Lembrando a
primeira edição de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, o início do cumprimento
da promessa de Jesus no capítulo 14, versículo 26 do EVANGELHO DE
JOÃO, reunimos a seguir informações sobre o método utilizado pelo
Codificador do Espiritismo para validar o conteúdo da pioneira obra.
As informações são daquele que se ocultaria no pseudônimo Allan
Kardec, nome que utilizara em remota encarnação como sacerdote
Celta. Conta ele: Numa
das reuniões da Sra. Plainemaison, travei conhecimento com a família
Baudin, que residia então à rua Rochechouart. O Sr. Baudin me
convidou para assistir às sessões hebdomadárias que se realizavam
em sua casa e às quais me tornei desde logo muito assíduo. Eram
bastante numerosas essas reuniões; além dos frequentadores
habituais, admitiam-se todos os que solicitavam permissão para
assistir a elas. Os médiuns eram as duas senhoritas Baudin, que
escreviam numa ardósia com o auxílio de uma cesta, chamada
carrapeta e que se encontra descrita em O Livro dos Médiuns. Esse
processo, que exige o concurso de duas pessoas, exclui toda
possibilidade de intromissão das ideias do médium. Aí, tive ensejo
de ver comunicações contínuas e respostas a perguntas formuladas,
algumas vezes, até, a perguntas mentais, que acusavam, de modo
evidente, a intervenção de uma inteligência estranha. Eram
geralmente frívolos os assuntos tratados. Os assistentes se
ocupavam, principalmente, de coisas respeitantes à vida material, ao
futuro, numa palavra, de coisas que nada tinham de realmente sério;
a curiosidade e o divertimento eram os móveis capitais de todos.
Dava o nome de Zéfiro o Espírito que costumava manifestar-se, nome
perfeitamente acorde com o seu caráter e com o da reunião.
Entretanto, era muito bom e se dissera protetor da família. Se com
frequência fazia rir, também sabia, quando preciso, dar ponderados
conselhos e manejar, se ensejo se apresentava, o epigrama,
espirituoso e mordaz. Relacionamo-nos de pronto e ele me ofereceu
constantes provas de grande simpatia. Não era um Espírito muito
adiantado, porém, mais tarde, assistido por Espíritos superiores,
me auxiliou nos meus trabalhos. Depois, disse que tinha de reencarnar
e dele não mais ouvi falar. Foi nessas reuniões que comecei os meus
estudos sérios de Espiritismo, menos, ainda, por meio de revelações,
do que de observações. Apliquei
a essa nova ciência, como o fizera até então, o método
experimental; nunca elaborei teorias preconcebidas; observava
cuidadosamente, comparava, deduzia conseqüências; dos efeitos
procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento
lógico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão
quando resolvia todas as dificuldades da questão.
Foi assim procedi sempre em meus trabalhos anteriores, desde a idade
de 15 a 16 anos. Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração
que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema
tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da
Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida. Era,
em suma, toda uma revolução nas ideias e nas crenças; fazia-se
mister, portanto, andar com a maior circunspeção e não
levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar
iludir. Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações
foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens,
não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o
saber de que dispunham se circunscrevia ao grau, que haviam
alcançado, de adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor
de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade
me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos
e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que
fora dito por um ou alguns deles. O simples fato da comunicação com
os Espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava
a existência do mundo invisível ambiente.
Já era um ponto essencial, um imenso campo aberto às nossas
explorações, a chave de inúmeros fenômenos até então
inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era que aquela
comunicação permitia se conhecessem o estado desse mundo, seus
costumes, se assim nos podemos exprimir. Vi logo que cada Espírito,
em virtude da sua posição pessoal e de seus conhecimentos, me
desvendava uma face daquele mundo, do mesmo modo que se chega a
conhecer o estado de um país, interrogando habitantes seus de todas
as classes, não podendo um só, individualmente, informar-nos de
tudo. Compete ao observador formar o conjunto, por meio dos
documentos colhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e
comparados uns com outros. Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como
houvera feito com homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior,
meios de me informar e não reveladores predestinados. Tais as
disposições com que empreendi meus estudos e neles prossegui
sempre. Observar,
comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui.
Até ali, as sessões em casa do Sr. Baudin nenhum fim determinado
tinham tido. Tentei lá obter a resolução dos problemas que me
interessavam, do ponto de vista da Filosofia, da Psicologia e da
natureza do mundo invisível. Levava para cada sessão uma série de
questões preparadas e metodicamente dispostas. Eram sempre
respondidas com precisão, profundeza e lógica. A partir de então,
as sessões assumiram caráter muito diverso. Entre os assistentes
contavam-se pessoas sérias, que tomaram por elas vivo interesse e,
se me acontecia faltar, ficavam sem saberem o que fazer. As perguntas
fúteis haviam perdido, para a maioria, todo atrativo. Eu, a
princípio, cuidara apenas de instruir-me; mais tarde, quando vi que
aquilo constituía um todo e ganhava as proporções de uma doutrina,
tive a ideia de publicar os ensinos recebidos, para instrução de
toda a gente. Foram aquelas mesmas questões que, sucessivamente
desenvolvidas e completadas, constituíram a base de O LIVRO DOS
ESPÍRITOS. No ano seguinte, em 1856, frequentei ao mesmo tempo as
reuniões espíritas que se celebravam à rua Tiquetone, em casa do
Sr. Roustan e Srta. Japhet, sonâmbula. Eram sérias essas reuniões
e se realizavam com ordem. As comunicações eram transmitidas por
intermédio da Srta. Japhet, médium, com auxílio da cesta de bico.
Estava concluído, em grande parte, o meu trabalho e tinha as
proporções de um livro. Eu, porém, fazia questão de submetê-lo
ao exame de outros Espíritos, com o auxílio de diferentes médiuns.
Lembrei-me de fazer dele objeto de estudo nas reuniões do Sr.
Roustan. Ao cabo de algumas sessões, disseram os Espíritos que
preferiam revê-lo na intimidade e marcaram para tal efeito certos
dias nos quais eu trabalharia em particular com a Srta. Japhet, a fim
de fazê-lo com mais calma e também de evitar as indiscrições e os
comentários prematuros do público. Não me contentei, entretanto,
com essa verificação; os Espíritos assim mo haviam recomendado.
Tendo-me
as circunstâncias posto em relação com outros médiuns, sempre que
se apresentava ocasião eu a aproveitava para propor algumas das
questões que me pareciam mais espinhosas. Foi assim que mais de dez
médiuns prestaram concurso a esse trabalho. Da
comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas,
classificadas e muitas vezes retocadas no silêncio da meditação,
foi que elaborei a primeira edição de O Livro dos Espíritos,
entregue à publicidade em 18 de abril de 1857. Pelos fins desse
mesmo ano, as duas Srtas. Baudin se casaram; as reuniões cessaram e
a família se dispersou. Mas, então, já as minhas relações
começavam a dilatar-se e os Espíritos me multiplicaram os meios de
instrução, tendo em vista meus ulteriores trabalhos. INSTRUMENTO
“É pela mediunidade efetiva, consciente e facultativa, que se
chegou a constatar a existência do mundo invisível e, pela
diversidade das manifestações obtidas ou provocadas, que foi
possível esclarecer a qualidade dos seres que o compõem e o papel
que representam na natureza. O médium fez pelo mundo invisível o
mesmo que o microscópio pelo mundo dos infinitamente pequenos”.
CAMPO
DE PESQUISA
Reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, muitas das
quais resumidas ou relatadas nos números da REVISTA ESPÍRITA, bem
como contribuições de correspondentes em várias partes da França
e Europa que se mantinham em contato com Allan Kardec, dirimindo
dúvidas ou relatando experiências.
Gostaria de saber se os Espíritos podem nos indicar soluções para nossos problemas. ( Mariane)
A crença nos Espíritos, Mariane, remonta ao inicio da humanidade. Quando o homem descobriu que podia entrar em contato com os desencarnados, há milhares de anos, achou que eles eram deuses, que tinham poderes especiais, sobrenaturais, sobre-humanos e que, portanto, eram capazes de resolver problemas que nós, na condição de encarnados, não conseguimos resolver.
Na obra intitulada “Cidade Antiga”, do historiador Fustél de Collange, o autor relata que no período que antecedeu ao surgimento das cidades no mundo, quando o homem ainda vivia isolado e espalhado pelas mais diversas regiões do planeta – notadamente na Europa e na Ásia - ele já homenageava seus mortos, construindo túmulos e erguendo altares, passando assim a adorá-los como Espíritos Protetores. E foi daí que surgiram os deuses da antiguidade.
A crença do poder mágico dos Espíritos sempre existiu, por falta de conhecimento sobre a vida depois da morte. Na Grécia Antiga havia o famoso oráculo dos deuses, onde as pessoas iam consultá-los a cata de soluções miraculosas. Até hoje, procuram médiuns, gurus e videntes... A Doutrina Espírita, porém, veio desmistificar essa crença, mostrando que os desencarnados são Espíritos como nós. A diferença está apenas no fato de que eles já não têm corpo físico, e nós o temos. Mas eles são as almas dos que viveram na Terra, ao nosso lado, e, por isso mesmo, não têm poderes miraculosos, nem varinha de condão para solucionar de forma mágica nossos problemas. Acontece que eles também têm problemas.
Mas isso não quer que não devamos recorrer à ajuda dos Espíritos Benevolentes e Sábios, do mesmo modo que não devemos deixar de buscar a ajuda de amigos e profissionais especializados. O que os bons Espíritos podem fazer é nos aconselhar, como faz uma pessoa de boa vontade mais experiente, mas se eles podem nos ajudar em muitos casos, com certeza, não poderão resolver por nós os problemas que são nossos. A vantagem dos Espíritos é que, estando desencarnados, algumas vezes podem ter acesso a certas informações que nós não temos – mas dentro da limitação de cada um, é claro, porque entre eles há os bons e os maus, os honestos e os desonestos, os sérios e os brincalhões, os sábios e os ignorantes.
Na verdade, os Espíritos não fazem milagres, mas podem nos ajudar a fazê-los, quando seguimos os conselhos sábios de Espíritos benevolentes. Dizemos milagres, no sentido de nos levar a soluções de problemas que pareciam insolúveis. Contudo, uma coisa é certa: os bons Espíritos, nossos amigos e protetores, estão mais preocupados com a nossa melhoria moral do que com a simples solução de problemas, até por que, muitas vezes, o problema faz parte da solução que eles querem para nós.
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