Quando da primeira das duas viagens feitas pelos médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira aos Estados Unidos e Europa em 1965 com finalidades de intercâmbio entre o Espiritismo brasileiro e o Espiritualismo de vários países, vários fatos curiosos ocorreram envolvendo os médiuns e os Espíritos que os acompanharam. Um deles, uma interessante entrevista com o pioneiro espírita Gabriel Dellane, efetuada pelo Espírito André Luiz no dia 20 de agosto de 1965, em Paris. Pela atualidade e oportunidade das respostas às 20 questões a ele formuladas, destacamos algumas para reflexão: 1- Considera que isso tenha atrasado a marcha do Espiritismo? - De modo algum. Legiões de companheiros da obra de Allan Kardec reencarnaram, não só na França, mas igualmente em outros países, notadamente no Brasil, para a sustentação do edifício kardequiano. 2- Admite que os princípios espíritas estão caminhando lentamente no mundo? - Não penso assim... As atividades espíritas contam pouco mais de um século e um século é período demasiado curto em assuntos do espírito. 3- Para que aspecto devemos, conduzir a pesquisa científica na Terra? - Devemos estimular os estudos em torno da matéria e da reencarnação, analisar o reino maravilhoso da mente e situar no exercício da mediunidade as obras da fraternidade, da orientação, do consolo e do alívio às múltiplas enfermidades das criaturas terrestres... 4- Que mais? - Velar pelas atividades que possam, na realidade, melhorar a individualidade por dentro... 5- Onde os percalços maiores para a expansão da doutrina Espírita? - Em nossa opinião, os maiores embaraços para o Espiritismo procedem da atuação daqueles que reencarnam, prometendo servi-lo, seja através da mediunidade direta ou da mediunidade indireta, no campo da inspiração e da inteligência, e se transviam nas seduções da esfera física, convertendo-se em médiuns autênticos das regiões inferiores, de vez que não negam as verdades do Espiritismo, mas estão prontos a ridiculariza-las, através de escritos sarcásticos ou da arte histriônica, junto dos quais encontramos as demonstrações fenomênicas improdutivas, as histórias fantásticas, o anedotário deprimente e os filmes de terror. 6- Como vê semelhantes deformações? 54 - Os milhões de Espíritos inferiores que cercam a Humanidade possuem seus médiuns. Impossível negar isso. 7- De que modo vencer no labirinto gigantesco em que opera a influência das sombras? - Educando... 8- Como? - Explicando-se, tanto nos sistemas religiosos do Ocidente, quanto nos do Oriente, que a pessoa humana em qualquer lugar e em qualquer tempo somente possui o que ela fez de si própria. 9-. Exprimindo-se, desse modo, refere-se à necessidade da divulgação da Doutrina Espírita? - Sim. 10- Mas, segundo o seu conceito, a divulgação terá de efetuar-se de pessoa a pessoa. Teremos entendido certo? - Sim, de pessoa a pessoa, de consciência a consciência. A verdade a ninguém atinge através da compulsão. A verdade para a alma é semelhante à alfabetização para o cérebro. Um sábio por mais sábio não consegue aprender a ler por nós. 11- Não considerará, porém, que esse processo é moroso demais para a Humanidade? - Uma obra-prima de arte exige, por vezes, existências para o artista que persegue a condição do gênio. Como acreditar que o esclarecimento ou o aprimoramento do espírito imortal se faça tão só por afirmações labiais de alguns dias?
Se Jesus Cristo sofreu tanto preconceito e foi assassinado de forma maldosa e cruel por seus inimigos, como se explica que sua doutrina se difundiu pelo mundo todo, a ponto de ser acolhida pelo Império Romano? (Eduardo)
O papel de Jesus, há dois mil anos, foi lançar as bases de uma doutrina totalmente voltada para o amor. Era, de fato, uma visão nova das questões fundamentais da vida. Jesus ensinava a imortalidade da alma, a crença num Deus de Justiça, Amor e Misericórdia (a quem chamou Pai) e, sobretudo, o amor ao próximo como a maior expressão da vontade do Pai. Esses conceitos não só contrariavam a tradição religiosa dos judeus, como colocavam Jesus em confronto com os principais de seu povo, que continuavam explorando a boa fé daquela gente.
Os romanos, que mantinham seu império sobre os hebreus por mais de 600 anos, não se imiscuíam em assuntos de religião. Respeitavam a crença dos povos dominados. Mas eles não admitiam nenhuma ingerência dos hebreus nos assuntos políticos, pois, para eles, o que interessava era manter o domínio e não questionar a validade de crença.
Jesus só foi preso e executado pelos romanos, porque foi vítima de uma manobra política engendrada por seus inimigos judeus, que o acusavam de liderar um movimento de resistência à dominação romana . A inscrição que se lia na cruz, “Jesus, rei dos judeus” mostrava que os romanos viam Jesus como uma ameaça política, um revolucionário, um rebelde, e queriam alertar o povo quanto ao castigo que era impingido àqueles que ousassem levantar-se conta Roma.
Podemos afirmar, sem medo de errar, que quatro foram os fatores que contribuíram para a rápida expansão do Cristianismo. Primeiro: o sentido altamente espiritual dos ensinos de Jesus. que servia para todos os povos e não apenas para o povo judeu. E segundo lugar, o fato de Jesus ter reaparecido depois da morte, no episódio conhecido por ressurreição e que, na verdade, era o atestado seguro da imortalidade da alma. Esse fato, que logo de propagou, trouxe de volta seus discípulos e muitos de seus seguidores, que haviam abandonado a causa por medo da violência dos romanos e por terem perdido a esperança em Jesus.
Terceiro: o fato de Jesus, mesmo após sua morte, ter escolhido Paulo de Tarso para liderar o movimento de difusão de sua doutrina, no famoso episódio da Estrada de Damasco, já que nenhum dos discípulos reunia condições para isso. E, por último, o ato político e oportunista do Imperador de Roma, Constantino, instituindo o Cristianismo como religião oficial do Império Romano. Constantino percebeu a facilidade com que as ideias de Jesus se espalhavam pelo mundo, o que certamente o ajudaria na salvação do Império que já se mostrava em decadência.
Por incrível que pareça, a política do imperador romano ajudou a proliferação dos cristãos, que antes eram perseguidos (lembrem-se dos cristãos que eram devorados pelos leões no circo de Roma) e, agora, infelizmente, eles passariam à condição de perseguidores, contrariando o principal ensinamento de Jesus. É que, a essa altura, os ensinos originais de Jesus já não chegavam com tanta pureza aos ouvidos do povo, de modo que foi preciso se apegarem na idéia de salvação da alma, que era bem mais simples para as pretensões do povo.
Quando falamos, aqui, em idéias originais de Jesus, estamos nos referindo ao mandamento maior: “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Com o tempo a religião, como uma sociedade humana e com interesses próprios, passou a ter finalidade em si mesma e se esqueceu das recomendações simples e clara de Jesus. Ao invés de divulgar a fraternidade entre homens, preferiu falar em salvação pela fé. Somente poucos cristãos no seio da própria Igreja, pessoas de ideal nobre e mais largo entendimento, resolveram seguir à risca os ensinos de Jesus e dedicar-se à pratica do bem.
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