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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

RECORDAÇÃO DE UMA VIDA ANTERIOR; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 A REVISTA ESPÍRITA de julho de 1860, incluiu em sua pauta uma matéria resultante de uma evocação havida na reunião da Sociedade Espírita de Paris, motivada por uma carta enviada à publicação por um dos assinantes que, por sua vez, questionava Allan Kardec sobre as informações de um amigo que lhe escrevera expressando sua opinião sobre sua convicção sobre “a presença ou não, junto à nós, das almas dos que amamos”. Para justificá-la, expõem: -“Por mais ridículos que pareça, direi que minha convicção sincera é a de ter sido assassinado durante os massacres de São Bartolomeu. Eu era muito criança quando tal lembrança veio ferir-me a imaginação. Mais tarde, quando li essa triste página de nossa História, pareceu que muitos detalhes me eram conhecidos, e ainda creio que se a velha Paris fosse reconstruída eu reconheceria essa velha aleia sombria onde, fugindo, senti o frio de três punhaladas dadas pelas costas. Há detalhes desta cena sangrenta em minha memória e jamais desapareceram. Porque tinha eu essa convicção antes de saber o que tinha sido o São Bartolomeu? Porque, lendo o relato desse massacre eu me perguntei: é sonho, esse sonho desagradável que tive em criança, cuja lembrança me ficou tão viva? Por que, quando quis consultar a memória, forçar o pensamento, fiquei como um pobre louco ao qual surge e que parece lutar para lhe descobrir a razão? Porque? Nada sei. Certo me achareis ridículo, mas nem por isso guardarei menos lembrança, a convicção. Se dissesse que tinha sete anos quando tive um sonho assim: Eu tinha vinte anos, era um rapaz bem posto, parece que rico. Vim bater-me em duelo e fui morto (...). Às vezes me parece que um clarão atravessa essa névoa e tenho a convicção de que a lembrança do passado se restabelece em minh’alma”. O missivista “reafirma sua certeza da ligação entre pessoas simpáticas, a despeito da distância e relata uma experiência ocorrida com ele nas imediações de Lima, no Peru, em que em determinada hora e dia, foi acometido de forte dor no peito, a mesma hora em um seu irmão, na França, teve um ataque de apoplexia que lhe comprometeu gravemente a vida”. Oficial da Marinha, constantemente viajando, o autor das experiências, teve seu anjo da guarda evocado na reunião daquele dia, oferecendo entre as respostas por ele dadas, ponderações interessantes: Primeiro, que o motivo de sua evocação “não se tratava de satisfazer uma vã curiosidade, mas de constatar, se possível, um fato interessante para a ciência espírita, o da recordação de sua vida anterior ; segundo que a lembrança de sua morte em vida anterior, não era uma ilusão mas uma intuição real; terceiro que embora essa lembranças sejam muito raras, se devem um pouco ao gênero de morte que de tal modo o impressionou que está, por assim dizer, gravado em sua alma; quarto que depois dessa morte no São Bartolomeu não teve outras existências; quinto que tinha 30 anos quando de sua morte; sexto, que era ligado à casa de Coligny; sétimo, ter ocorrido seu homicídio no cruzamento de Bucy; oitavo, que a casa onde morreu não existe mais; nono, que não era personagem conhecido na história por ter sido um simples soldado de nome Gaston Vincent e, finalmente, décimo, que o comunicante foi àquela época seu anjo da guarda e continuava a sê-lo”. Em observação sobre o caso, Kardec acrescenta:-“ Céticos, mais trocistas que sérios, poderiam dizer que o anjo da guarda o guardou mal e perguntar por que não desviou a mão que o feriu. Embora tal pergunta mereça apenas uma resposta, talvez algumas palavras sejam úteis. Para começar diremos que, se o morrer pertence à natureza humana, nenhum anjo da guarda tem o poder de opor-se ao curso das Leis da Natureza. Do contrário, razão não haveria para que não impedissem a morte natural, tanto quanto a acidental. Em segundo lugar, estando o momento e o gênero de morte no destino de cada um, é preciso que se cumpra


Faz pouco tempo, o papa admitiu a Teoria da Evolução, deixando claro que muita coisa, que está na Bíblia, não pode ser interpretada ao pé da letra. Isso mostra que a Igreja, aos poucos, vai admitindo aquilo que o Espiritismo sempre admitiu, porque o Espiritismo nunca se afastou da ciência. Será que as religiões todas, mais cedo ou mais tarde, vão chegar a admitir o que o Espiritismo admite. (Anônimo)


Conta Roberto Shiniashiki que, quando criança, morava em Santos e, certo dia, o pai o levou para conhecer o lugar onde poderiam contemplar toda a beleza da cidade. Disse-lhe o pai que seguiriam pelo melhor caminho. Mas, quando lá chegaram, Roberto observou que outras pessoas também ali chegavam, mas que chegavam por caminhos diferentes. Ele questionou o pai quanto ao melhor caminho, e este lhe respondeu: “Para nós, Roberto, o melhor caminho é o que viemos; para os outros, que vêm de outros pontos da cidade, o nosso não é o melhor caminho”. Diz ele que, desde então, compreendeu porque, na vida, as pessoas precisam seguir caminhos diferentes.


Seria muita pretensão nossa – falamos dos espíritas - considerar que somente nós estamos certos e que os outros estão errados. Aliás, pensar assim, seria contrariar um princípio da Doutrina Espírita que diz que ninguém é dono da verdade, e que todas as doutrinas, assim como todos os indivíduos estão em evolução ou em progresso em direção à verdade. As doutrinas religiosas são caminhos que levam o homem a Deus – ou seja, à felicidade. Aliás, todas elas admitem a existência de Deus e a imortalidade da alma, todas elas querem chegar lá.


A evolução é uma lei natural. Não há como contestá-la. Tudo no mundo está em constante mudança. A estabilidade das coisas, que julgamos ver pelos nossos olhos, não passa de aparência. E, nesse contexto universal de mudança, nós também estamos mudando: nós – pessoas, nós - doutrinas religiosas. Nenhuma religião, que atravessou séculos ou milênios de existência através da História, deixou de sofrer alguma mudança no seu longo e demorado percurso. A própria Bíblia – para quem é observador - ensina um conceito de Deus na época de Moisés, mas quando se chega ao fim, ao tempo de Jesus, a idéia de Deus é outra.


Logo, tudo muda. As idéias mudam. Nenhuma idéia, nenhuma concepção passa incólume pela vida. Ela vai sofrendo influências e tende a se transformar. Entretanto, existem dois grandes tipos de mudança: aquela que se dá vagarosamente, ao longo do tempo; e aquela que se dá repentinamente, bruscamente. A primeira é a mais comum e a que ocorre em nível individual e social, através de novas idéias que se infiltram pouco a pouco, como afirma Kardec. Uma religião, por exemplo, não poderia, de uma hora para outra, aceitar tudo o que antes rejeitava, sob pena de causar um grande impacto em seus fieis, deixando-os descompensados e confusos, posto que não estariam preparados para isso.


Entretanto, a diferença fundamental entre o Espiritismo e as religiões, é que o Espiritismo é uma doutrina moderna, que já surgiu em função das descobertas científicas, quando a ciência já tinha feito significativas conquistas. Por isso, seus princípios não podem se afastar do pensamento lógico e racional e daí por que tem mais facilidade de assimilar as novas verdades que vão sendo descobertas. As religiões antigas estão assentadas em idéias do passado, anteriores ao descobrimento das leis científicas e, portanto, elas são mais resistentes à mudança. Contudo, queiram ou não, elas estão sendo pressionadas pelas grandes mudanças de nosso tempo e, mais cedo ou mais tarde, terão de assimilá-las.


Certa vez, Kardec perguntou aos Espíritos se o homem poderia deter a evolução. E eles responderam, prontamente, que aquele que se opor à evolução será atropelado por ela. Pois, evolução não é invenção humana; é lei da natureza – e quem pode se opor à Lei da Natureza, que é Lei de Deus? Desse modo, todas as religiões acabarão por reconhecer a Teoria da Evolução, mais cedo ou mais tarde. E o próprio Espiritismo também está sujeito à Lei de Evolução e, por isso, não é estático; vai ter de acompanhar e se adequar a todas as mudanças que virão.


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