“-Fui induzida a contemplar o que podemos chamar de aura da Terra. Meu guia exclamou: - Busca ver como a Humanidade se une pelo pensamento aos Planos Invisíveis. O teu golpe de vista abrangeu a paisagem, procure agora os detalhes. Fixando atentamente o quadro, notei que filamentos estranhos, em posição vertical, se entrelaçavam nas vastidões sem se confundirem. Não havia dois iguais e suas cores variavam do escuro ao claro mais brilhante. Alguns se apagavam, outros se acendiam em extraordinária sucessão e todos eram possuídos de movimento natural, sem uniformidade em suas particularidades. ‘-Esses filamentos – disse com bondade -, são os pensamentos emitidos pelas personalidades encarnadas. Esses raros que aí vês, e que se caracterizam pela sua alvura fulgurante, são os emitidos pela virtude e quando nos colocamos em imediata relação com uma dessas manifestações, que nos chegam dos Espíritos da Terra, o contato direto se verifica entre nós e a individualidade que nos interessa’. Aguçada minha curiosidade, quis entrar em relação com um pensamento luminoso que me seduzia, abandonando todos os outros, que nos circundavam, para só fixar a atenção sobre ele. Afigurou-se-me que os demais desapareciam, enquanto me envolvia nas irradiações simpáticas daquele traço de luz clara e brilhante. Ouvi comovedora prece, vendo igualmente uma figura de mulher ajoelhada e banhada em pranto. Num átimo de tempo, por intermédio de extraordinária interfluência de pensamentos, pude saber qual a razão das suas lágrimas, das suas preocupações e como eram amargos seus sofrimentos. Sensibilizada, instintivamente enviei-lhe pensamentos consoladores. Como se houvera pressentido, via-a meditar por instante com o olhar cheio de estranho brilho, levantando-se reconfortada para enfrentar a luta, sentindo grande alívio”. O curioso depoimento pertence ao Espírito Maria João de Deus que possibilitou a reencarnação a Chico Xavier, na condição de mãe, e que, em 1935, atendendo-lhe pedido começou a escrever CARTAS DE UMA MORTA (lake), concluído no ano seguinte. Pesquisando a prece, Allan Kardec, entrevistando os Espíritos que o auxiliaram a viabilizar a obra O LIVRO DOS ESPÍRITOS, obteve, entre outras, a informação na questão 662 que “pela prece aquele que ora, atrai os bons Espíritos que se associam ao Bem que deseja fazer”, comentando que “possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera corpórea”. N’ O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, Kardec escreveu que “a prece é uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o Ser a que nos dirigimos(...). As dirigidas a Deus são ouvidas pelo Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios(...). O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de transmissão do pensamento (...). Para se compreender o que ocorre nesse caso, é necessário imaginar todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no Fluido Universal que preenche o espaço, assim como na Terra estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é impulsionado pela vontade, pois é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do Fluido Universal se ampliam ao Infinito. Quando, pois, o pensamento se dirige para algum Ser, na Terra ou no Espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som. É assim que “a prece é ouvida pelos Espíritos, onde quer que eles se encontrem, que então nos transmitem suas inspirações”. Abordando o poder da prece diz que “está no pensamento, e não depende das palavras, do lugar, nem do momento em que é feita, podendo-se orar em qualquer lugar e a qualquer hora, a sós ou em conjunto”. Afirma que a “prece em comum tem ação mais poderosa”. Nas “reportagens” escritas através de Chico Xavier pelo Espírito conhecido como André Luiz, encontramos inúmeros ensinos a propósito da prece. No ENTRE A TERRA E O CÉU (feb), o Ministro Clarêncio afirma que a “prece, qualquer que ela seja, é ação provocando reação. Conforme sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo a finalidade a que se destina.”. André aprende existir a oração refratada, ou seja, aquela cujo impulso luminoso teve sua direção desviada, passando a outro objetivo”. Tal prece, no livro, fora formulada por adolescente órfã, 15 anos, rogando auxílio à mãe desencarnada, supondo que ela se encontrasse junto a Deus, quando na verdade, inconformada e atormentada, ela se mantinha na invisibilidade do próprio lar que deixara compulsoriamente pelo fenômeno da morte física. Mais à frente, ouve que “a oração é o meio mais seguro para obter-se a influência espiritual que se faz através do pensamento, no canal da intuição”, sendo ainda “o remédio eficaz de nossas moléstias íntimas”, abrindo um caminho de reajuste para o que ora.
Pergunta da Fátima Vilela, do Bairro Rebelo: “O Brasil todo se mobilizou para ajudar as vítimas das enchentes em Santa Catarina, mandando alimentos, água, roupas, remédios e outras coisas mais. Todos estão falando numa grande corrente de solidariedade por todo o país para ajudar os necessitados. Podemos dizer que isso também é caridade?”
Na questão 886 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, lemos: “Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?” Resposta: “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão da ofensas”. Veja como é amplo o conceito de caridade. Muita gente ainda acha que caridade é dar esmola. Mas, se a esmola rebaixa ao invés de elevar, denigre a imagem do homem ao invés de promovê-lo – não pode ser caridade, pois a caridade verdadeira é a manifestação do amor ao semelhante.
A caridade abrange, ao mesmo tempo, os dois aspectos: o aspecto material e o aspecto moral. O aspecto material está em proporcionar bens materiais a quem necessita, principalmente se for uma situação de emergência, que implica na preservação da vida. O aspecto moral da caridade, como o próprio nome indica, está na ajuda moral, no apoio, na solidariedade, na indulgência ( que é compreender os defeitos alheios) e no perdão (a expressão mais difícil da caridade), ou seja, em toda a nossa vida de relação com o próximo.
A solidariedade, como toda boa ação, faz parte da caridade, sim. No sentido estrito da palavra, ‘ser solidário’ é colocar-se ao lado, é dar apoio e dar proteção. Logo, o ato de dar alguma coisa a alguém provém de um sentimento solidário. Na definição espírita, é um ato de benevolência. Ser benevolente é fazer o bem a alguém ou a uma coletividade. É o mesmo que ser solidário. Portanto, a solidariedade, assim como a benevolência, pode se manifestar apenas como apoio moral, pode se manifestar através de serviços prestados (como aqueles que estão trabalhando para ajudar as famílias em Santa Catarina), ou pode se manifestar apenas através da doação material.
Essa manifestação de solidariedade em relação aos flagelados de Santa Catarina, diante do drama pelo qual aquelas populações estão passando, demonstra que o ser humano está cada vez mais sensível às necessidades e sofrimento do próximo. Embora o quadro de sofrimento do povo catarinense – de famílias que perderam entes queridos e todos os bens que possuíam – não podemos deixar de registrar o lado positivo da solidariedade, que está envolvendo todo o país, através das entidades, organizações e pessoas. Isso demonstra que ainda precisamos dessas situações para sermos sensibilizados e nos desprender um pouco de nós mesmos para ir ao encontro daqueles que necessitam mais.
Precisamos aproveitar esta oportunidade para parar e refletir sobre isso. Se soubermos valorizar o sofrimento alheio, conforme nos mostra a televisão, com certeza, vamos sofrer menos diante de nossas próprias dificuldades, e vamos desenvolver ações que nos dignificam moral e espiritualmente, satisfazendo a nossa necessidade de crescer interiormente. A vida tem esses dois lados: o do prazer e o da dor. O primeiro todos querem; o segundo, ninguém quer. Mas não podemos viver sem eles. E, se formos bem realistas, vamos perceber que a dor sempre nos ensina mais que o prazer. Quando tudo está bem e se a situação é confortável, facilmente esquecemos do próximo; mas quando percebemos que somos frágeis e necessitados, nos condoemos mais da necessidade alheia.
Precisamos que a solidariedade esteja mais presente em nossa vida. Não só em relação às catástrofes, que nos pegam de surpresa, mas em relação ao dia-a-dia de nossa vida, olhando para os lados e vendo o que podemos fazer para melhorar a vida daqueles que necessitam, colaborando para que a sociedade humana seja mais justa e não relegue ninguém ao abandono. Trabalhar pelo bem de todos é, sobretudo, trabalhar por nós mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário