-Lá mesmo, ante a visão do campo aberto, uma equipe de enfermeiros nos aguardava. Aquilo nos fez pensar em preparação. Agarradas comigo, as nossas filhas Patrícia e Beatriz me tomavam a alma toda. Gritos e lamentações surgiam, próximos de nós, no entanto, as ambulâncias que não conhecíamos nos recolhiam com pressa. Zélia, como que aparvalhada, buscava em meus olhos alguma força que também a mim faltava, de todo, naquela hora em que unicamente a ideia de Deus me dominava os pensamentos(...) Uma fogueira que nos despojasse do corpo, deliberadamente, não nos faria tanto pânico. Uma espécie de pânico mortal, se pudéssemos dizer que penetrávamos num domínio em que a morte existisse. Sentia-me exausta, com cérebro tangido por alucinações de pavor que não conseguira comunicar ao papel se o desejasse, me marcava todas as emoções, quando uma senhora de semblante simpático se abeirou de mim e notificou-me que o acidente imprevisível na Terra, fora anotado na Vida Espiritual antes de vir a ser e que ela estava junto de nós, com o fim de estender-nos mãos amigas”. Assim, através do médium Chico Xavier, a jovem senhora Laura Maria Machado Pinto narra em mensagem ao marido os dramáticos momentos que se seguiram à colisão seguida de incêndio do veículo em que se encontrava com as filhas, uma amiga e o pai desta, na enluarada noite de 22 de julho de 1982, na altura do quilometro 12 da Rodovia Cândido Portinari. Tal carta inserida no livro CONTINUIDADE (ideal), se soma a inúmeras outras das centenas de remetentes que se serviram de Chico para confirmar aos familiares sua sobrevivência e a presença do resgate espiritual no local do acidente. A visão que nos oferece o Espiritismo sobre as origens desses eventos comoventes, remete-nos sempre à Lei de Causa e Efeito. Não vivemos numa Dimensão de coincidências fatídicas, de casualidades, mas de causalidade. Numa outra carta, escrita perante numeroso público nas dependências do Grupo Espírita da Prece, na noite/madrugada de 15 de setembro de 1984, nove meses depois do acidente de que foi vitima fatal e sete após ter psicografado a primeira mensagem, inserida no livro GRATIDÃO E PAZ (ide), o jovem Luiz Roberto Estuqui Junior, de São José do Rio Preto (SP), comenta com os pais que seu tio Joãzinho (João Fausto Estuqui), desencarnado em 1976, em acidente aéreo na região de Votuporanga(SP), respondendo perquirições por ele feitas sobre o “por quê?” da interrupção de suas vidas tão precocemente, disse: “-Por amigos daqui, veio a saber que milhões de pessoas estão passando pela desencarnação no tempo áureo da existência, porque nos achamos numa fase de muitas mudanças na Terra. E aqueles Espíritos, retardatários em caminho, quando induzidos a considerar a extensão das próprias dívidas, aceitam a prova da desencarnação mais cedo do que o tempo razoável para a partida, e são atendidos com a separação de pais e afetos outros, no período em que mais desejariam continuar vivendo, em razão do tempo que perderam com frivolidades nas vidas que usufruíram. São muitos os companheiros que se retiraram da Terra, compulsoriamente, das comodidades em que repousavam, de modo a rematarem o resgate de certos débitos que os obrigavam a sofrer no âmago da própria consciência”. Evidente que nem todas as mortes violentas podem ser creditadas a esses compromissos. O Livre Arbitrio continua a produzir “culpados” a todo instante. Mas, em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, questão 738, respondendo a Kardec sobre a presença de inocentes nos flagelos destruidores, o Espírito da Verdade diz que “durante a vida, o homem relaciona tudo com o seu corpo, mas, depois da morte, ele pensa de outra forma e, como já o dissemos: a vida do corpo é pouca coisa. Um século do vosso mundo é um relâmpago na Eternidade (...). Os Espíritos, eis o mundo real, preexistentes e sobreviventes a tudo, são os filhos de Deus e o objeto de toda a sua solicitude; os corpos não são senão os trajes com os quais eles aparecem no mundo”, acrescentando, mais à frente: “-Se se considerasse a vida por aquilo que ela é, e o pouco que é com relação ao infinito, se atribuiria menos importância a isso. Essas vítimas encontrarão, em uma outra existência, uma larga compensação aos seus sofrimentos, se elas sabem suportá-los sem murmurar”, merecendo de Kardec a seguinte nota: “- Quer chegue a morte por uma flagelo ou por uma causa comum, não se pode escapar a ela quando soa a hora da partida: a única diferença é que com isso, no primeiro caso, parte um maior número de cada vez. Se pudéssemos nos elevar, pelo pensamento, de maneira a dominar a Humanidade e abrangê-la inteiramente; esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais que tempestades passageiras no destino do mundo”.
É verdade que os Espíritos só evoluem quando estão aqui na Terra e que, no mundo espiritual, eles não evoluem? Mas, como que um Espírito pode evoluir aqui, neste mundo, se ele está sempre cometendo erros e mais erros? Ele não vai ter mais débito do que crédito quando chegar à Espiritualidade? ( Mariane Luíza Felice)
De fato, no estágio evolutivo em que nos encontramos, é na Terra que temos a maior oportunidade de progresso individual e social. Mas você está vendo a evolução apenas sob o ponto de vista da moral. A evolução deve ser encarada como um processo muito complexo, pois cada Espírito não evolui só numa direção (como, por exemplo, moralidade), mas em múltiplas outras direções. A vida nos propicia uma imensa gama de oportunidades de vivência, de convivência, de ação – que nos permitem desenvolver em vários aspectos ao mesmo tempo.
Há Espíritos que desenvolvem mais o intelecto, outros a criatividade, outros a arte da convivência – a sociabilidade, outros a sensibilidade e a percepção – e assim por diante. Cada experiência de vida lhe dá oportunidade de se desenvolver em algum sentido, de tal forma que, mesmo aquele que aparentemente não cresceu, recebeu, de alguma forma, um impulso para o seu crescimento. Acontece que o processo evolutivo é lento e cheio de percalços. A natureza não tem pressa. A pressa é sempre nossa, pois quanto mais depressa chegarmos, menos vamos sofrer.
Os Espíritos, como nós, que ordinariamente reencarnam na Terra, precisam dessa experiência para se desenvolver, pois ainda estão muito materializados – podemos dizer assim. Nesta fase é que vão começar a manifestar suas tendências para o bem e isso depende de requisitos básicos ligados ao desenvolvimento da sensibilidade e da inteligência. O corpo é o meio para isso, pois ele se constitui no instrumento estimulador de suas potencialidades espirituais, ainda adormecidas.
Na condição de desencarnado, ele pode aprender muita coisa também, mas é um outro tipo de experiência que só vai completada com as encarnações. Para explicar melhor esta questão, podemos nos valer de uma comparação. Veja a semente, um potencial de recursos, contendo um programa de desenvolvimento. Mas, se não a introduzirmos no solo, em condições adequadas, ela não germina e, com certeza, não se transformará numa planta para produzir frutos. O mesmo se dá com o Espírito, que precisa ser estimulado pelas condições do meio físico para desenvolver.
Respondendo ao último item de sua pergunta, podemos dizer que o aperfeiçoamento do Espírito é um caminho cheio de obstáculos. Como ele é imperfeito, com certeza, vai errar muito. Mas, ainda assim, de suas experiências sempre resultarão saldos positivos em algum aspecto de seu desenvolvimento que precisa ser mais estimulado. Quando a pessoa atinge uma idade avançada na Terra, comumente acontece de ela olhar para trás e lamentar os erros cometidos. Essa experiência já pode demonstrar um saldo significativo no seu crescimento espiritual.
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