeição. Esse caminho se chama aperfeiçoamento, que é o caminho que estamos trilhando. Durante esse caminhar, os Espíritos vão se diferenciando em experiências, adquirindo culpas e méritos, mas tendendo sempre a vencer obstáculos e superar dificuldades. Por isso, os destinos tão diversos e as circunstâncias da vida tão desiguais. Parece injustiça. Mas só é injustiça para quem vê apenas esta vida; quem consegue divisar o conjunto do caminhar evolutivo do Espírito, sabe que cada um ainda tem muito a caminhar e o fato desagradável de hoje serve-lhe para impulsionar a evolução.
Ademais, devemos considerar que a morte não é obstáculo para o Espírito, que sobrevive a ela. Para quem vê esta como vida única, a morte é um desastre total e irreparável; mas para quem está divisando a imortalidade, ela não passa de um fenômeno comum na vida do Espírito que, além de sobreviver a ela, ainda retornará para outras encarnações. Portanto, caro ouvinte, não há injustiça, tampouco parcialidade. Deus não castiga um e protege outro. Todos somos governados pelas leis da vida, que nos direcionam para uma condição cada vez melhor.
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